Atuação da Semana: A delicada construção de Juan Paiva em Dona de Mim
Juan Paiva deu um tom quase soturno e cheio de sensibilidade ao mocinho de Dona de Mim
Publicado em 07/09/2025 às 13:50,
atualizado em 07/09/2025 às 13:50
Existem diversos caminhos na construção de um mocinho de novela, algumas mais arriscadas que outras e só é possível analisar erros e acertos após ver o trabalho efetivamente no ar. A delicadeza com que Samuel aparece em cada sequência de Dona de Mim é a prova de que é possível fugir do senso comum e atrair olhares para um personagem complexo em meio a uma interpretação sóbria, naturalista e minimalista como vem fazendo Juan Paiva.
Não que o ator precisasse ainda provar algo para quem quer que seja, mesmo jovem tem um currículo de fazer inveja a artistas que estão há muito mais tempo no trabalho. Também não houve qualquer diferença na dedicação que ele emprestou ao seu personagem de Renascer (2023) ou agora, sendo uma novela das 19h e "menos nobre" que a principal faixa em que ele já havia brilhado.
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Samuel é um personagem complexo e cheio de nuances. Havia mais de uma forma de compô-lo e, talvez, o ator tenha escolhido o mais difícil. Com tamanho sofrimento e adotado por uma família que, embora feliz, é toda desajustada, ele se tornou retraído, tímido, dedicado e quase soturno. Sua interpretação faz o perfeito contraponto e gera uma sintonia fina com Leona (Clara Moneke).
Nos capítulos mais recentes em que precisa defender a irmã, a namorada e a empresa ao mesmo tempo das garras maldosas de Jaques (Marcello Novaes), o personagem cresceu e ganhou escopo. Seria uma armadilha para que o ator mudasse o tom e escorregasse na interpretação, dando até outra personalidade para Samuel. Mas Juan entende da arte e, mesmo em sequências fortes em que enfrentou Jaques ou mesmo quando discutiu com Leona, o ator não mudou o estilo e manteve o mocinho impassível.
É muito difícil você construir um arco narrativo sem fazer ajustes na composição. Mas o intérprete precisa medir se uma mudança faz sentido no contexto de sua criação para não perder credibilidade em cena. Foi pensando nisso que, certamente, Paiva não mudou o jeito de Samuel após a morte de Abel (Tony Ramos), com o personagem ganhando mais espaço.
Num horário solar como o das 19h, você interpretar um mocinho quase passivo e dar a ele uma personalidade afável é um risco. Neste cenário, Juan Paiva calculou e desviou de todos os pedregulhos pelo caminho, acertando o tempo todo. Um ator completo que pode interpretar qualquer personagem, pois irá brilhar pensando em cada detalhe.
