Opinião

40 anos do Rock in Rio pode ficar marcado como a pior edição

Produção peca ao deixar a essência do festival cair no esquecimento


Logo 40 anos do Rock in Rio
Festival comemora 40 anos em 2024 - Divulgação
Por Taty Bruzzi

Publicado em 30/04/2024 às 05:47,
atualizado em 30/04/2024 às 10:30

"Se a vida começasse agora, e o mundo fosse nosso outra vez, se a gente não parasse mais de se amar, de se dar, de viver"... Há 40 anos, um jovem promissor do show business deu a largada para a realização de um sonho ousado. Nascia ali o Rock in Rio, o maior festival de música da América Latina.

O ano era 1985 quando Roberto Medina apostou alto, reunindo artistas novatos e veteranos, bandas icônicas e fãs em um único local, "uma cidade" que se transformaria em um mar de lama, de amor e de muito rock n' roll.

Quatro décadas depois, não seria exagero afirmar que a primeira edição do festival ainda é considerada a melhor de todas, mesmo sem o glamour das marcas patrocinadoras, os brinquedos radicais ou a chuva de fogos iluminando o céu do Rio de Janeiro no início e final de cada noite.

40 anos do Rock in Rio pode ficar marcado como a pior edição

Para este ano, os organizadores prometeram muito, mas faltando poucos meses para os shows, e com a agenda quase toda comprometida, estão entregando pouco ou quase nada.

Exagero? Até pode ser! Afinal, Cindy Lauper, "dinossauro" do gênero pop dos anos 80, foi escalada. Assim como a queridinha de 9 entre 10 da geração anos 90 e 2000, Mariah Carey.

Divas de ontem e hoje fazem um bom festival? Até pode ser, mas será que têm cacife suficiente para fazer dos 40 anos do Rock in Rio algo inesquecível? As noites em que se apresentarem, sim, claro. Mas como fica o capítulo dois?

Aumenta que isso aí é Rock n' Roll

A gente piscou e o Rock in Rio chegou a idade da loba. Quando ainda era um bebê, os planos que Roberto Medina profetizou aconteceram antes mesmo de o festival chegar a maioridade.

Seguindo a linha cronológica, a segunda edição ocorreu seis anos depois da sua pioneira, mas ao contrário de um local descampado, o cenário escolhido foi o Maracanã, um dos maiores símbolos da cidade.

Em sua line-up nomes como Guns N' Roses, Judas Priest, Megadeth, Sepultura e Titãs, entre tantos outros, garantiram a diversão de cerca de 700 mil pessoa divididas em nove dias de evento.

+ Rock in Rio define datas dos shows do Imagine Dragons e Ed Sheeran; confira

Depois de um hiato de dez anos, 2001, foi o ano em que Medina finalmente tiraria do papel a "Cidade do Rock" e o lugar para projetar mais esse sonho não poderia ser mais significativo: a mesma região onde aconteceu o primeiro festival.

Com o slogan "Rock in Rio - Por um Mundo Melhor", nascia ali, também, uma marca. Além do palco principal, o espaço comportava tendas com música eletrônica, nacional, africana e mundial.

40 anos do Rock in Rio pode ficar marcado como a pior edição

No lugar da explosão de fogos, minutos de silêncio, toques de sinos e a libertação de pombas brancas abriram e fecharam as noites, com cerca de 250 mil espectadores pedindo pela paz mundial.

Mas como todo bom rockeiro tem fama de subversivo e rebelde, O Rock in Rio 3 ficou marcado por boicote liderado pelo O Rappa e com o apoio de Charlie Brown Jr., Cidade Negra, Raimundos, Jota Quest e Skank, que reivindicavam o direito de passagem de som concedido apenas aos artista estrangeiros.

Por outro lado, foi também a primeira edição em que Medina investiu em todas as faixas etárias. Nomes como a dupla Sandy e Junior, a sex simbol Britney Spears e a boyband N'Sync pisaram no mesmo palco que Iron Maiden, Silverchair, Foo Fighters e Red Hot Chili Peppers.

O mesmo também de onde Carlinhos Brown se retirou debaixo de vaias e de uma enxurrada de garrafinhas de água mineral só porque havia sido escalado para tocar no mesmo dia do metal.

O incidente com o cantor e percussionista baiano serviu de lição para que nas edições seguintes as datas fossem distribuídas por gêneros musicais, garantindo a pluralidade e a diversidade do evento.

Rock in Rio peca ao apostar em diversas tribos e esquecer sua essência

40 anos do Rock in Rio pode ficar marcado como a pior edição

Em 2004, Roberto Medina decidiu levar o festival para sua primeira viagem internacional. O Rock in Rio Lisboa fez tanto sucesso que perpetua até hoje no calendário europeu.

Além de Portugal, o festival já foi apresentado em Madri (2008, 2010 e 2012), Espanha, e em Las Vegas (2015), nos Estados Unidos. Aqui no Brasil, ele voltou com força total em 2011.

A partir dali, ficou decidido que suas edições ocorreriam a cada dois anos. A exceção foi no ao pós-pandemia da Covid-19, que seria realizado em 2021, mas foi adiado para 2022.

Já a "Cidade do Rock" cedeu o lugar para a construção do Parque Olímpico. Em troca, a Prefeitura do Rio disponibilizou uma área permanente, também na Barra da Tijuca, zona Oeste do Rio, capaz de abrigar não só o festival como outros eventos da cidade.

+ Madonna chega ao Brasil; saiba detalhes do show em Copacabana

Para 2024, a organização promete uma estrutura ainda mais grandiosa, com direito a muita diversão, brinquedos, espaços alternativos, shows e cenários instagramáveis.

Depois de uma longa espera pelo line-up do dia do Rock, anunciaram na última semana Evanescense, Avenged Sevenfold e Journey no Palco Mundo, Deep Purple e Incubus no Palco Sunset.

O respiro durou pouco, já que dias depois confirmaram a participação de Belo, Karol G e Xande de Pilares. A atualização mais recente trouxe a novidade de um dia dedicado ao sertanejo com apresentações de Luan Santana, Chitãozinho e Xororó e Simone Mendes.

40 anos do Rock in Rio pode ficar marcado como a pior edição

O suficiente para memes e piadinhas sobre o "Rock in Rio ter tudo, menos Rock", e as justificativas de que "Rock in Rio não é nome, é marca". Do contrário, não teríamos Rock in Rio Lisboa, Rock in Rio Madri e Rock in Rio Las Vegas.

Não! Não é um festival de rock, mas de música. E o curioso é que foi assim desde a sua criação, há 40 anos, quando Freddie Mercury puxou coro de milhares de pessoas ao som de "Love of My Life", e quando o rock nacional se projetou mundialmente.

Então, por que as críticas? Porque o rock é muito mais do que um simples estilo musical, é uma irmandade. E o roqueiro faz parte de uma nação já representada por nomes como Jimmy Page, Jim Morrison, Kurt Cobain...

Em quatro décadas, o Rock in Rio cresceu e apareceu, ganhando projeção mundial. Ao querer atingir todas as tribos, a organização do festival peca por esquecer sua essência. E para quem não está nem aí para os números, fica muito difícil esquecer os icônicos dias de dança na lama ao som de um bom e velho rock n' roll.

Mais Notícias

Enviar notícia por e-mail


Compartilhe com um amigo


Reportar erro


Descreva o problema encontrado