Transformação

De paralisação das novelas à explosão dos realities: O impacto da Covid-19 na TV

Há um ano, novo coronavírus se tornava pandemia e impactava televisão


Cena de amor de Mãe dos bastidores
Amor de Mãe: os bastidores das gravações em meio à pandemia do novo coronavírus - Reprodução/Instagram
Por Thiago Forato

Publicado em 02/03/2021 às 04:30,
atualizado em 02/03/2021 às 09:29

Há um ano, o Brasil vivia a descoberta de um novo vírus. O novo coronavírus, intitulado de Covid-19, já havia desembarcado no país dias antes, mas ainda era cercado de muito mistério. Usar ou não máscara? Qual sua origem? O que podemos fazer para detê-lo? A doença originária a partir da região de Wuhan, na China, rapidamente se proliferou no mundo todo, impactando por tabela, a televisão. A produção de novelas logo foi suspensa, os programas de auditório perderam justamente o auditório e veteranos como Silvio Santos, Raul Gil e Carlos Alberto de Nóbrega se afastaram das telinhas. Os realities de confinamento, por sua vez, tiveram um renascimento e vêm surfando em altos números de audiência como há mais de 10 anos não se via.

Faustão foi um dos primeiros apresentadores a dar importância para a nova doença oriunda da China. Em seu dominical na Globo, ainda em 2 de fevereiro do ano passado, antes do surto de casos, quando ele ainda estava restrito ao próprio país chinês e parte da Europa, a atração recebeu um especialista no assunto para orientar o público sobre como se proteger da doença. "Todo mundo falava mal do Michael Jackson (1958-2009), mas era o Michael Jackson é que estava certo", disse Faustão, provavelmente se referindo ao fato do cantor fazer aparições públicas usando luvas e máscara.

Naquele mês de março de 2020, ainda, começaram as primeiras medidas para evitar o contágio do vírus na TV. A Globo, por exemplo, proibiu viagens internacionais e passou a estudar a suspensão de pessoas na plateia, o que viria a se confirmar poucos dias depois. Programas tradicionais da casa como o Domingão do Faustão e Altas Horas recorreram às reprises, enquanto o Encontro com Fátima Bernardes e Mais Você, foram suspensos. O Caldeirão do Huck, como já tinha muito conteúdo gravar, passou meses a fio exibindo inéditos.

O começo de uma nova era na TV

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Desde então, a produção de TV teve que se adequar a uma nova realidade. Com a suspensão de novelas, principal produto no Brasil, muita coisa começou a ser discutida e pensada, mas em um primeiro momento, todos os canais olharam para seus acervos para escolher reprises no intuito de tapar buraco. Por quanto tempo? Ninguém sabia.

A expectativa era que de que a Covid-19 atingisse seu pico no Brasil entre os meses de abril e maio, com uma volta a normalidade entre junho e julho, o que nunca acabou se concretizando. Por ser uma doença nova, pouco se sabia acerca dela, o que fez com que muitos subestimassem seu poder.

Quando a Globo lotou seu horário nobre de reprises, muitos passaram a refletir sobre os reais perigos do novo vírus que já fazia vítimas no Brasil. "Coronavírus, o terror da humanidade", desabafou Faustão no seu Domingão do dia 15 de março, quando apresentou pela primeira vez o seu dominical sem plateia em 31 anos de existência.

A volta às novelas aconteceu de maneira gradual. A Record foi por algum tempo a única a ter uma trama inédita no ar, enquanto a Globo viu no seu enorme acervo, uma espécie de "escudo" para produzir a conta-gotas. Até efeitos especiais em abraços e beijos foram utilizados, em uma realidade completamente diferente. O SBT ainda não retomou a dramaturgia e não tem previsão para isso.

Globo e Record sempre reiteram que todos os protocolos de segurança são seguidos à risca. As emissoras tentam driblar o vírus com distanciamento, álcool em gel, máscara, confinamento, espaço de circulação exclusivo, dentre outros itens.

Ao passo que de uma hora para outra ficamos sem produtos inéditos na TV, com exceção do jornalismo, o Big Brother Brasil, que vinha de uma edição fracassada 2019, mas que anunciara uma história para 2020, viu sua temporada explodir e ocupar um lugar diferente nos lares dos brasileiros, com clima de Copa do Mundo em provas e eliminações. Aliás, a Globo quebrou o protocolo e informou aos brothers como estava o mundo exterior com a doença.

A partir daí, um novo caminho se abriria para o gênero, que passou a surfar em altos índices de audiência. A Fazenda 12 acabou se aproveitando do cenário pandêmico e atingiu níveis como há 10 anos não se via. O sucesso se repete com o BBB21, cravando números de aproximadamente 40 pontos na Grande São Paulo.

Alta dos realities e afastamento dos veteranos

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A febre dos realities voltou de maneira tão grande que a Globo, em meio a um bem-sucedido BBB21, anunciou a volta do No Limite. Esta será a quinta temporada do reality que fez sucesso entre 2000 e 2001, mas cuja volta não deixou saudades em 2009. Os participantes serão conhecidos do público: todos eles ex-BBBs, o que fez com que a bolsa de apostas ficasse repleta de palpites. Segundo Boninho, o diretor do programa, ainda não há lista e nada do tipo.

Para quem consome produtor de auditório, seja quem assiste ou vai à eles, um baque: a suspensão da plateia fez um dos gêneros mais adorados da TV ser um tanto quanto diferente. Os veteranos tiveram que se afastar das telinhas. Silvio Santos, por exemplo, está há mais de um ano sem pisar nos palcos, algo que nunca aconteceu em sua vasta carreira.

Faustão, considerado do grupo de risco, ficou meses afastados e gravando as cabeças do seu Domingão de casa. Agora, está de volta, naquele que promete ser o seu último ano na Globo. Outros nomes consagrados como Raul Gil e Carlos Alberto de Nóbrega também só voltarão ao ar quando forem imunizados pela vacina.

Os programas de auditório vêm voltando. Ratinho, que também acionou reprises, voltou a princípio sem plateia, mas depois inseriu um número reduzido de pessoas, bem como o A Noite é Nossa, de Geraldo Luís. 

O papel da jornalismo na Covid-19

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Um dos protagonistas nessa nova fase que a TV vive é o jornalismo. As emissoras passaram a dar mais destaque à ele. Como recompensa, níveis de audiência como há muito não se via, com exceção do SBT, que viu pouca - ou nenhuma - alteração nos seus números.

Como principal veículo de comunicação de massa, a televisão viu seus números de audiência crescerem, e o público, com o confinamento e agora o toque de recolher presente em grande parte do país, um aumento no número de horas que passa assistindo a invenção trazida para o Brasil em 1950.

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