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Nos Tempos do Imperador é a prova viva de que novela precisa ser obra aberta

Trama fracassa no Ibope, na repercussão e não há como corrigir rota


Cena de Nos Tempos do Imperador com Pedro cabisbaixo
Novela Nos Tempos do Imperador é um estudo de causa - Foto: Reprodução/Globoplay

Nos Tempos do Imperador é muito mais que uma novela ruim. A trama escrita por Alessandro Marson e Thereza Falcão, com direção artística de Vinícius Coimbra, serve como análise conclusiva de que a telenovela, enquanto formato, só sobrevive como obra aberta. A produção que trouxe Selton Mello de volta não se sustenta de pé e a audiência fracassa porque existe a total impossibilidade de ajustar erros de rotas.

É bem verdade que a direção de dramaturgia da emissora, à época sob a batuta de Silvio de Abreu, deveria ter enxergado os nítidos problemas já na sinopse. O protagonista de Nos Tempos do Imperador é um personagem que não produz nada para a narrativa e é o típico mocinho que só reage aos acontecimentos, o que não instiga o telespectador há muito tempo - embora Selton esteja brilhante no papel. Além disso, a discussão também prejudica a narrativa porque se preocupa mais em debater temas do que contar uma boa história.

Nos Tempos do Imperador apresentou uma trama modorrenta praticamente desde o início e o triângulo amoroso fake envolvendo Pedro, Luísa (Mariana Ximenes) e Tereza (Letícia Sabatella) jamais poderia cair nas graças do público. Não há como ter qualquer envolvimento numa história falsa e todo mundo sabia que a narrativa não mudaria de lugar porque o imperador não trocaria a esposa pela amante e muito menos ela o abandonaria.

Alessandro e Thereza, aparentemente, sabiam disso e criaram outro grupo de protagonistas, vividos muito bem por Gabriela Medvedovski e Michel Gomes. Mas a trama acabou emperrada porque o vilão, interpretado por Alexandre Nero, acabou também invadindo a seara política e se transformou no Jair Bolsonaro da trama. A insistência em fazer paralelo entre o Brasil atual e o século XIX pode ter sido engraçadinho para quem é progressista, mas não serviu para nada, além de parecer um teatro estudantil.

Nos Tempos do Imperador é a prova viva de que novela precisa ser obra aberta

Todos esses erros transformaram Nos Tempos do Imperador em uma história sonolenta e sem nenhum apelo para ser acompanhada. Não à toa, a novela se transformou na pior audiência da história da faixa das 18h e acumula média de 16,9 pontos, já entrando em reta final ainda sobre com o assombro de números pífios. Mas nada disso estaria acontecendo não fosse por um fato: a produção é fechada.

A novela foi praticamente toda gravada antes de ir ao ar devido aos protocolos sanitários exigidos por causa da pandemia da Covid-19. Com isso, foi impossível fazer qualquer correção de trajeto conforme o público rejeitava determinadas tramas ou mesmo o ritmo da narrativa. Cabe ainda um adendo: o coronavírus jogou no colo de uma dupla de autores inexperientes a obrigação de escrever todos os capítulos sem assistir uma única cena.

Embora Nos Tempos do Imperador tenha sido um fracasso retumbante, não se pode ignorar os fatores de que é uma novela fechada nas mãos de quem está começando. Alessandro e Thereza já mostraram em Novo Mundo (2017) que são capazes de boas histórias e merecem mais atenção. Mas uma coisa é fato: novela não foi feita para ser fechada e não pode nunca ser pensada assim. 

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