A gente nasce pelado, todo o resto é drag
Canal Like fala sobre a animação Super Drags
Publicado em 19/07/2020 às 13:40
Uma coisa que a gente sempre reforça no Canal Like é que animação nem sempre é sinônimo de conteúdo infantil. Animação é um recurso audiovisual que dá rédeas soltas à imaginação. É por isso que muitas vezes os criadores de obras destinadas ao público maduro fazem uso da animação para liberar a criatividade. É o caso da série animada brasileira Super Drags.
Antes de mais nada, vale a pena repetir: essa é uma série indicada a maiores de 16 anos. Quando a Netflix anunciou uma animação com três drag queens super heroínas, teve gente que virou mortal carpado pra tras. “Como assim animação ensinando crianças a serem drag queens?”.
Aí foi um estouro mesmo, a Netflix fez muita piada em cima disso, e colocou um anúncio logo quando você passa pela opção Superdrags, expulsando quem não for maior de 16. Pra quem for muito jovem e não conhece, ou pra quem tem memória curta e não se lembra, vale recordar que nos anos 80 Valentino Guzzo era a sensação das crianças com um personagem drag chamado vovó Mafalda.
Robin Williams deu um show, de drag, em uma Babá quase perfeita, esse sim um filme pra família inteira. Antes ainda, Dustin Hoffman se travestiu pra conseguir um papel numa novela e acabou se apaixonando pela sua colega de elenco em Tootsie.
A questão, portanto, nunca foi um homem se travestir. Desde que ele seja assexuado, no caso da Mafalda, tentando reconquistar a esposa, no caso do Robin Williams, ou interessado em uma atriz, no caso do Dustin Hofman. A questão não está nem no conteúdo sexual, que está bem presente nos três filmes, recomendados pra toda família. Mas então por que Super Drags rendeu tantas ameaças à Netflix? Tentativa de boicote mesmo antes da estreia?
Drag queen é uma expressão artística que em nada tem a ver com a orientação sexual do artista. Pode ser que a personagem drag nem seja o gênero oposto, mas o mesmo gênero, ou até uma figura não humana, mas aqui em Super Drags, os três protagonistas são homens e são gays.
Super Drags conta a história de Patrick, Donizete e Ralph, três amigos que trabalham numa dessas lojas de departamento, tentando vender blusinhas e convencer o cliente a fazer o cartão fidelidade da loja. Mas quando o “dever real” chama, eles liberam suas divas internas para se tornar Lemon Chifon, Scarlet Carmesim e Safira Cyan: três incrivelmente fabulosas Super Drags que foram recrutadas para proteger a comunidade LGBT dos homofóbicos e espalhar purpurina no mundo.
A série foi criada pelo Anderson Mahanski e pelo Fernando Mendonça que eu já recebi aqui no Like (530 da Claro) pra um papo. O Fernando que é dublador do Timão, por exemplo, do Rei Leao, fez todas as “vozes guia” da animação antes dos outros dubladores entrarem. Então, no material bruto era ele com ele mesmo, fazendo mil vozes. Depois entraram nomes de peso com a Pablo Vittar fazendo a Goldiva, que é uma musa da música pop, e a sensacional drag queen Sylveti Montila como a mentora e recrutadora das heroínas. Na história tem pequenas situações de homofóbicos fazendo o mal, como um tal politico, na historia, que é abertamente homofóbico. Mas a historia central apresenta uma vilã drag, que também quer ser diva pop, e pra isso quer roubar o highlight dos gays.
Segundo a série, highlight é uma energia de alegria, de vibração, de alto astral que todo gay tem. E com esse poder acumulado dos outros, essa vilã vai conseguir ter aquilo que ela não tem: talento. Depois de determinada que a classificação seria 16 anos, aí os criadores não pouparam nas referências sexuais. A série tem muitas referências fálicas, até a fumaça de explosão no céu tem formato fálico. E tem assédio! É realmente proposital, tá?! E foi motivo de muita discussão dentro da própria comunidade LGBT+.
A série também emociona em vários momentos. É uma série que gera representatividade numa sociedade em que a imensa maioria dos produtos audiovisuais não representam o dia a dia de pessoas gays. Mas não é uma série que agrade apenas a gays ou que constranja héteros, a série é engraçada pra caramba, Faz sátira a animações infantis como Três Espiãs Demais, Meninas Superpoderosas ou filmes como As Panteras - você percebe pelos traços do desenho do Anderson e do Fernando e pelo formato do enredo só que são drags. E tem muito besteirol. Porque animação pode ter sim conteúdo adulto. A série Super Drags não têm nada de infantil. Mas é cheia de fantasia, ação, aventura e humor pra gente grande nenhuma botar defeito.
Se alguém ainda achar ruim, mostra seu highlight pra ela, ou mostra uma foto do Super-Homem. O cara veste uma cueca por cima da calça! Como diz Ru Paul, uma das drag queens mais famosas do mundo. A gente nasce pelado, todo o resto é drag. Curtiu a dica do Canal Like? Então assista essa série: disponível na plataforma Netflix.