Copa do Mundo: Globo cria manual de comportamento para jornalistas no Catar
Emissora quer evitar que profissionais no Catar sofram com a lei do país
Publicado em 04/11/2022 às 19:05,
atualizado em 04/11/2022 às 19:05
A Copa do Mundo 2022 começa em menos de três semanas no Catar e a Globo já começou a enviar sua extensa equipe para o local. Por se tratar de um país com regras comportamentais muito rígidas, algumas até contrárias aos direitos humanos, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), a emissora traçou uma estratégia. A fim de evitar problemas diplomáticos, o canal criou um manual de comportamento para todos os profissionais que representarem a empresa durante o evento.
Mesmo tendo diminuído o número de funcionários in loco nesta Copa e abrindo até frente de trabalho no Brasil, com nomes de peso como Caio Ribeiro e Cléber Machado, a Globo enviará diversas pessoas para o Catar. Entre Galvão Bueno e auxiliares de iluminação e câmera, todos, sem exceção terão de cumprir o manual criado pela direção de esportes do canal.
O NaTelinha teve acesso a trechos do documento, que mostra a preocupação da Globo. Logo nas primeiras páginas, a direção da emissora explica que as regras são para evitar que quaisquer funcionários no país seja preso por descumprir a legislação. Durante boa parte do relatório, os executivos salientam que não se trata de censura ou mesmo violar a liberdade de seus contratados, mas pela preservação deles em um país com legislação rígida.
Entre as proibições estão as manifestações de afeto em público, ainda que seja de casal de namorados. O manual lembra ainda que a homossexualidade é proibida no Catar e que, diante disso, os funcionários não devem tentar se relacionar com pessoas do mesmo sexo. O documento da Globo lembra que, em caso de prisão, a situação pode sair do controle, e mesmo numa crise diplomática nem o governo federal poderia resolver.
Ainda que não conste oficialmente no texto rubricado, há uma lembrança não escrita. Mesmo com a derrota, Jair Bolsonaro (PL) segue como presidente durante o período de Copa e uma prisão de um funcionário da Globo certamente não contaria com a simpatia da Embaixada brasileira para resolver a questão, é o que dizem os chefes de setores para seus subordinados.
Globo deve criticar o Catar, mas só depois da Copa
Nos corredores da Globo fala-se que alguns jornalistas foram designados para mostrar, discretamente, como é a vida no Catar. A falta de direitos políticos, as perseguições à minorias e até como o esporte é refém das leis ultraconservadoras estão em pauta. Mas nada disso será exibido durante a exibição da competição.
De modo a garantir a proteção de quem estiver no Catar, a ideia da direção de jornalismo é montar reportagens especiais que serão exibidas após o término do torneio. Não há prazo para que esse material vá ao ar, possivelmente apenas em 2023, mas só quando todos estiverem de volta ao Brasil e de forma segura.
Alguns jornalistas mais experientes foram separados para cumprir pautas consideradas sensíveis. Ainda assim, eles são orientados a tomar cuidado e tratar a viagem ao Catar como uma zona de guerra. Por isso mesmo, a ordem é que ninguém improvise. A emissora lembra que está estritamente proibido entrar em zonas delicadas ou mesmo cobrir eventos ou personagens sem o consentimento da chefia. Tudo para evitar prisões.
Narradores, inclusive, foram orientados a não fazer críticas durante as transmissões porque a reação do governo do Catar é imprevisível.
A Globo trata a logística para a Copa do Catar como a mais difícil dos últimos anos e se preocupa porque a equipe de jornalismo esportivo não tem tarimba e experiência para cobrir este tipo de região. Por isso, profissionais que já estiveram em cobertura de guerra foram chamados para auxiliar com palestras, sugestões e mesmo depoimentos de modo a ajudar.
Procurada pelo NaTelinha, a Globo confirmou a confecção do manual. "É uma prática do Esporte da Globo, antes de grandes eventos, como Copas do Mundo e Jogos Olímpicos, preparar um guia com orientações e protocolos que é compartilhado com todos os profissionais que viajarão para participar da cobertura in loco. O guia inclui desde documentações necessárias até costumes dos países que estão sediando os eventos."