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Atuação da Semana: Murilo Benício humaniza e dá charme a vilão de Pantanal

Como Tenório, em Pantanal, o ator construiu uma interpretação irresistível


Cena de Pantanal com, Murilo Benício, o Tenório de Pantanal, chorando
Na novela Pantanal, Tenório se destaca graças a Murilo Benício - Foto: Reprodução/Globoplay

Houve uma época em que ninguém queria ser vilão de novela, seja porque a publicidade fugia de personagens malvados ou mesmo por conta da perseguição por parte do público. Isso ficou para trás e os malvados viraram uma espécie de coqueluche nos elencos das novelas e o sonho de qualquer ator. Experiente, com muitos mocinhos e vilões em seu currículo, Murilo Benício entende do ofício a tal ponto de criar um personagem sem humanidade alguma, como é o Tenório, de Pantanal, humanizar e dar charme a um personagem que, em tese, seria odiado.

Faz parte das funções do ator ser odiado pelo público. Por motivos diversos, é verdade, como aconteceu com Clóvis (Dalton Vigh), em O Profeta (2006), pelo simples fato que impedia o casal protagonista de ficar junto e isso promovia uma série de sentimentos aos telespectadores, inclusive ódio. Não se trata de uma sensação real ou que impede o público de assistir a trama, é o verdadeiro oposto disso.

Por outro lado, há personagens odiados sem serem maus, como a dona Irene (Gloria Menezes), de A Favorita (2008), responsável direta, mesmo sem querer, por toda a derrocada da mocinha.

Mas existem vilões que dão medo, como a própria Flora (Patrícia Pilar), também de A Favorita, ou Bia Falcão (Fernanda Montenegro), em Belíssima (2005). Esse tipo de personagem aterroriza o público porque são simplesmente maus, sem traço humano algum. Voltando à Pantanal, Tenório é basicamente o mais selvagem dos bichos vistos na trama, ainda que não se transforme em um literalmente. Ele acumula mortes, corrupção, assassinatos e roubos em suas costas e, sempre, sem demonstrar sensação de culpa ou sentimento humano.

Murilo Benício criou um personagem que manda seu funcionário matar um inimigo como quem pede uma xícara de café, sem alterar o tom de voz ou dar ar de seriedade e tensão ao pedido. O ator mostra o vilão com duas famílias como se fosse a coisa mais normal do mundo e o dia a dia em que Tenório conta sobre o tema é com um tom de voz quase trivial, aliás, como tudo o que ele faz.

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Benício é experiente e tentou fugir do vilão caricato, coisa que o ator da versão original não se preocupou, até por ser o caminho natural por conta da trajetória de Tenório. Mas o ator quis ir além e colocou camadas, seja de humor, seja de despreocupação ou seja do espírito de se interessar apenas pela fofoca. Note que ele só altera a voz quando quer saber um pouco mais da vida alheia.

O maior mérito de Murilo foi ao ar na última semana, quando parte da história do personagem foi vista. Ao mesmo tempo em que um de seus filhos descobria que ele foi o responsável por uma morte quando ainda era criança, devido a um acidente, o telespectador reviveu o momento através de uma canção na roda de viola. Para encerrar o momento, Benício entregou uma interpretação visceral, fugindo da trivialidade e caindo num choro compulsivo ao relembrar da história. O choco poderia ser de raiva, de nervoso ou de ódio. Mas graças ao ator foi de dor, de humanidade, um ser humano se escondendo por trás de um bicho.

Tenório é um personagem razoavelmente fácil por ter inúmeros caminhos para interpretação e todos são seguros. Mas tentar dar um charme a um bicho selvagem fez com que Murilo Benício escolhesse o mais difícil. E somente por isso ele consegue se destacar num papel que não tem o tamanho de seu talento.

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