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Minha conversa com Hebe Camargo num jantar

Coluna Especial é assinada por James Akel


Montagem com Hebe Camargo
Hebe Camargo fazia aniversário no Dia Internacional da Mulher - Foto: Montagem/NaTelinha

O ano era 2009. O mês de junho guardava uma surpresa para mim. Recebi um convite para uma festa na casa de uma empresária conhecida. Sua mansão era tão grande que a festa ocuparia os salões e os imensos jardins. Como não estava chovendo, as mesas foram postas nos jardins, com uma grande brigada de garbosos garçons a servir um jantar de grande monta com tudo que se imaginava comer.

Quando adentrei um dos salões da casa, ao lado de um enorme bar, a dona da casa me apresentou a ninguém menos que Hebe Camargo. Sentei ao seu lado e começamos a falar sobre seu programa no SBT, as mudanças de horário que ela odiava e as coisas que aconteciam em seu programa ao longo dos tempos.

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Há 65 anos, Hebe empoderava mulheres e ganhava fama como apresentadora de TV 

Logo um garçom veio nos convidar a ocupar dois lugares em uma mesa bem grande no jardim onde já havia outras pessoas. Ficamos os dois lado a lado e o garçom, todo feliz, estava a servir a grande Hebe Camargo.

A primeira coisa que ele trouxe foi um champanhe de nome famoso e serviu um pouco na taça da Hebe. Eu deixei ele pôr um pouco na minha taça para não fazer desfeita. Mas eu não bebo nada alcoólico. Ela tomou a primeira dose de um só gole e liberou para ele encher a taça, coisa que ele fez.

Logo depois, Hebe pediu algo para comer e o garçom, como mágica, surgiu com dois pratos muito bem montados para a nossa degustação. E assim continuamos a conversar sobre coisas de TV que havíamos começado na sala.

Então eu decidi provocar. Eu citei que todo mundo sabia sobre um diretor da Record que era apaixonado por ela. Ela deu uma pausa e me disse:"Você não sabe a bagunça que essa paixão deu".

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E eu, já sabendo o que aconteceu, me fiz de ignorante do fato para provocar: "O que aconteceu?". Então, ela me contou tudo. Nesse momento, seus olhos ameaçaram deixar escapar as lágrimas.

Eu perguntei se ela queria mudar de assunto e ela me disse que não, ao mesmo tempo que as lágrimas rolavam pelo seu rosto. Ela enxugou as lágrimas com seu guardanapo e deu uma provada no que estava em seu prato.

Minha conversa com Hebe Camargo num jantar

Então eu comecei a falar com ela sobre sua passagem pela Band, algumas fofocas sobre os diretores da emissora nos anos 80, e depois sobre sua ida para o SBT. O rosto de Hebe sorriu novamente e eu fiquei feliz.  Eram 2 horas da manhã quando eu, já cansado pelo trabalho do dia, disse a ela que estava muito cansado e iria para minha casa.

Ela perguntou se eu queria carona e eu disse que estava de carro. Trocamos telefones, mas eu jamais telefonei para ela em tempo algum. Eu entendi que aquela troca de telefones era apenas uma cortesia e eu não tinha status para telefonar para a rainha da TV brasileira.

Depois da morte dela, sempre me lembro de seu aniversário no dia 8 de março. Meus pensamentos vão até aquela noite quando jantamos lado a lado. Eu gostaria de ter conversado mais com ela sim, porque seu carisma era algo que encantava e sua inteligência era apaixonante.

Mas o tempo não fica na porta, mesmo tarde vai entrando, o tempo assim se comporta, traz lembrança galopante.


James Ackel é jornalista, diretor e produtor de teatro e televisão. Dirigiu e produziu o Especial Hebe na Band em dezembro de 2020. 

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