Atuação da Semana: Gabriel Sater encarna o cramunhão e dá medo

Trindade foi embora da fazenda de José Leôncio e, consequentemente, Gabriel Sater não aparecerá em Pantanal por um bom tempo ou até mesmo nem retorne mais para a produção do horário das 21h da Globo. A saída do ator não é nenhuma surpresa, já que o personagem também deixou a versão original em 1990, exibida na TV Manchete. Assim como na primeira vez, a sensação que fica com a partida dele é de quero mais.

O artista apareceu no folhetim escrito por Bruno Luperi como filho de Almir Sater, o que levantou desconfianças: será que sua escolha não ocorreu simplesmente por ser parente do ator e cantor? Um papel que fez tanto sucesso no passado estaria em boas mãos em alguém com pouca experiência na TV? Qual o sentido de escolher um profissional sem “grife”?

Essas perguntas rapidamente foram respondidas quando Trindade chegou na fazenda de José Leôncio. Já nas primeiras cenas, foi possível identificar que o personagem era uma figura cheia de camadas, pois era um peão com a responsabilidade de dar recados do “diabo” para os outros personagens. Um país em que a imensa maioria é cristã – dividida entre evangélicos e católicos –, dar vida para alguém mal vista pela sociedade sempre é um risco.

O papel funcionou porque o ator soube dar interpretação suave, sem exageros, apostando em pitadas de humor e oferecendo sensualidade ao público quando tinha cenas picantes com Irma (Camila Morgado). Ao longo da sua trajetória no folhetim, Gabriel conseguiu assustar com cenas pesadas, quando seu personagem incorporava o cramunhão, emocionou ao entrar em conflito com as suas escolhas, como ir embora da fazenda, e divertir ao fazer previsões aos outros peões.

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Era óbvio que ele correria o risco de cair na comparação, porque a memória afetiva do público é enorme e Pantanal foi um sucesso arrebatador nos anos de 1990. Porém, ele teve a eficiência de colocar sua personalidade no papel e hoje se transformou no “diabo” predileto da TV.

Nos últimos capítulos, Trindade passou a ficar desesperado com a possibilidade do seu filho passar por sérios problemas por culpa do cramunhão. Sater poderia escorregar, já que entrou nas cenas mais importantes do seu trabalho. Só que parecia ter total domínio do ambiente e emocionou sem cair no exagero.

Gabriel sai de cena, podendo voltar na reta final de Pantanal. É um equívoco do autor deixar um ator que vem brilhando desta forma fora dos próximos capítulos da novela. No entanto, às vezes, cabe ao roteirista contrariar o público e deixar um gostinho de quero mais. Sater foi eficiente ao atingir esse objetivo.