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As Five estreia como reflexo de um Brasil sobrevivente em 2020

Produção já teve seu primeiro episódio liberado


Cena de As Five com as cinco amigas se abraçando
As Five voltou como um reflexo social do Brasil 2020 - Foto: Reprodução/Globoplay

Quando a Globo confirmou que um spin-off de Viva a Diferença seria produzido para o Globoplay com o nome de As Five, muita gente especulou qual seria o formato. Conforme Cao Hamburger, autor de ambos os projetos, foi liberando as primeiras informações da série houve quem torcesse o nariz ou até se assustasse, afinal, o roteirista parecia que ia destruir tudo o que construiu na temporada de Malhação. Mas o primeiro episódio da produção, que está disponível desde a última quinta-feira (11) no serviço de streaming do Grupo Globo, mostra que Keyla (Gabriela Medvedosvki), Lica (Manoela Aliperti), Tina (Ana Hikari) Ellen (Heslaine Vieira) e Benê (Daphne Bozaski) são signos de um Brasil em 2020, sobreviventes. (Atenção: Este texto contém spoiler).

Quem assiste aos primeiros 40 e poucos minutos das cinco amigas que se conheceram durante um parto num metrô em São Paulo enquanto ainda eram adolescentes percebe que tudo mudou e muita coisa virou do avesso. Embora o brilho de Keyla tenha desaparecido, a militância de Lica tenha ido embora, até mesmo a esperança de Tina, assim como o isolamento de Benê ou também o equilíbrio de Ellen, nem tudo está tão fora do lugar quanto parece. As cinco continuam unidas por um laço quase familiar que funciona a qualquer momento em que se reencontram.

Mas se Viva a Diferença teve por objetivo mostrar cinco adolescentes descobrindo como ser diferente é normal e conquistando seu próprio espaço no mundo, As Five saltou no tempo. Não se trata apenas de cinco jovens se transformando em mulheres e cada uma com suas responsabilidades, trata-se de adultas tentando fazer o que o brasileiro faz desde sempre: sobreviver.

Ainda que As Five mantenha elementos fundamentais em toda série jovem, com as constantes baladas, muita droga e sexo sem compromisso, a série se mostrou muito mais do que isso no primeiro episódio. Assim como já fez em Viva a Diferença, Cao Hamburger faz um complexo retrato social por meio de sutilezas que raramente são vistas na dramaturgia brasileira.

As Five estreia como reflexo de um Brasil sobrevivente em 2020

Num país que vê seus índices de economia despencarem ao mesmo tempo que o emprego evapora e que a inflação sobe, todo brasileiro se sentiu desajustado também por causa de uma pandemia que não era vista nos últimos 100 anos. As Five poderia ser um retrato caricatural de cinco mulheres se descobrindo adultas, mas ela se tornou fundamental num momento em que o país está em desalinho.

Benê perder a casa logo no primeiro episódio não é muito distante de milhões de brasileiros que não conseguiram pagar o aluguel, assim como Keyla ser demitida é um paralelo sobre os 14 milhões de desempregados do país. Mas há ainda Tina que precisa lidar com um luto, assim como mais de 150 mil famílias em 2020. O desespero da Lica, como ela mesmo se definiu "não trabalho, não estudo e não tenho projetos", é o brasileiro médio deste ano, assim como Ellen e seus conflitos asfalto/favela.

Certamente quando escreveu As Five Cao Hamburger buscou um reflexo social amplo e representar mulheres fortes e não mais adolescentes buscando forças, mas um dos papeis da dramaturgia é este, resistir ao tempo e ir além das pretensões iniciais. Num ano tão difícil como 2020, o roteirista fez com que o primeiro episódio de sua série cumprisse um papel fundamental de fazer o brasileiro se ver ali.

Em Viva a Diferença o maior ensinamento do autor já havia sido que, em dramaturgia, o público abraça quando o tema é mostrado ao invés de ser falado. Quando o personagem explica ao invés de viver, a história perde força e foi assim que a temporada de Malhação guardou seu maior segredo: sempre mostrar, nunca contar. Esta é a máxima de As Five e que, mostrando os dramas dos brasileiros, se tornou, em 2020, o que as telenovelas costumavam ser antes de serem substituídas por documentários de militância: um reflexo do país.

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