Luto

Jornalismo brasileiro sofre um grande nocaute ao perder Ricardo Boechat

Boechat, você vai fazer muita falta ao jornalismo - Divulgação
Por Gabriel Vaquer

Publicado em 11/02/2019 às 14:49:01

Beirava ao inacreditável. Este repórter apurava uma outra questão, sobre a CNN Brasil, por volta das 13h20 do horário de Brasilia, quando recebo uma mensagem: "está sabendo que o Boechat estava no helicóptero que caiu na Anhanguera?".

Sem crer, querendo achar que tudo não passava de um boato, fomos apurar, mandamos mensagens para fontes na Band e telefonamos para o Corpo de Bombeiros de São Paulo, por volta de 13h36. Confirmado!

Dois minutos depois, o governo do Estado também confirma, em nota. Morre o jornalista Ricardo Boechat, aos 66 anos, com a queda de um helicóptero na rodovia Anhanguera.

Quem faz jornalismo, ou quem gosta de jornalismo, sabe da importância de Boechat para o meio. Na semana passada, provocou polêmica por causa da bronca que deu em uma produtora. Acontece, a profissão é estressante.

Ouvir Boechat no horário da manhã no rádio era quase uma obrigação para quem gostava de algo contestador, que tocasse na ferida de verdade. Ele era um dos únicos que realmente era independente, lúcido e verdadeiro, em tempos tão corretos.

Era tão respeitado, que por várias e várias vezes, cansou de dizer no ar que discordava da posição em relação ao futuro do Brasil do Grupo Bandeirantes, que lançou editorial apoiando Michel Temer em 2017 e 2018 algumas vezes. Boechat teve de lê-los, mas sempre comentou que discordava da posição de seus superiores. Mesmo assim, era mantido no ar.

Na TV, era um âncora equilibrado e um comentarista na medida. Além disso, cansou de brincar na principal bancada da emissora. Algumas vezes, apareceu de peruca para tapar a sua careca. Em outra, fez dupla com um robô. As brincadeiras viralizaram com facilidade.

Boechat era único. Tratava todos de igual para igual. Quase um mito jornalístico. Este repórter o encontro apenas uma vez, em dezembro, quando fui entrevistar Joel Datena para o NaTelinha, na sede da Band. Lhe vi de longe, ajudando a fechar o "Jornal da Band", mas tinha controle total da redação.

Meu editor já entrevistou Ricardo Boechat e lembra daquela conversa agradável, com risadas e palavras firmes, que renderam reportagem de capa em 2013.

Que você descanse em paz ao lado de Deus, Boechat. Você era incrível e sua obra ficará por aqui. Já o jornalismo sofre um forte nocaute. Por hoje, ficará na lona, mas amanhã precisa seguir firme e forte, para honrar tudo o que Ricardo Boechat fez.

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