Atuação da Semana: Em Dias Perfeitos, Jaffar Bambirra mostra que existe talentos fora do lugar comum
Jaffar Bambirra começa a se projetar como um nome promissor
Publicado em 31/08/2025 às 12:11
Na teledramaturgia mundial existe uma regra invisível que muitos notam, mas poucos contextualizam. A constante repetição de elenco. Quando um rosto ganha destaque, ele é utilizado à exaustão até que o artista decide se afastar do formato ou por outros motivos. Neste cenário é difícil que novos talentos surjam com personagens de peso e é por isso que Jaffar Bambirra parece ser a exceção que deveria mudar o conceito.
Em Dias Perfeitos, Jaffar vive Téo, uma espécie de protagonista torto (ou vilão mesmo, a depender da análise), cheio de nuances e de características quase desumanas, ao mesmo tempo em que é extremamente real. A criação, inspirada no livro de Raphael Montes (Beleza Fatal, 2024) é proposital e um convite ao talento.
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A série do Globoplay é realista ao ponto de ser dolorosa. Pelo simples fato de que somos transportados para uma obra de ficção que ativa no cérebro lembranças de tudo o que lemos sobre os inúmeros feminicídios que acontecem simultaneamente todos os dias no Brasil. Trata-se de uma produção dura de assistir, dolorosa, mas necessária.
Jaffar compôs um personagem com grande grau de humanidade em que não esconde as emoções. Não se trata de um psicopata calculista, como o vivido por Bruno Gagliasso em Dupla Identidade (2015), mas um homem que parece não aguentar mais tantas derrotas na vida até chegar ao ponto de explodir. As atrocidades ganham veracidade justamente porque todos esperam dele alguma atitude com grande carga emocional.
O personagem, aliás, só funciona porque o ator compreendeu as camadas do texto. Não era possível dar outra composição que não fosse visceral. Mas não bastava caras e bocas, era necessária uma voz própria de um perdedor pronto para virar o jogo a seu modo. O algoz que não tem nenhuma segurança de si mesmo, mas age por impulso. Tudo isso foi carregado nas tintas por um artista que mediu a voltagem de cada cena para não entrar na caricatura e também não fugir da expressividade.
Jaffar vai muito bem como Téo. Seu papel, no entanto, é raro e deveria levar à reflexão. O ator ganhou relevância em Mania de Você (2022), dando vida a um coadjuvante que funcionava basicamente como capacho do mocinho, vivido por Chay Suede. A química dos atores elevou o personagem a um nível de aparecer em quase todas as sequências principais da história.
Agora, ele é protagonista e consegue conduzir a narrativa. Esta é a prova de que não é preciso sempre os mesmos nomes para todos os tipos de papéis e a descoberta de novos rostos é fundamental para oferecer um respiro cênico ao telespectador.