Atuação da Semana: Taís Araújo brilha até com personagem que não é para ela
Atriz tem feito um grande trabalho ao interpretar uma personagem que não combina
Publicado em 12/06/2022 às 12:20
Quando um autor cria um personagem, um dos papéis mais importantes dele e do diretor artístico da obra é escolher um ator ou atriz adequado para interpretá-lo. Neste quesito, Claudia Souto e Natalia Grimberg - novelista e diretora, respectivamente, de Cara e Coragem - erraram feio com Anita e, consequentemente com Clarice, ao escalar Taís Araújo. Mesmo assim, a atriz bilha intensamente, ainda que olhá-la em cena dê um ar constrangedor de Malhação atrasada.
Clarice, executiva milionária que surgiu nos primeiros capítulos, tinha tudo a ver com Taís e a personagem se adequou com maestria à forma naturalista que a atriz de grandes trabalhos na carreira utiliza em muitos momentos. Mas bastou a morte da protagonista e o surgimento de sua suposta sósia, Anita, para tudo degringolar. Roupa, profissão e amizades, tudo leva a crer que a moça é uma jovem na faixa de seus 20 e poucos anos e recém saída da adolescência, o que combina 0 com a atriz.
Não se trata de observar a idade de ator e de personagem, se trata de observar o olhar. Quem olha para Taís Araújo não consegue enxergar uma jovem quase menina, não há caminho para isso. Aí existe um problema sério de estrutura de criação em Cara e Coragem. Se a autora queria vender a ideia de que Anita e Clarice são a mesma pessoa, não poderia nunca criar uma delas como jovem ou a outra como executiva de mais idade. Simplesmente não combina.
Posto isso, é fundamental falar de como a artista colocou isso de lado e tenta salvar uma personagem fadada à perdição. Anita não é uma adulta que se vê como jovem, tampouco uma mulher formada que não sabe seu lugar no mundo. Ela é uma jovem ainda descobrindo seu espaço e isso não lembra em nada Clarice, mas Taís soube compor de forma em que, apesar de tudo isso, é possível enxergar uma pessoa em uma busca por se encher.
Ao invés de usar os recursos do texto para se mostrar como rebelde e destemida, a composição da atriz é de uma pessoa com sede. Sedenta em aprender e preencher espaços no mundo e aí é possível acreditar que - se não for Clarice, pode aproveitar a oportunidade para roubar o lugar. Anita não poderia nunca ser interpretada com alguém com a postura física de Taís Araújo, mas já que foi, ela brilha tentando salvar uma personagem que, ao menos nesta composição, é perdida.
Aliás, a única salvação para essa história é que Anita não seja Clarice e roube o lugar da finada para se encontrar na vida e, assim sendo, acabe se transformando na protagonista de verdade. Dica gratuita para a autora, inclusive. Neste cenário ou em qualquer outro, Taís Araújo seguirá brilhando.