Antenado

Wagner Montes mudou os rumos do jornalismo local brasileiro na década passada

Wagner Montes faleceu na manhã deste sábado (26), aos 64 anos

Wagner Montes criou um estilo brincalhão de apresentar jornais locais
Por Gabriel Vaquer

Publicado em 26/01/2019 às 14:01:03

Noticiar a perda de um grande comunicador como Wagner Montes é muito triste. O apresentador e deputado federal faleceu neste sábado (26), depois de ficar dois dias internado com infecção urinária. A causa da morte divulgada foi choque séptico e sepse abdominal.

Mas para um amante e estudioso da televisão local, como é este mero repórter, é ainda mais difícil. Dá para dizer que perdemos, talvez, o grande responsável por transformar o jornalismo local brasileiro nos últimos tempos.

A história é simples, mas nem tão conhecida para quem mora fora do estado do Rio de Janeiro. Ela começa em 2005, quando Wagner Montes assume o então novato "Balanço Geral Rio". Criado na Bahia, o programa estava virando uma franquia nacional da Record TV, estreando versões pelo Brasil.

Até então, a Globo Rio e o SBT Rio apostavam em uma linguagem sisuda e muitas vezes fora da realidade da região em seus telejornais, com o "RJTV" e "SBT Rio". Mas Wagner mudou isso de forma extremamente drástica e forte.

Com um estilo brincalhão, colocando a linguagem do povo na TV e mostrando matérias do dia a dia das comunidades cariocas, incluindo-se aí tiroteios, assassinatos e problemas mais banais, Wagner criou um jeito único.

Ao bem da verdade, ele não foi o primeiro a fazer isso na TV local brasileira. Raimundo Varela, um dos criadores do "Balanço Geral", já tinha uma linguagem parecida, mas Montes melhorou e colocou ainda mais originalidade nisso.

Ele criou uma espécie de manual de como apresentar e tocar um programa popular local. Muito ao vivo, atrações musicais, matérias de forte apelo popular, bordões engraçados, brincadeiras com o público e os técnicos, e encerramento característico.

A audiência foi nas alturas e Wagner Montes virou um fenômeno pop no Rio de Janeiro, tendo seu auge em 2007 em termos de números de Ibope. A liderança no horário era tranquila, virando uma dor de cabeça para a Globo na faixa da hora do almoço.

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Em 2009, em resposta a tamanha informalidade e concorrência, a Globo muda - e muito - sua forma de apresentar o jornalismo local. Prestação de serviço e apresentador com uma linguagem próxima do público são os trunfos, com Ana Paula Araújo na frente. Com muito esforço, a emissora vira o jogo no Rio e acaba transformando o estilo experimentado em um padrão nacional.

Wagner perdeu força de audiência com as mudanças globais, e também com a incremento do SBT, que adicionou muita popularidade em sua faixa local no Rio de Janeiro, mas não dá para tirar o mérito do que fez. Se o jornalismo local é o que é hoje, foi ele que fez mudar pelo incômodo que causava.

Neste sábado, perdemos talvez o maior apresentador local da história da TV brasileira. Ninguém fez e ninguém mexeu tanto com as emoções de um público como Wagner Montes fez no "Balanço Geral Rio".

Que o filho descanse em paz junto com o Criador, que ele tanto exaltou nos encerramentos das atrações que apresentou.

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