Verdades Secretas 2 é uma boa ideia mal escrita e executada

Ao final dos primeiros 10 episódios de Verdades Secretas 2 disponibilizados no Globoplay, a sensação que se tem é o puro e simples: poderia ter sido boa, mas não é. A novela de Walcyr Carrasco tem todo um conjunto de ideia, seja na elaboração narrativa - ou seja, a sinopse - ou até na concepção da estética da direção, tudo é planejado para funcionar, mas no ar, não deu certo em nenhum único episódio que fosse.

Após o primeiro capítulo, a sensação que se teve é de que nada poderia ser tão horrível quanto aquilo e era verdade. Os episódios seguintes - o Globoplay liberou 10 neste primeiro momento - tiveram leve melhora em relação à estreia e mostrou um intrincado jogo entre Giovana (Ágahta Moreira), Angel (Camila Queiroz) e Cristiano (Rômulo Estrela), o melhor da narrativa até aqui.

A ideia de Walcyr em trazer de volta Angel, livre da culpa pelo assassinato de Alex (Rodrigo Lombardi) ao mesmo tempo que é perseguida pela filha vingativa do empresário é boa. A forma como ela é obrigada a voltar para o mundo da moda e para o book rosa - marido falido e morto, e filho doente - também é muito boa. A paixão doentia que o detetive contratado por Giovanna para investigá-la nutre, criando um estranho triângulo amoroso é ótima. Mas no ar, nada funciona.

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A narrativa didática com o tom infantiloide que compõe a carreira de Walcyr se faz presente com letras muito fortes e atrapalha o desenvolvimento da história. O autor se preocupa mais em explicar o que está acontecendo do que propriamente mostrar, o que deixa tudo enfadonho e previsível. As cenas, em sua grande maioria, são bem pensadas, do ponto de vista dramatúrgico, mas ele próprio estraga a ideia ao inserir diálogos que fogem da densidade que a história, criada por ele, pede.

Tom autoral de Amora Mautner não funcionou em Verdades Secretas 2

Mas Walcyr também não pode ser taxado como o único culpado pelos problemas de Verdades Secretas 2. O tom autoral da direção que Amora Mautner tanto gosta e que foi um sopro de inovação em obras como Avenida Brasil e Assédio, não funcionam como deveriam aqui. Embora a fotografia e os takes sejam motivos de comemoração, a diretora comete dois erros importantes.

O mais grave é não trabalhar o elenco, já que nos primeiros dez episódios, praticamente ninguém está à vontade em seus papéis. Uma novela até funciona sem um take espetacular, mas não sem um elenco afiado e cabe ao diretor dar o tom correto para as interpretações.

O segundo acontece no fato de que Amora nitidamente quis dar uma identidade visual à produção, mas derrapou no fato de que há muitas informações simultaneamente na tela e atrapalha a compreensão. Já existe dificuldade em captar as nuances da narrativa porque Walcyr infantiliza tudo, com poluição visual fica tudo ainda pior.  O resultado é uma sucessão de equívocos em uma ideia que parecia boa.