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Atuação da Semana: Selton Mello brilha em volta triunfal às novelas

Ator deu charme a um personagem incolor


Cena de Nos Tempos do Imperador com Selton Mello
Selton Mello está brilhando em Nos Tempos do Imperador - Foto: Divulgação/Globo

Quando a Globo anunciou o retorno de Selton Mello às novelas, no papel de ninguém menos que Dom Pedro II em Nos Tempos do Imperador, muito burburinho foi gerado, afinal, era a volta do ator ao formato depois de duas décadas afastado. Alguém pode ter torcido o nariz para a quantidade de reportagens tratando o fato como um marco, mas com a trama no ar, qualquer crítica sobre exagero perdeu o sentido.

O público de telenovela e que é mais distante do cinema e das séries, talvez tivesse se esquecido ou até nunca visto a composição minimalista e detalhada deste gênio da arte de atuar. Com poucos capítulos de Nos Tempos do Imperador, vê-lo em cena diz muito sobre os motivos que fizeram tanta gente comemorar seu retorno, embora não explique ainda qual a razão do ator ter escolhido justamente este papel.

Numa comparação mal feita, mas para rivalizar a mente do público, Dom Pedro II é uma espécie de Julia (Gloria Pires), de Belíssima (2005). Sem cor, sem charme e que não tem uma função dramática para prender a atenção do telespectador. Na novela de Silvio de Abreu, houve toda uma estruturação para que a personagem ganhasse ares melodramáticos, parte disso graças à avó, Bia Falcão (Fernanda Montenegro).

É provável que a rivalidade entre Pedro e Tonico (Alexandre Nero) apareça nos próximos capítulos e com a trama política encorpando, mesmo assim parece insuficiente para uma carga dramática que dê força ao personagem, que parece mergulhado entre dois amores chatos, Thereza Cristina (Letícia Sabatella) e Luísa (Mariana Ximenes). Não existe um arranque para que o personagem seja atrativo aos olhos do público e, justamente por isso, é um mistério que Selton tenha escolhido voltar justamente assim.

Atuação da Semana: Selton Mello brilha em volta triunfal às novelas

Por outro lado, a aposta do artista pode ter sido justamente nisto. A antinarração vivida pelo protagonista transforma o personagem em praticamente ininterpretável, desses papéis que poucos nomes conseguiriam dar algum sentido. Para seguir traçando paralelos, podemos lembrar do Tufão (Murilo Benício), em Avenida Brasil (2012). Mas lá, como em Belíssima, a falta de amparo do mocinho ou mocinha, vinha numa rede em que outros personagens cumpriam este papel e em Nos Tempos do Imperador isso ainda não aconteceu.

Chama a atenção como Selton deu a Pedro ares aristocráticos e humanizados, ao mesmo tempo em que ele mantém o que o subtexto pede dele: um protagonista sufocado pela própria vida e que não consegue dar um passo diante de si por medo de tudo desmoronar. Dramaturgicamente pode não contribuir muito para a história andar, mas nas mãos de um bom ator, o que se vê é o talento jorrando pela tela.

Muita gente pode preferir outro estilo de interpretação. Dentro da próprio novela é possível vê-lo, como Alexandre Nero, brilhando como o vilão Tonico. Mas Selton não é assim, é minimalista e, neste estilo talvez seja o melhor de todos no país. Tom de voz, olhar certeiro e movimentação planejada dentro de cena dão um charme que Pedro dificilmente teria nas mãos de alguém menos experiente.

Dom Pedro II não é historicamente o melhor dos personagens que passaram pelo Brasil. Na novela, ele passa longe de ser o heroi que se espera de um protagonista de novela, tudo isso é verdade. Mas Selton Mello ensina como qualquer personagem tem nuances que, às vezes, só os gênios podem enxergar. Feito ele.

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