Atuação da Semana: A impressionante performance de Taís Araújo em Vale Tudo
Taís Araújo assombra o Brasil com sua Raquel Acioli, em Vale Tudo
Publicado em 13/07/2025 às 08:36,
atualizado em 13/07/2025 às 08:45
Interpretar em uma novela é uma tarefa árdua. Compor uma personagem em um remake, certamente é ainda pior. Mas ter de defender uma personagem icônica, em nova versão de uma das mais poderosas novelas de todos os tempos, é quase impossível. Justamente por conta de todos estes elementos é que o trabalho de Taís Araújo, como Raquel Acioli impressiona e vem assombrando.
Desde a estreia da versão de Vale Tudo através das mãos de Manuela Dias, ficou claro que Taís daria conta do recado. Ainda que ela tivesse que defender uma mocinha icônica, que havia sido interpretada pela maior atriz de novelas da história do Brasil: Regina Duarte.
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Quando você cai em comparação com Regina, sempre estará em desvantagem. Justamente por isso, a atriz foi esperta suficiente para buscar uma versão diferente da personagem original de 1988. Na obra de Gilberto Braga, Leonor Bassères e Aguinaldo Silva, Raquel era histriônica, quase uma mocinha saída das telas mexicanas, tamanha sua força.
Agora, criação de Manuela Dias, a mãe de Maria de Fátima (Bella Campos) é obstinada, mas muito mais contida. Taís Araújo tirou o tom de voz carregado, tão comum em personagens de Regina Duarte, e criou uma voz que sempre começa numa voltagem menor e vai crescendo à medida que a sequência pede.
Na virada da novela, a cena em que Raquel confronta a filha ao descobrir a verdade é justamente uma aula de composição técnica. Embora a emoção da personagem estivesse premente, era nítido que Taís sabia exatamente quando aumentar e quando diminuir a voltagem. Movimentos típicos de quem tem a composição plenamente construída e de que não há espaço para improvisações ou erros. Tudo ali foi planejado por ela.
A sequência mais inesquecível da semana, quando a mãe rasga o vestido de noiva da filha, ainda houve outros elementos dramatúrgicos que mostraram uma atriz ainda mais à vontade. Na denúncia, o tom jocoso, ao mesmo tempo em que no confronto com Odete Roitman (Debora Bloch) houve espaço até para uma firula dramática, foi no ápice da cena o melhor.
Ao rasgar o vestido de Maria de Fátima, os gritos de "eu odeio você" não foram simplesmente uma explosão raivosa. Tal qual Regina Duarte, mas a seu modo, Taís achou um sentimento de ódio dentro dela a ponto de ser impossível não imaginar que a personagem, ao menos naquele momento, realmente estava odiando a própria filha.
Para além dos dois momentos, a semana ainda revelou uma Raquel capaz de invadir um incêndio, como se fosse uma fênix buscando se salvar e a virada, com uma nova mulher surgindo. Em todo momento, Taís soube dar novas camadas, mas que não contrariavam a composição. Raquel Acioli da nova versão de Vale Tudo é muito complexa justamente porque está nas mãos de uma atriz inteligente, que mudou a composição para fugir de comparações.
Não se trata de revelar ou de apontar quem é melhor como Raquel. Regina e Taís interpretaram de forma diferentes e personagens distintas - ainda que num remake - e ambas atingiram o objetivo. Taís Araújo assombra o Brasil, não apenas por uma semana intensa em Vale Tudo, mas porque conseguiu o que parecia impossível: moldar uma personagem icônica ao seu próprio talento.