Olhar TV

A sensível melhora de "Espelho da Vida"

Novela das seis ganha ritmo e investe em grandes sequências de sua trama central


Cris surta, Isabel comemora e Alain sofre
Fotomontagem/Divulgação

Demorou, mas finalmente “Espelho da Vida” mostrou a que veio. A novela das seis de Elizabeth Jhin, que se apresentou com uma ousada proposta de misturar o presente e o passado em uma só novela, acordou de uma letargia que durou praticamente a metade de sua trajetória. A autora finalmente trouxe à tona a história de Danilo/Daniel (Rafael Cardoso) ao lado de Júlia/Cris (Vitória Strada), bem como o processo de humanização de Alain (João Vicente de Castro) ao lado da filha (Clara Galinari) e as armações de Isabel (Alinne Moraes) para ter o cineasta a seu lado.

Cada vez mais por dentro da história de Júlia, a jornalista conseguiu as páginas perdidas do diário da jovem assassinada no tempo passado, enquanto a atriz viaja com maior frequência para o outro tempo e se depara com toda a saga de sua vida passada, em especial a truculência de seu noivo Gustavo Bruno (João Vicente de Castro) e seu pai Eugênio (Felipe Camargo) e a dissimulação da amiga Dora (Alinne Moraes). A incredulidade de Alain com a história de Cris vai provocando mais e mais brigas, enquanto a jovem chega a se envolver com Danilo.

Isabel, por sua vez, construiu uma nova “aliança”, dessa vez com Sheila (Dandara Albuquerque), a interesseira filha de Gerson (Cosme dos Santos), caseiro de Margot (Irene Ravache), grande amiga de Cris. Assim como já havia feito com Lenita (Luciana Paes) e Mariane (Kéfera Buchmann), a venenosa se aproveita de segredos da outra para conseguir o que deseja – e a última da dupla foi fazer com que Sheila colocasse um alucinógeno na comida de Cris, para provocar um surto e fazê-la se passar por louca.

O plano logo surtiu efeito: ao ler uma carta de Piedade (Júlia Lemmertz), mãe de Júlia na outra vida, Cris passa a enxergar Alain como Gustavo Bruno e surta, destratando o próprio ex-namorado como se fosse o do passado. O ataque persiste até mesmo contra Margot, vista pela mocinha como Hildegard (também vivida por Irene Ravache), mãe de Danilo e também contrária ao relacionamento do pintor com Júlia. Ela só consegue se conter com a chegada do médico Dalton (Marcello Escorel) e acaba sendo levada para uma clínica psiquiátrica, tornando o plano das vilãs um sucesso.

Exibida no capítulo desta quinta-feira (07), a sequência impactou pela impressionante entrega cênica de Vitória Strada ao momento. Foi difícil não se emocionar com tanto talento e competência da atriz ao ver a personagem se debatendo e chegando à beira da loucura durante o surto de Cris ao confundir passado e presente, comovendo a todos ao seu redor. E o que mais impressiona é que Vitória está apenas em seu segundo papel na TV e terceiro na carreira – antes, havia feito a protagonista Maria Vitória na cansativa “Tempo de Amar” (2017-18) e uma participação no filme “Real Beleza” (2015) – encabeçado por Adriana Esteves e Vladimir Brichta, um dos pares mais queridos e talentosos da TV.

Aliás, todo o elenco principal também merece os aplausos. Ao lado de Vitória, Alinne Moraes pode ser facilmente definida como uma das grandes forças de "Espelho da Vida". Embora Isabel tenha demorado a acontecer como vilã, Alinne em nenhum momento deixou sua personagem perder força. Pelo contrário, sempre fez a sedutora e maquiavélica jornalista impor sua presença em cada momento, criando fortes parcerias com Irene Ravache, Patricya Travassos, Clara Galinari (um achado mirim, que brilha em cena vivendo a adorável Priscila) e a já citada Vitória Strada, além de sua forte química com João Vicente. Definitivamente, com ela não tem tempo ruim ou personagem pequeno.

A sensível melhora de \"Espelho da Vida\"

Ainda merecem destaque a valorização da própria Patricya Travassos, cuja última novela havia sido a fracassada “Vitória” (2014-15, Record TV); Ana Lucia Torre, ótima como a fofoqueira Gentil; Felipe Camargo – que esbanja versatilidade e diferencia perfeitamente o canalha Eugênio do “picareta adorável” Américo, pai de Cris; Robson Nunes – também excelente como Bola, amigo e confidente de Alain; Letícia Persiles – mais uma vez fazendo parceria com a autora; e Dandara Albuquerque – ótima surpresa como Sheila, uma mulher ambiciosa e de caráter duvidoso. Poucos destoam, como Ângelo Antônio (novamente fazendo um perfil recorrente em sua carreira) e Rômulo Neto (que não convence ninguém na pele do pretenso galã Mauro César).

O investimento na trama principal em detrimento das paralelas – especialmente a de Mariane, um tanto deslocada do enredo, mesmo tendo relação com a obra que reflete o enredo central – deixou a trama muito mais atraente e afastou de vez a inércia que rondava a primeira metade da trajetória. Só é de se lamentar que seu efeito na audiência seja quase nulo, uma vez que o ibope continua em torno dos 17 pontos, uma das piores audiências do horário, ao lado de “Boogie Oogie” (2014-15), simpática e irregular novela do português Rui Vilhena.

Ainda assim, nesta metade final, “Espelho da Vida” ganhou um necessário fôlego. As viagens de Cris ao passado, a chegada de Daniel, a relação de Alain com a filha e as armações de Isabel têm rendido ótimas cenas e merecem a atenção do público. Mesmo que não revertam o fracasso em números, elas mostram que este é o enredo mais ousado de Elizabeth Jhin. Antes tarde do que mais tarde.

Confira o resumo semanal de "Espelho da Vida".

Mais Notícias

Enviar notícia por e-mail


Compartilhe com um amigo


Reportar erro


Descreva o problema encontrado