Os melhores e piores da teledramaturgia em 2018
Colunista aponta quem foi bem e quem foi mal segundo sua visão pessoal
Publicado em 25/12/2018 às 09:15
Se 2017 foi um ano generoso para a teledramaturgia, 2018 não repetiu esta excelência. Ao menos não nas novelas. Enredos duvidosos, tramas sem maior carisma e a falta de ousadia marcaram a safra de folhetins deste ano. Em compensação, a temporada foi generosa para as séries, que representaram com mais fidelidade o papel de proporcionar histórias empolgantes e grandes atuações.
Dito isto, proponho aqui uma seleção pessoal, onde aponto o que considero os melhores e piores da teledramaturgia no ano que se encerra.
Melhor Novela: "Orgulho e Paixão"
Numa safra complicada, a simpática história de Marcos Bernstein apresentou o conjunto mais consistente, sem maiores sobressaltos. Baseada em obras da escritora inglesa Jane Austen, a novela conquistou o público com boas doses de romantismo e fantasia, fundamentados em um enredo ágil, coeso e repleto de personagens carismáticos e casais apaixonantes. Mesmo marcando dois pontos a menos que a antecessora “Tempo de Amar”, "Orgulho e Paixão" mereceu muito todos os elogios que recebeu e deixa saudades até agora.
Menções honrosas: "Onde Nascem os Fortes" e "As Aventuras de Poliana" (SBT).
Melhor Série: "Sob Pressão"
A primorosa série de Jorge Furtado, adaptada do livro de Márcio Maranhão e no filme homônimo, foi aclamada em sua primeira temporada. E na segunda, conseguiu o que parecia impossível: se tornou ainda mais forte e mostrou que tem muito a dizer sobre a lastimável situação da saúde pública brasileira. Desta vez, com um elemento surpreendente: Fernanda Torres, após muitos anos dedicada à comédia, foi uma grata aquisição na pele da corrupta e ambiciosa Renata, um retrato fiel do dano que a influência política pode causar, com consequências até irreversíveis. Fernanda se juntou ao impecável elenco liderado por Júlio Andrade, Marjorie Estiano e cia e contribuiu decisivamente para o sucesso desta nova leva de episódios.
Menções honrosas: "Assédio" (Globoplay), "Entre Irmãs" e "Treze Dias Longe do Sol".
Melhor Atriz: Adriana Esteves
Um furacão. Assim se pode definir Adriana. Quando ela resolve brilhar em uma história, sai da frente. Sua competência e versatilidade se viram presentes mais uma vez no horário das 21h. Em “Segundo Sol”, repetindo a parceria com João Emanuel Carneiro, a veterana tratou de não deixar qualquer traço da icônica Carminha de Avenida Brasil respingar em Laureta – até por serem de personalidades totalmente diferentes. A vilã divertiu, causou raiva e empolgou o público fiel da trama. E na pesada série “Assédio”, vitrine do Globoplay, a atriz mostrou porque tem que ganhar o Emmy. Na pele de Stela, vítima do asqueroso Dr. Roger Sadala (Antônio Calloni), a atriz emocionou demais. Por isto, é facilmente a melhor atriz do ano.
Menções honrosas: Marieta Severo ("O Outro Lado do Paraíso"), Nathalia Dill e Vera Holtz ("Orgulho e Paixão"), Deborah Secco ("Segundo Sol"), Juliana Paiva ("O Tempo Não Para"), Vitória Strada e Alinne Moraes ("Espelho da Vida"), Patrícia Pillar e Alice Wegmann ("Onde Nascem os Fortes").
Melhor Ator: Vladimir Brichta
Brichta merece a menção de destaque por sua grande fase nos últimos anos, após o malandro Celso da série “Justiça” (2016) e o roqueiro Gui Santiago de “Rock Story” (2016-17). Agora, o ponto alto foi o vilão Remy, de “Segundo Sol”. Em uma deliciosa parceria com a esposa – que poderia ser ainda melhor aproveitada se os personagens fossem amantes, e não irmãos – Vladimir viveu um tipo ironicamente oposto ao seu antecessor (o empresário sacana, que em RS foi representado por Lázaro, vivido por João Vicente de Castro). E mostrou que é muito mais do que seus tipos voltados à comédia poderiam supor.
Menções honrosas: Thiago Fragoso ("O Outro Lado do Paraíso"), Thiago Lacerda ("Orgulho e Paixã"o), Fábio Assunção e Alexandre Nero ("Onde Nascem os Fortes") e Edson Celulari ("O Tempo Não Para").
Melhor Atriz Coadjuvante: Gabriela Duarte
Mais uma vez as coadjuvantes renderam trabalhos inspiradíssimos. Mas a vencedora desta categoria não poderia ser outra. Bissexta em novelas nos últimos anos – sua última inteira foi “Passione”, de 2010 – Gabriela Duarte voltou com tudo na pele da poderosa e sofrida Julieta Bittencourt, a Rainha do Café de “Orgulho e Paixão”. Vivenciando com maestria a dolorosa trajetória de uma mulher endurecida pela violência de seu falecido marido, Gabriela trouxe uma irretocável composição, formando encantadoras parcerias com Maurício Destri (Camilo, filho de Julieta) e Marcelo Faria – cuja química faria de Aurélio e Julieta um dos casais mais ricos da história de Marcos Bernstein. Que bom que Gabriela foi valorizada. Ela merecia muito este presente.
Menções honrosas: Marina Moschen ("Deus Salve o Rei"), Agatha Moreira, Alessandra Negrini, Chandelly Braz, Grace Gianoukas, Natália do Vale e Christine Fernandes ("Orgulho e Paixão"), Fernanda Rodrigues, Fernanda Montenegro, Nathalia Timberg e Laura Cardoso ("O Outro Lado do Paraíso"), Letícia Colin e Fabiula Nascimento ("Segundo Sol"), Irene Ravache e Suzana Faini ("Espelho da Vida"), Milena Toscano ("As Aventuras de Poliana"), Débora Bloch e Maeve Jinkings ("Onde Nascem os Fortes").
Melhores Atores Coadjuvantes: Ary Fontoura e Chay Suede
Abro aqui uma exceção para escolher dois talentos de diferentes gerações. O veterano ganhou de Bernstein um presente valioso. Afrânio, o falido Barão de Ouro Verde, divertiu pelo jeito ranzinza e suas exaltações a Dom Pedro II, além de formar uma deliciosa parceria com Agatha Moreira (sua neta Ema) e Rodrigo Simas (o humilde Ernesto), sendo um grande incentivador do casal formado pela baronesinha com o carcamano. E também emocionou na cena de sua morte, na reta final da novela das seis.
Já o ex-"Rebelde" viveu um de seus pontos mais altos na pele do problemático Ícaro. Ao lado de Letícia Colin, viveu o casal mais quente e empolgante de “Segundo Sol”, apesar dos erros de condução do autor e de não terem ficado juntos. O jeito desbocado e irresponsável do filho mais velho da marisqueira Luzia (Giovanna Antonelli) permitiu a Chay mostrar seu melhor desempenho até aqui.]
Menções honrosas: Johnny Massaro ("Deus Salve o Rei"), Maurício Destri, Tarcísio Meira, Marcelo Faria, Rodrigo Simas ("Orgulho e Paixão"), Lima Duarte ("O Outro Lado do Paraíso"), Milton Gonçalves ("O Tempo Não Para"), Odilon Wagner, Roberto Bonfim, Danilo Mesquita e Fabrício Boliveira ("Segundo Sol"), Felipe Camargo ("Espelho da Vida"), Enrique Diaz, Irandhir Santos, Lee Taylor e Jesuíta Barbosa ("Onde Nascem os Fortes").
Melhor Atriz Revelação: Cláudia di Moura e Kelzy Ecard
Mais uma vez elejo duas vencedoras em uma categoria. Desta vez, considero importante que ambas sejam mencionadas por quebrarem um estigma: o de que só atores jovens podem ser considerados revelações da TV. Experiente no teatro baiano, Cláudia di Moura esbanjou competência e sensibilidade vivendo Zefa, a subserviente governanta de Severo Athayde (Odilon Wagner) em “Segundo Sol”.
Por sua vez, Kelzy, também com longo currículo nos palcos, trouxe à tona, através de Nice, a lamentável realidade da violência contra a mulher em suas variadas formas, não apenas a física.
Menção honrosa: Bella Piero ("O Outro Lado do Paraíso")
Melhor Ator Revelação: Pedro Henrique Muller
O intérprete do capitão Otávio começou discretamente, mas ganhou espaço à medida que Luccino (Juliano Laham) foi descobrindo sua homossexualidade através da experiência com Mário, na verdade um disfarce de Mariana (Chandelly Braz) para tentar conquistar o coronel Brandão (Malvino Salvador). Sua competência enriqueceu a parceria com Laham, que culminou no primeiro beijo de um casal homoafetivo em uma trama das seis. O par ainda chamou atenção justamente pela quebra de estereótipos, pelo fato de exercerem profissões tidas como masculinas (militar e mecânico).
Melhor Atriz Mirim: Clara Galinari
Embora “Espelho da Vida” esteja apenas na metade de sua exibição, a intérprete de Priscila – filha da vilã Isabel (Alinne Moraes) – já demonstrou nestes três meses um talento genuinamente infantil, sem a tentativa de empostação adulta que acomete alguns intérpretes mirins. Ao lado de Alinne, Irene Ravache e João Vicente de Castro, Clara vem emocionando especialmente com o sofrimento de Priscila ao descobrir ser filha de Alain (João Vicente), em uma relação que começou da pior forma possível – e a menina terá contribuição decisiva na transformação do protagonista.
Menção honrosa: Sophia Valverde ("As Aventuras de Poliana")
Melhor Ator Mirim: Thales Miranda
Ele ficou pouco tempo em “Segundo Sol”, mas chamou a atenção logo de cara. O jovem Ícaro representou para Chay Suede quase o que Mel Maia representou para Débora Falabella em “Avenida Brasil”. Também elogiado pela naturalidade, o garoto emocionou nos primeiros capítulos da história baiana de João Emanuel Carneiro.
Menções honrosas: Davi Queiroz ("Segundo Sol"), Igor Jansen ("As Aventuras de Poliana")
Melhor Atriz de Série: Marjorie Estiano
A melhor revelação da história de “Malhação” deu continuidade à brilhante trajetória de Carolina. Agora, a médica viu seu lado humano aflorar ainda mais quando lidou com o trauma de rever o pai abusador (vivido por Luís Melo) e em situações extremas, como o acidente de ônibus que sofreu e a injusta acusação de ter trocado as substâncias que mantinham Samuel (Stepan Nercessian) vivo. Marjorie se entregou por completo em todas essas sequências e emprestou um brilhantismo raramente visto no ar. E ainda emocionou muito no início do ano, vivendo a sonhadora Emília da primorosa “Entre Irmãs”.
Menções honrosas: Paula Possani, Jéssica Ellen, Mariana Lima e Hermila Guedes ("Assédio"), Fernanda Torres ("Sob Pressão"), Nanda Costa, Rita Assemany, Cyria Coentro e Letícia Colin ("Entre Irmãs"), Débora Bloch ("Treze Dias Longe do Sol").
Melhor Ator de Série: Júlio Andrade
Ele se destaca por suas seletivas participações na TV. É raro vê-lo em uma novela – e isso não é um demérito. E mais uma vez Júlio Andrade mereceu todos os elogios pela cirúrgica atuação como o calejado e atormentado Dr. Evandro, que nesta temporada tornou ainda mais forte o dilema entre a sua autodestruição causada pelo vício em drogas e sua missão de salvar vidas em quaisquer circunstâncias. Definitivamente, um perfil que não é para qualquer intérprete.
Menções honrosas: Selton Mello e Lima Duarte ("Treze Dias Longe do Sol"), Antônio Calloni ("Assédio"), Stepan Nercessian ("Sob Pressão"), Júlio Machado, Rômulo Estrela, Fábio Lago e Cláudio Jaborandy ("Entre Irmãs")
Melhor Casal: Ema e Ernesto / Aurélio e Julieta
Em matéria de casais, não teve pra quase ninguém. “Orgulho e Paixão” deu um banho e apresentou uma infinidade de pares bem construídos e cativantes, algo raramente visto nas outras novelas da safra. Ainda assim, dois em especial se destacaram: #Erma e #Aurieta.
O par mais jovem surgiu de uma correção de rota do autor, em que Ema (Agatha Moreira) se afastou de Jorge (Murilo Rosa) e construiu uma empolgante relação de gato e rato com o humilde Ernesto (Rodrigo Simas), o que relegou seu antigo par a terceiro plano.
Já o casal mais maduro encantou pela química de Marcelo Faria e Gabriela Duarte e pela reconstrução de Julieta como mulher e mãe, tendo Aurélio como seu fiel incentivador.
Menções honrosas: Darcy e Elisabeta (Thiago Lacerda e Nathalia Dill), Camilo e Jane (Maurício Destri e Pamela Tomé), Rômulo e Cecília (Marcos Pitombo e Anaju Dorigon), Randolfo e Lydia (Miguel Rômulo e Bruna Griphao), Brandão e Mariana (Malvino Salvador e Chandelly Braz), Luccino e Otávio (Juliano Laham e Pedro Henrique Muller) – todos em "Orgulho e Paixão", Ícaro e Rosa (Chay Suede e Letícia Colin em "Segundo Sol").
Pior Novela: "Malhação - Vidas Brasileiras"
Patrícia Moretzsohn declarou, na apresentação de estreia, que a elogiada “Viva a Diferença”, de Cao Hamburger, fez "Malhação" chegar a um patamar para o qual não tinha mais como voltar. No entanto, por mais incrível que pareça, ela conseguiu retroceder absolutamente tudo que Cao criou. E mais um pouco. A tentativa de reproduzir o modelo da canadense “30 Vies” falhou miseravelmente pela superficialidade dos conflitos, que surgiam do nada e se resolviam igualmente de forma inesperada; pelo fraco elenco jovem, do qual praticamente nenhum ator se aproveita?—?o que causa estranheza, justamente por Malhação ser conhecida como uma “escola” de jovens atores -, e por inúmeras situações constrangedoras. Não tem como ser outra: é a pior produção dramatúrgica do ano. E olha que a concorrência foi dura.
Menções não-honrosas: "O Outro Lado do Paraíso", "Apocalipse", "Segundo Sol", "Deus Salve o Rei"
Pior Ator: Sérgio Marone
O intérprete nunca foi exatamente um bom ator, nem mesmo em sua passagem pela Globo. Em “Os Dez Mandamentos”, de 2015, sua inexpressividade como o vilão Ramsés já saltava aos olhos. Mas tudo chegou ao ápice da vergonha alheia em “Apocalipse”, malfadado projeto da RecordTV que propunha levar a mensagem bíblica através dos tempos atuais. Em um caricatíssimo e constrangedor retrato do Anticristo, “enriquecido” por uma bizarra narração – reflexo da mão pesada da Igreja Universal nos textos da trama – Marone mostrou que, com todo respeito, atuar não é a praia dele.
Menção não-honrosa: Sérgio Guizé ("O Outro Lado do Paraíso")
Pior Atriz: Cleo Pires
Cleo – que agora abriu mão do consagrado sobrenome da família – vem atirando para todos os lados, seja sobre suas declarações sobre sua vida íntima ou sua controversa incursão musical. No entanto, no campo dramatúrgico, a atriz não foi feliz na composição de sua vilã Betina, de “O Tempo Não Para”. Além da personagem ser uma típica mulher obcecada pelo ex, que não aceita de jeito nenhum o fim do relacionamento, Cleo vem exagerando nas caras e bocas na tentativa de parecer uma mulher sexy e malvada. Sem sucesso.
Pior Casal: Afonso e Amália
O par formado por Marina Ruy Barbosa e Rômulo Estrela em “Deus Salve o Rei” foi um grande exemplo de como não se fazer um casal romântico. Primando pela hipocrisia e falta de moral, os dois tinham atitudes de personagens ambíguos mesmo tendo sido vendidos como mocinhos íntegros. A ausência de química entre os dois ficou evidente ao longo da novela e a arrogância de Amália – em atuação pouco inspirada de Marina Ruy Barbosa – fez da personagem a pior mocinha de uma novela em muito tempo. Um par para esquecer.
Menções não-honrosas: Diego e Melissa (Arthur Aguiar e Gabriela Mustafá em "O Outro Lado do Paraíso"), Jorge e Ema (Murilo Rosa e Agatha Moreira em "Orgulho e Paixão"), Cris e Alain (Vitória Strada e João Vicente de Castro em "Espelho da Vida").
A julgar pelo apresentado neste ano, as novelas vão precisar se reinventar em 2019. Mas não no sentido de modificarem suas fórmulas, e sim de redescobrirem o caminho para trazer histórias cativantes. As séries, por sua vez, viveram um grande momento e ampliaram sua força no mercado dramatúrgico.
Que 2019 seja um ano mais inspirado para a teledramaturgia! E um Feliz Natal e Ano Novo cheio de paz, saúde e sucesso para todos!