Análise

The Bold Type é muito mais do que uma série sobre o universo feminino

Produção se destaca ao abordar temas sobre a sociedade cosmopolita


Kat, Sutton e Jane abraçadas
Kat, Sutton e Jane são as protagonistas de The Bold Type
Por Taty Bruzzi

Publicado em 14/06/2021 às 08:15,
atualizado em 14/06/2021 às 08:50

Lançada originalmente em 2017, nos Estados Unidos, The Bold Type chegou ao Brasil pela Netflix somente no dia 8 de maio deste ano. Ao todo, são quatro temporadas disponíveis na plataforma de Streaming.

Sucesso lá fora, a produção tem como cenário principal a redação da revista Scarllet, localizada na cidade de Nova York e comandada pela editora-chefe Jacqueline Carlyle (Melora Hardin), responsável por inserir o olhar masculino nas pautas.

Cada episódio mostra como funciona a produção de uma das mais importantes publicações femininas da cidade, o que inclui o trabalho da equipe, reuniões de pauta, pesquisa de campo, editoriais de moda e mídias sociais, entre outros.

O mundo corporativo também faz parte da série, isso porque a publicação pertence a um grande grupo empresarial, que conta com um Conselho que se faz presente sempre que precisa abordar problemas jurídicos, normas adotadas pela empresa, interesses financeiros ou mudanças na linha editorial, por exemplo.

The Bold Type é muito mais do que uma série sobre o universo feminino

A trama destaca um trio de protagonistas, a redatora Jane Sloan (Katie Stevens), a diretora de mídia social Kat Edison (Aisha Dee) e a assistente de moda Sutton Brady-Hunter (Meganhnn Fahy).

Amigas inseparáveis, começaram na revista quase que ao mesmo tempo e, desde então, se apoiam em cada decisão que uma precisa tomar, seja ela referente a sua vida pessoal ou profissional.

Sempre que uma delas tem questões, problemas ou novidade, as três se reúnem no "armário da moda" para conversar, uma espécie de closet com peças e acessórios disponíveis para a produção de capas e editoriais, ou para serem usados por editores e repórteres em eventos, o que é muito comum em ambientes como este.

São através das três funcionárias da Scarlett que se desenvolve temas a serem abordados em cada episódio, a maioria em forma de pauta que vai estampar as páginas da revista.

Mas engana-se quem define The Bold Type como mais uma série de "mulherzinha", um reboot de Sex and the City (1998-2004) ou adaptação de O Diabo Veste Prada (2006).

Vestida com tailleur Chanel, ou sobre um Loubotin original, a série ultrapassa o universo Prêt-a-Porter e promove debates relevantes sobre uma sociedade patriarcal dentro e fora do mercado de trabalho.

Produção tem ingredientes que atraem os amantes das comédias românticas

The Bold Type é muito mais do que uma série sobre o universo feminino

The Bold Type é inspirada na vida e carreira de Joanna Coles, ex-editora-chefe da revista Cosmopolitan americana, produtora executiva da série. Elogiada pela crítica, chegou ao Brasil quatro anos depois do seu lançamento.

O enredo é basicamente focado nas três amigas que se unem para conquistar o sucesso profissional na cidade de Nova York, velho clichê para conquistar os fãs do gênero das comédias românticas.

É através das aventuras de Jane, Kat e Sutton que a produção consegue inserir temas relevantes como racismo, diferença de gêneros, posicionamentos políticos, machismo e imigração, entre tantos outros, de forma leve e natural, o que torna quase que imperceptível ao espectador a discussão sobre determinado assunto.

Ao longo das quatro temporadas já disponíveis no Brasil, as três amigas se veem envolvidas em dilemas que fazem parte da vida de jovens adultos como relacionamentos amorosos, problemas financeiros e crises de identidade.

É uma série feminista, ou feminina, então? Não necessariamente! Toda produção precisa de mecanismos que a sustente por 3, 6, 10 temporadas... Que seja! E com The Bold Type não poderia ser diferente. A partir daqui contém spoiler.

Jane, por exemplo, entrou na Scarllet ainda como estagiária, sendo promovida a redatora, e ganhou sua própria coluna, com direito a sala privativa e assistentes, a partir da quarta temporada.

Na vida pessoal, vive o drama de ter perdido a mãe ainda criança para um câncer de mama, e descobriu, aos 26 anos de idade, que possui a mutação do gene BRCA, que favorece o desenvolvimento da doença.

The Bold Type é muito mais do que uma série sobre o universo feminino

Diretora de mídia social, Kat é uma garota forte, independente, destemida e ousada, que vive conectada e sabe lutar pelo que quer. Na primeira temporada, se sente atraída por Adena (Nikohl Boosheri) e mergulha em um relacionamento lésbico. Novas experiências a farão perceber que é bissexual.

Das três, Sutton é a que mais trabalha. Inicia a trama como secretária, enquanto sonha em ingressar no ramo da moda. Se torna assistente de Oliver (Stephen Conrad Moore), estilista da Scarlett. e mantém um caso secreto com Richard (Sam Page), advogado e membro do Conselho, porque namoro entre colegas de trabalho é proibido na empresa.

Único homem na redação, Alex (Matt Ward) aceitou trabalhar na Scarllet depois de perder a vaga dos sonhos em outra publicação. Assina uma coluna sobre relacionamentos amorosos e, graças a este trabalho, descobre seu lado machista, até então camuflado, reflexo da sociedade patriarcal existente, e passa a questionar-se.

Olhar de espectador

The Bold Type é muito mais do que uma série sobre o universo feminino

Um dos motivos que me fizeram seguir a carreira de jornalista foi a paixão pelas revistas, companheiras durante toda minha adolescência. Foi através das páginas de publicações femininas que eu aprendi sobre saúde, moda, sexo, e tantos outros assuntos relevantes.

Quando recebi aviso da Netflix sobre The Bold Type me senti atraída na hora. Não sou de maratonar séries por conta do pouco tempo disponível e cansaço, mas assisti uma temporada por semana, e hoje me sinto órfã, enquanto a próxima não chega por aqui.

O universo dentro de uma redação, o dia a dia dos profissionais de comunicação, reunião de pauta, produção de editorias de moda, pesquisa de campo - tudo tão raro em tempos de pandemia e quando o home office se faz necessário -, me fascinam.

Fora isso, os temas são de extrema importância e só quem tirar um tempo para assistir vai entender sobre o que estou falando. Não é só sobre amores impossíveis, mercado de trabalho e sapatos de grife.

É sobre ser propicio a uma doença que pode matar e ter que se submeter a uma mastectomia preventiva aos vinte e poucos anos. Sobre ser abordado por policial por ter nascido em um país muçulmano, ou confundido com arruaceiro por um morador de bairro nobre só por causa do tom da sua pele.

É sobre políticas públicas, ou a falta delas. Sobre a diferença salarial entre gêneros, a proibição de romances entre colegas de trabalho, a demissão de mulheres solteiras, bonitas e independentes de seus cargos para não "distrair" os homens do mesmo setor.

Não é mais uma série sobre medicina, moda ou "Sexo, Drogas e Rock 'n Roll". É sobre Centros de Conversão para gays, família tradicional americana, damas da sociedade, cargos políticos, ascensão profissional.

Não é só uma série sobre o universo jornalístico, é sobre a importância de dar voz à sociedade, de ir atrás das fontes, de contar histórias, combater injustiças, de se fazer pensar, refletir, questionar... É sobre ser jornalista e mulher.

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