Coluna Especial

Nego do Borel e a insistência de alguns artistas em comprometer o próprio legado

Cantores se envolvem em polêmicas e parecem não se preocupar com a carreira artística

Nego do Borel se envolve em polêmicas e atrapalha carreira - Foto: Divulgação
Por Redação NT , com Higor Gonçalves

Publicado em 19/01/2021 às 04:00:51

Status é um conceito que, em Sociologia, abrange o conjunto de direitos e deveres de alguém, portador de determinada posição, dentro de uma sociedade. Pode ser adquirido ou atribuído. É adquirido quando depende do esforço pessoal para a conquista. Ou seja: através de habilidades e capacidades individuais, a pessoa compete com outras e triunfa sobre elas. Já o status atribuído independe da capacidade do indivíduo para a obtenção. Um artista que ralou e que, com talento, garra e muita determinação, conquistou o seu “lugar ao sol” possui status adquirido. O seu parceiro, por sua vez, a título de exemplo, pelo fato de relacionar-se com uma estrela, possui o atribuído. O que esse papo conceitual tem a ver com escândalos recentes envolvendo (e manchando) o nome, a carreira e o legado de alguns artistas brasileiros? Tudo.

De conhecimento geral da nação, o fim do noivado de Nego do Borel e Duda Reis vem dando o que falar desde o final do ano passado. Os últimos dias, então, foram movimentadíssimos: teve vazamento de áudio de suposto romance extraconjugal; acusações de violência doméstica; e denúncias de portes de armas e de grandes quantias de dinheiro. Leno Maycon Viana Gomes (nome de batismo do cantor em homenagem a John Lennon e a Michael Jackson) terá muito trabalho pela frente. Assim como a sua assessoria de imprensa.

Analisando os últimos episódios apenas pelo viés da gestão da reputação, sem entrar no mérito da veracidade das alegações dos envolvidos (trabalho da polícia e da Justiça), uma coisa é fato: a imagem e a carreira de Nego do Borel, não de hoje, vêm sendo implodidas. Assim como aconteceu com Victor Chaves e como também ocorre agora com Arthur Aguiar. Coincidentemente, o cantor e o ator também foram acusados publicamente por ex-cônjuges. Perderam fãs, prestígio, contratos e muito dinheiro. Tiveram os seus nomes manchados e as suas reputações abaladas. Tanto no pessoal, quanto, sobretudo, no profissional.  

Alcançar o Olimpo no mundo do entretenimento não é missão das mais fáceis. Muito pelo contrário: é um ato heroico, que demanda uma série de investimentos e, principalmente, de renúncias. É preciso talento, esforço, obstinação, networking, senso de oportunidade e uma boa dose de paciência. Não é rápido, como muitos imaginam. Trata-se de um processo gradativo. Uma carreira artística bem sucedida estará permanentemente em construção.

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Eis alguns dos motivos pelos quais, na minha opinião, soa imbecil comprometer tanta dedicação com escândalos da vida pessoal. Ao se associarem a controvérsias gratuitas, alguns artistas podem colocar em risco suas reputações, e, por tabela, comprometerem os seus legados. Os mais inteligentes são exatamente aqueles que preservam a esfera pessoal (ou que expõem o mínimo, sempre de maneira estratégica e muito bem pensada). Me refiro a nomes, por exemplo, como Djavan, Iza, Carlinhos Brown, Roberto Carlos e Marisa Monte. Para esses (e muitos outros), o espetáculo acontece somente e tão somente no palco, sob a luz dos holofotes e os aplausos do público. Eles entenderam que aquilo que “foge” do profissional e descamba para o lado pessoal vira excesso. Ou seja: sobra.

Não é de hoje que Borel se envolve em polêmicas que não agregam em nada à sua carreira. A ele, sugiro a mesma “fórmula” que já propus há algum tempo ao Biel, outro que, volta e meia, se mete em escândalos: reconhecer sinceramente os próprios equívocos, ser genuíno ao lidar com eles, assumir as responsabilidades que lhes forem devidas e, principalmente, adotar um novo comportamento: mais equilibrado, maduro e, acima de tudo, discreto - longe de tumultos.

Nego do Borel tem uma história de vida poderosa: o cantor, compositor, ator e comediante já viveu em situação de extrema pobreza. Chegou a passar fome na comunidade carioca que lhe empresta o sobrenome artístico. Sonhava, aliás, com a carreira na música desde os 10 anos, quando passou a frequentar shows na própria comunidade, pedindo a DJs locais para subir no palco e abrir shows de outros artistas. Com os primeiros cachês como profissional, reformou a casa da mãe e comprou uma prótese dentária (pois tinha quase todos os dentes estragados), destinando o primeiro dinheiro ganho na música para cuidar da saúde bucal. Nego do Borel não é apenas um cantor. Pela história, pelo talento e por todas as conquistas que alcançou na carreira e na vida, o artista traduz o próprio conceito de representatividade. E é justamente em virtude do status que adquiriu, e por tudo aquilo que representa, que deveria cuidar melhor do nome, da carreira e, acima de tudo, do próprio legado.


* Higor Gonçalves é jornalista especializado em personal branding (gestão estratégica de marca pessoal).



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