O grande acerto de Cláudia Abreu e o erro imperdoável de Dona de Mim
Cláudia Abreu brilha, mas Dona de Mim errou feio com Filipa
Publicado em 14/07/2025 às 20:18,
atualizado em 14/07/2025 às 20:18
Quando o capítulo desta segunda-feira (14) de Dona de Mim iniciou, provavelmente ninguém sabia que o público estaria de frente de uma das grandes atuações dos últimos tempos por parte de um artista. Cláudia Abreu mostrou porque está no hall dos grandes nomes das novelas brasileiras e brindou a todos com uma exuberante interpretação. Tão boa que quase - apenas quase - passou desapercebido o erro imperdoável da trama com Filipa, personagem interpretado por ela e também com o telespectador.
A crise de Filipa diante dos olhos do núcleo central e também do telespectador chocou até o mais desavisado que estivesse passando diante da TV no momento. Tanto em sua discussão violenta com a filha, quanto na explosão ao ser vítima de mais uma armação de Sofia (Elis Cabral), a alta voltagem das sequências era muito difícil para qualquer pessoa.
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Cláudia Abreu já é famosa por dominar completamente a tela em momentos como este. Foi assim em Celebridade (2003), em Belíssima (2006) e em Cheias de Charme (2012) para citar três exemplos icônicos. Mesmo sabendo de toda a capacidade artística dela, até o maior fã se surpreendeu com a alta dose de dramaticidade em que Filipa perde o controle.
O descontrole emocional da personagem foi tão forte que incomodou. O resultado em cena foi uma das mais detalhadas e completas composições de uma cena de novela dos últimos tempos. Cláudia se jogou sem apoio e foi fundo, no âmago das dores que a sequência pedia como poucas vezes se vê na dramaturgia.
Enfrentar uma grave crise emocional de uma personagem é sempre uma tarefa árdua porque é preciso convencer o telespectador da profunda dor do momento. Para além disso, também é fundamental que haja empatia e que se compreenda o contexto a fim de não parecer um grande dramalhão equivocado e que beira o teatro tatibitati.
Eis o grande erro de Dona de Mim. Quando a autora Rosane Svartman optou por apresentar uma Filipa como uma personagem inusitada, ela afastou o telespectador e o fez apenas torcer o nariz para uma pessoa que parecia chata e desordenada.
A opção de não deixar claro que estávamos diante de alguém com uma clara neurodivergência nos fez jamais cogitar a hipótese de que acompanhávamos uma mulher doente e não alguém que não tinha envergadura dramática e nem função dramatúrgica.
Talvez Rosane tenha se inspirado na decisão de Manoel Carlos, quando em Laços de Família (2000), fez o público odiar Camila (Carolina Dieckmann) para, depois, a deixar doente e haver uma conexão. Aqui, não cabe porque Filipa sempre foi doente e Dona de Mim perdeu uma chance rara de fazer a personagem mais amada da TV nos últimos tempos. Por sorte, Cláudia Abreu não só dá conta do recado, mas consegue salvar uma história que parecia fadada ao fracasso.
tvglobo