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Jovem Pan vive guerra ideológica nos bastidores e medo de debandada geral

Emissora passa por momentos difíceis de enfrentamento entre funcionários


Rodrigo Constantino e Piperno, da Jovem Pan
Jovem Pan enfrenta momento delicado - Foto: Montagem

A Jovem Pan vive seu pior momento nos bastidores desde que conseguiu autorização para ir ao ar como televisão. A emissora vê seus principais comentaristas em verdadeiro pé de guerra ideológica fora do ar. Se o clima nunca foi amistoso, agora a situação é praticamente irreversível e já vem sendo notada na frente das câmeras. Além das constantes brigas, o canal ainda passa por momentos de reformulação com risco de mudança editorial e debandada geral.

A recente briga envolvendo Paulo Figueiredo, que criticou publicamente uma reportagem sobre as eleições americanas, foi só o estopim de um clima que anda pesado. O comentarista faz parte do grupo radical de extrema-direita, que inclui outros nomes como Rodrigo Constantino e que vive um momento delicado nos bastidores após a perda de colegas como Augusto Nunes e Ana Paula Henkel.

A demissão de Augusto Nunes pegou muita gente de surpresa, a ponto de Ana Paula ter anunciado, dias depois, que havia se desligado da empresa em solidariedade ao colega. Desde então, o clima que já era delicado azedou de vez porque comentaristas ligados à extrema-direita se sentiram desprestigiado pelo proprietário, o Tutinha.

O NaTelinha já havia mostrado com exclusividade que alguns contratados ligados ao presidente Jair Bolsonaro (PL) faziam pressão com a direção pedindo a cabeça de colegas mais progressistas. Desde a publicação da reportagem a situação apenas piorou, segundo funcionários ouvidos.

Lulistas desafiam bolsonaristas na Jovem Pan

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Antes da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o terror que os funcionários extremistas praticavam não encontrava eco. Comentaristas ligados ao campo progressista tentavam não cair na pilha para evitar demissões ou mesmo perseguição nas redes sociais. Mas agora tudo mudou e ninguém mais fica em silêncio.

Um desses jornalistas conversou com a reportagem sob a condição de sigilo e explicou a história. Não é que a eleição tenha mudado a postura dos radicais. Ao NaTelinha, o jornalista disse que os grupos de WhatsApp estão em polvorosa, com direito a muitas reclamações, pressões e ofensas. Mas com o PT prestes a assumir o poder, profissionais progressistas se sentiram autorizados a responder e não aguentar provocação em silêncio.

Numa dos casos mais recentes, houve uma tentativa de intimidação e um extremista teria dito a um repórter que iria pedir a cabeça dele à direção por apoiar Lula. A ofensa não passou batida e, segundo depoimento à reportagem, o funcionário respondeu ameaçando o colega de processo por assédio. Além disso, ele lembrou que os bolsonaristas agora são oposição e minoria.

"Tutinha mudou"

A aspa é referente a uma frase dita em outro grupo de WhatsApp por um dos principais funcionários da Jovem Pan. Um dos mais seguidos nas redes sociais e considerado a voz de Bolsonaro na emissora, esse comentarista teria feito a afirmação a colegas também ligados à extrema-direita. A informação foi confirmada por três fontes que estão no mesmo grupo.

Uma dessas fontes confirmou que os extremistas têm reclamado do distanciamento de Tutinha, que parece não dar mais atenção para as demandas que eles apresentam. Nesta versão, o dono da empresa tem evitado responder mensagens quando é questionado sobre as mudanças na emissora e não aceita pressão de seus funcionários.

A informação corrobora com o que o presidente da Jovem Pan vem dizendo publicamente. Em reportagem publicada pela Folha no dia 02 de novembro, apenas três dias depois das eleições, Tutinha teria dito numa reunião interna que a desobediência civil "não sairia de seu bolso", dando indícios de que não aceitaria mais questionamentos aos resultados das urnas ou teorias conspiratórias.

Jovem Pan vive risco de debandada

Por conta da mudança de postura de Tutinha, os comentaristas de extrema-direita temem perder espaço. A reportagem ouviu de um jornalista que eles já teriam afirmado nos bastidores que não vão aceitar viverem os próximos quatro anos como os colegas progressistas passaram durante o governo de Bolsonaro.

Há o risco de debandada além de tudo. Nos bastidores muita gente acredita que a Jovem Pan caminha para dar um giro de 180 graus nos próximos meses e deve se livrar de outros comentaristas mais ligados a Bolsonaro. Até o momento, no entanto, não houve nenhuma orientação para mudança editorial e a empresa continua defendendo o presidente e atacando Lula.

Procurada pelo NaTelinha, a Jovem Pan encaminhou um editorial publicado em seu site e também lido na programação da TV, em que diz que não mudou sua linha editorial. O conteúdo pode ser visto aqui.

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