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Na TV, acontece um desmonte etarista da estrutura das novelas

O empresário Marcus Montenegro assina Coluna Especial neste domingo


Foto de estúdio de televisão cheio de câmeras, holofotes e atores
Estúdio de TV de uma novela - Foto: Divulgação/CBS

Lúcida eu? Completamente lúcida e ativa. Assim a atriz Nathalia Timberg responde, com bom humor, às pessoas que indagam sobre sua idade e o fato de ainda estar tão ativa na carreira. Não há nada mais belo do que ver uma grande atriz, aos 95 anos, fazendo teatro, cinema e cheia de projetos. Isso é vida, comprometimento e amor pelo ofício.

Nos meus quase 40 anos de profissão, convivendo com os grandes atores da TV e do teatro, sempre tenho a honra de poder ver e sentir diariamente o amor, a admiração e o orgulho dos brasileiros por eles. Foram esses atores que construíram a televisão, entraram em nossos lares diariamente, tornaram-se parte da nossa família, levaram as novelas para o mundo e as transformaram em uma paixão nacional.

Devido ao sucesso das novelas, construiu-se um dos maiores impérios da comunicação no mundo. Nada na vida é eterno. Sabemos que sempre vem a renovação, e a transição precisa ser feita com equilíbrio, consciência e responsabilidade.

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O que está acontecendo desde 2015 nas escalações das novelas brasileiras não é uma renovação, e sim um desmonte etarista da estrutura dramatúrgica. As novelas sempre tiveram um elenco composto majoritariamente por 70% de atores com 40 anos ou mais, enquanto os outros 30% eram destinados a lançar e sedimentar novos talentos.

A força do ambiente digital tem levado os executivos da TV aberta a buscarem uma jovialização desenfreada dos talentos, sem medir qualquer consequência artística e dramatúrgica. O resultado disso? Novelas sem identificação, engajamento, reconhecimento e a perda de uma referência mundial no que sempre fomos experts.

A boa audiência e a repercussão das reprises das novelas antigas, seja na TV aberta ou no canal Viva, são a prova da força dos grandes atores e da qualidade na estrutura das novelas exibidas no passado.

A crise no processo de criação tem levado à realização de remakes que foram grandes sucessos, mas com erros clássicos nas escalações, devido à falta de encontro entre gerações. Saber passar o bastão e honrar os grandes nomes que construíram a televisão brasileira é dever e obrigação dos executivos que desejam audiência e formação de um novo público, com respeito, conhecimento e um posicionamento construtivo.

Por que as personagens de pai, mãe, avô, avó e tia vêm perdendo força nas atuais escalações? O grande trunfo das novelas sempre foi a identificação do público com grandes interpretações de personagens icônicos e estratégicos com mais de 50 anos.

A crueldade do etarismo na TV

Seja qual for a história contada, a obra sempre foi baseada em grandes atores em papéis importantes. Por que renegar o que sempre deu certo e não respeitar uma audiência sedenta pelos grandes atores?

Ainda temos muitos na ativa. Infelizmente, em 10 anos, será uma outra realidade. Criou-se um manual de diversidade mais do que necessário. Porém, precisa ser atualizado. NÃO PODEMOS TER ETARISMO. Diversidade com etarismo não é diversidade.

Na TV, acontece um desmonte etarista da estrutura das novelas

A ausência de indicações das novelas brasileiras ao Prêmio Emmy, nos últimos quatro anos, diz muito sobre a perda de qualidade e relevância das nossas produções.

Até quando irão continuar permitindo o crescimento das novelas turcas e coreanas no Brasil devido ao etarismo na dramaturgia nacional? Culpar a queda de audiência na força do ambiente digital, na chegada do streaming e no excesso de oferta do mercado audiovisual é não saber lidar com o processo de criação e escalação das novelas, ignorando a troca entre gerações.

Precisamos de executivos com arte na alma e conhecimento de causa para convencer os acionistas a voltar a investir em histórias que permitam aos gigantes, em quantidade, exercerem seu ofício com a excelência de sempre.

O verdadeiro Ibope encontramos nos teatros do Brasil, que estão lotados porque o público quer ver boas histórias contadas por grandes atores. Vamos nos inspirar no que vem acontecendo nos teatros brasileiros, reestruturar as escalações das novelas e voltar a ser felizes de novo.

Fim do etarismo na indústria audiovisual brasileira!


 

Marcus Montenegro é empresário da Montenegro Talents e atua no mercado há mais de 35 anos, com um elenco de talentos que já ultrapassa 300 contratados, incluindo atores, autores e diretores. Considerado um dos mais renomados profissionais da área, em sua palestra "Ser Artista em a arte salva, Cura, Educa e Resiste", ele apresenta todas as etapas e cuidados que um artista deve adotar para construir uma carreira a mais próspera possível.

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