Coluna Marcela Ribeiro

Drag do canal E! me deu uma aula de autoaceitação: "Sua referência de beleza não é sobre você"

Ikaro Kadoshi, apresentador do Drag Me As A Queen, que estreia dia 21 no E!, reflete sobre catarse durante montação


As drags queens Rita Von Hunty, Penelopy Jean e Ikaro Kadoshi do Drag Me as a Queen Celebridades
Rita Von Hunty, Penelopy Jean e Ikaro Kadoshi apresentam o Drag Me as a Queen Celebridades - Divulgação

A manhã de terça-feira (14) era para ter sido mais um dia normal de coletiva virtual que tem feito parte da rotina dos jornalistas durante esse ano pandêmico. Sem poder aglomerar, são através de reuniões no Zoom, que a maioria dos veículos tem criado eventos para divulgar seus produtos e lançamentos. Mas foi diferente. O evento era sobre a estreia do programa Drag Me as a Queen Celebridades, que acontece dia 21 no canal E!. As drag queens Penelopy Jean e Ikaro Kadoshi apresentadoras do programa com Rita Von Hunty, que não pode participar pois está num evento fora do país, deram um show de empatia e aula de autoaceitação.

Já pude perceber isso quando assisti ao episódio de estreia com a cantora Maria Rita, disponível para os jornalistas que participaram da coletiva virtual. Com total sensibilidade, elas conversam com ela sobre temas delicados e arrancam choros e mensagem de gratidão (assistam ao episódio para entenderem o motivo!).  

Mas, não imaginava que, durante uma pergunta sobre como é terapêutico e uma espécie de catarse esse momento de transformação em drags, Ikaro me levasse a refletir sobre a dificuldade que eu - e milhões de mulheres do mundo todo - têm em se aceitar por conta de um padrão imposto na sociedade durante décadas, seja na TV, revista e que, infelizmente, permanecem até hoje em vários momentos, embora que algumas melhorias. Ikaro começou dizendo que toda "montação" é uma catarse e me perguntou qual é a parte do rosto que menos gosto. "Acho que o nariz", respondi, mas querendo apontar várias outras. Foi então que ele começou sua aula sobre a importância de nos olharmos no espelho e aceitar nossos "defeitos".

"Pra você se maquiar, você vai ter que olhar para a parte que não gosta, todos os dias de uma maneira amplificada porque para passar maquiagem, você vai ter que pensar em cada centímetro do nariz que você não gosta. E com o tempo, você vai aprender a gostar desse nariz porque faz parte de quem você é", analisa ele.

"Com o tempo você vai aprender, que muitas vezes você não gosta do seu nariz porque as revistas, a TV, colocam como um nariz bonito um nariz diferente do seu. E aí você entende se montando que a sua referência de beleza não é sobre você, é sobre os outros e você acredita que o outro é bonito e você não. A catarse acontece de várias formas, porque não é enquanto drag queen só quando a gente se monta, é quando a gente faz show".

Pode parecer clichê e até repetitivo. Durante o teaser do programa, é possível ver várias famosas falando que saíram de lá transformadas após o processo de montação, que inclui muita emoção e reflexão. Mas parece que saí um pouco diferente desse papo virtual. Fui até o espelho e tentei observar em mais detalhes meu nariz, que possui um desvio de septo acentuado, uma narina mais fechada que a outra, e tentei enxergá-lo de uma forma mais sensível. Talvez eu não me reconhecesse em outro formato. Muitas mulheres, inclusive, fazem cirurgias plásticas e não conseguem aceitar a transformação. Mas é isso. Temos que buscar o melhor e compreender que os nossos "defeitinhos" nos fazem quem somos e parar de apontar o que não gostamos nos outros. Viva as individualidades!

Ikaro ainda completou dizendo que as drags colocam no palco as dores e as suas vivências, mesmo que seja uma música bonita. "Ser drag queen não deixa de ser uma arterapia para quem faz e para quem vê ali, mas principalmente para quem faz... Penelopy falou uma coisa que acho muito bonita, se desmontar para montar. Eu, no meu caso, não tenho sobrancelha, não tenho cabelo, não tenho pelo, estou completamente fora dos padrões do que é ser um homem e do que é ser uma drag queen", observou.

"Eu não tenho compromisso com o visual de parecer uma mulher. A minha drag queen vem da androginia, dessa questão de querer cada vez mais questionar o que é feminino e o que é masculino. A minha arte já fez seu papel quando alguém pergunta 'mas é o Ikaro ou a Ikaro?'. É fazer você parar, olhar e questionar o que está vendo. Nós estamos acostumados a receber tudo mastigado e a não pensar naquilo que a gente recebe. A função da arte é fazer com que nós consigamos refletir sobre o mundo que a gente vive, então se montar é uma reflexão diária".

Drag Queens de programa do E! falam que Xuxa, Hebe e Elke Maravilha eram referências na TV

Mesmo sem ter muitas referências de drags queens na TV, as artistas contam quem forma as apresentadoras que as inspiraram e comemoram por poder ser essa representatividade que tanto falta ainda na programação. Penelopy citou que cresceu imitando Xuxa Meneghel, que é também uma das celebridades que elas sonham em transformar no programa.

"A Hebe também era um ícone feminino, minha mãe via toda segunda-feira, sempre muito extravagante, toda trabalhada no brilho e no poder. Elke Maravilha também, que falta ela faz neste mundo, que alma evoluída, inteligência. Tive a oportunidade de estar com ela em dois eventos e quem conheceu sabe que a energia dela era algo surreal, sou muito feliz de ter tido essa oportunidade de tirar foto com ela".

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