Exclusivo

Afiliada da Record demite jornalista que usou roupa vermelha

RicTV está sendo acusada de perseguir profissionais por questões políticas


Lula de vermelho e Bolsonaro de amarelo
Jornalistas não podem usar vermelho na RicTV, mas verde e amarelo está liberado - Foto: Montagem
Por Daniel César

Publicado em 14/09/2022 às 13:39,
atualizado em 14/09/2022 às 13:56

A RicTV, afiliada da Record no Paraná, está sendo acusada de ter demitido uma jornalista após a profissional trabalhar usando roupa vermelha. A apresentadora de um quadro foi comunicada da demissão na última terça-feira (13), pouco depois de sua participação no programa, que aconteceu na segunda (12), ter sido retirado de todas as redes do canal. O SindJor (Sindicato dos Jornalistas do Norte do Paraná) já havia denunciado a afiliada de ter proibido o uso de roupas com as cores vermelhas e bordô. O canal nega que a demissão ocorreu por motivos ideológicos.

O NaTelinha conversou com pessoas ligadas à emissora e recebeu a confirmação da demissão. Segundo a denúncia, que vem sendo investigada pelo Sindicato e pelo Ministério Público do Paraná, a jornalista sofreu perseguição política. O nome dela será mantido em sigilo a pedido da própria profissional para evitar perseguição nas redes sociais, já que ela está assustada com a situação.

De acordo com a versão contada na denúncia, a apresentadora faz parte de um grupo de amigos numa cidade do Paraná. Esse grupo teria se envolvido em uma polêmica com o deputado bolsonarista Filipe Barros. O próprio parlamentar usou a web para contar sua versão da confusão e informar que registrou boletim de ocorrência. O caso gerou repercussão por conta da briga ter tido direito até a agressões.

A reportagem ouviu que a apresentadora estava presente e foi filmada em momento de lazer pela equipe do deputado. Ele teria alegado que a profissional zombou das agressões sofridas por ele. A partir daí, a jornalista passou a sofrer perseguição em seus canais por parte de grupos ligados ao presidente Jair Bolsonaro (PL). A confusão teria acontecido na mesma segunda-feira.

Pouco depois, a funcionária teria apresentado seu quadro na RicTV vestindo vermelho. Nas redes sociais há diversas imagens dela em dias diferentes usando roupas vermelhas e de outras cores durante sua participação na TV.

Minutos depois, a responsável pelo figurino da empresa usou um grupo no WhatsApp para trazer novas orientações. "Recado urgente pela direção da emissora. A partir de hoje não podemos mais usar vermelho e nem bordô no ar. Até nova decisão seguimos com esse comunicado ok?", disse Andrea Gappmayer, responsável pela equipe de Stylist do canal. O NaTelinha teve acesso aos prints da conversa.

A orientação chegou a ser tratado em tom de zombaria. "Verde e amarelo pode?", questionou uma funcionária e Andrea voltou a se manifestar. "Mas a combinação de cores não fica elegante pra nossa imagem, então vamos deixar passar. Verdes em ton sur ton, super rola, e amarelos pontuais com branco ou marinho também pode ficar bonito. Mas amarelo e verde vamos deixar passar para a Copa".

Afiliada da Record demite jornalista que usou roupa vermelha

Afiliada da Record demite jornalista que usou roupa vermelha

Afiliada da Record demite jornalista que usou roupa vermelha

Jornalista foi demitida por usar vermelho

Horas depois da jornalista ter gravado sua participação em um programa usando vermelho, o quadro foi retirado do ar. Toda a participação dela na produção não consta no canal da RicTV no YouTube, especificamente nesta data. Segundo o Sindjor, a profissional foi chamada na tarde da última terça-feira na sala da direção e foi comunicada de sua demissão.

A apresentadora já acionou uma advogada e o próprio Sindicato se colocou à disposição para contribuir com o caso. O Ministério Público do Trabalho acompanha o caso após divulgar recomendação para coibir o assedio eleitoral contra trabalhadores no estado.

O que diz a RicTV

O NaTelinha entrou em contato com a RicTV, que confirmou a proibição das cores. Diferente do que o print comprova nas conversas entre a equipe de estilo da empresa e os jornalistas de todo o Paraná, a assessoria de comunicação informou que o verde e amarelo também foi proibido.

"A RICtv, uma empresa do Grupo Ric, esclarece que a diretriz informada a apresentadores e repórteres sobre dress code busca a neutralidade e tem como objetivo  não dar margem a narrativas paralelas, a fim de que o  foco sejam apenas as informações apuradas e checadas. Como ocorre em todas as coberturas eleitorais, todos os nossos repórteres e apresentadores receberam direcionamento para apresentar os blocos sobre a disputa eleitoral com roupas de dores neutras, como cinza e azul marinho, evitando looks completos em vermelho, bem como em verde e amarelo., diz a nota.

A empresa, no entanto, não explicou por que a responsável pela área de figurino disse o oposto aos funcionários. A RicTV também foi questionada sobre os motivos para a demissão da jornalista e recebeu a seguinte nota através da Diretoria Corporativa de Produto, Conteúdo e Convergência do Grupo Ric.

"A rescisão  do contrato da apresentadora nada tem a ver com eleição. Ela era da área do entretenimento. Ontem, inclusive, a apresentadora de Curitiba, a [para proteger a identidade da jornalista, o NaTelinha suprimiu o nome da jornalista], estava de rosa e vermelho. Mas tem relação com a reestruturação do horário do almoço em todas as emissoras  da RICtv (são 4: Curitiba, Oeste, Londrina e Maringá). O programa vinha tendo baixa performance de audiência e de faturamento, o que acabou antecipando as mudanças por lá. A rede vinha estudando abrir o sinal de Curitiba para a região, que agora recebe feita na capital. Isso se tornou possível com a saída do programa do jornalista que apresenta o programa. Isso elimina qualquer eventual confusão que pudesse haver, que tem identidade própria. Enfim, essa reestruturação vem sendo estudada há seis meses  e algumas mudanças começam a ocorrer. O projeto todo ainda está  em off por que faltam definições. Só para contextualizar, dá cobertura especial para A Fazenda, o que é estratégico no momento para o Grupo Ric e a Record, e também contribuiu para a mudança."

O NaTelinha suprimiu os nomes dos programas e de apresentadores da nota original para proteger a identidade da jornalista envolvida

Bolsonaro e as jornalistas

imagem-texto

A demissão da jornalista acontece no momento em que a campanha do presidente Jair Bolsonaro tenta reverter sua rejeição com as mulheres. Mas o próprio candidato já se envolveu em polêmicas com jornalistas mulheres. No debate da Band, ele chegou a atacar Vera Magalhães, após não ter gostado de uma pergunta.

Tudo começou no segundo bloco debate, promovido pela Band em parceria com a TV Cultura, Folha e UOL, quando Vera Magalhães foi convidada a fazer uma pergunta. Pelas regras, ela escolheria um candidato para responder e outro para comentar. A profissional convidou Ciro Gomes (PDT) para respondê-la, com comentários de Bolsonaro. Na questão, a jornalista criticou o presidente e o chamou de conivente com a pandemia da Covid-19 pela falta de compra das vacinas.

Assim que Ciro terminou de responder, a palavra foi passada para Bolsonaro, que estava furioso com a profissional. 

"Vera, acho que você dorme pensando em mim, você tem alguma paixão por mim."

Jair Bolsonaro

Dias depois, o candidato à reeleição se envolveu em outra polêmica, dessa vez com Amanda Klein, da Jovem Pan. que detalhou a reportagem do UOL e quis saber a origem do dinheiro. Ao falar do marido, a jornalista respondeu: "Minha vida particular não está em pauta aqui". "E a minha particular está em pauta por quê?", afirmou ele, ainda sem responder a pergunta.

"Porque o senhor é uma pessoa pública, o senhor é Presidente da República", argumentou ela. "Respeitosamente, essa acusação tua é leviana" lamentou Bolsonaro, que seguiu sem responder a pergunta, que insistiu em tentar colocar a vida pessoal dela no meio da sabatina.

"Se pegar os bens do seu marido... Eu vou pedir, Amanda, respeitosamente, uma certidão do seu marido, no fórum, se por ventura ele tenha casas, imóveis, e quero ver, na escritura, quando ele comprou, se está escrito moeda corrente ou não. E aí, Amanda, vai estar escrito moeda corrente? Você vai falar o quê?"

Jair Bolsonaro
NaTelinha no LinkedIn

Siga nossa página no LinkedIn e fique por dentro dos bastidores e do mercado da TV.

Mais Notícias

Enviar notícia por e-mail


Compartilhe com um amigo


Reportar erro


Descreva o problema encontrado