Fila, privilégios, cansaço e surpresas: um fim de semana de fã na "CCXP18"
Publicado em 10/12/2018 às 20:48
Antes de começar esse texto, é bom dizer: eu poderia muito bem pedir para o meu chefe falar com a Netflix, por exemplo, e conseguir os convites para entrar no domingo (9) mais cedo e não encarar o que encarei e vou dizer neste texto.
A intenção foi essa. Porque "CCXP" é divertido para quem gosta e quer ver seus ídolos da cultura pop de perto? Sim, mas os sacrifícios que precisam ser feitos para isso acontecer beiram, em alguns momentos, à tortura.
No sábado (8), graças a uma assessora artística da Disney, Sofie (a qual agradeço aqui imensamente), consegui entrar no Painel da Marvel, talvez o mais concorrido de todo o evento. A fila estava infernal, e eu imaginei que não havia nenhuma cadeira mais.
Para minha surpresa, haviam vários lugares. Não apenas um, dois ou três, mas vários lugares disponíveis. Não só nas liberadas para o público, mas também principalmente nos "convidados" do estúdio.
Pelo que apurei com várias fontes no evento, existe uma questão muito polêmica. Assim que os painéis começam no auditório principal, o estúdio impede que pessoas novas entrem durante a sessão, mesmo que lugares estejam vagos.
Isso, obviamente, foi sendo burlado pelo staff, que ia colocando pessoas aos poucos ao ver lugares vazios - nada mais humano que isso. Ou seja, se havia assentos vagos - e de fato sempre haviam muitos -, o vilão da vez foi o estúdio.
No sábado, foi tudo tranquilo. A energia do auditório principal foi impressionante, tanto no Painel da Marvel, quanto nos outros painéis, principalmente o da Sony - lembra dos lugares vagos? Pois é, saí da área de convidados que tinham muitas cadeiras, e fui pra um lugar normal, onde também existiam várias.
Realmente, o lugar é enlouquecedor. A energia, o clima, as pessoas... É muito bom estar num espaço onde todos que gostam da mesma coisa que você estão. Os papos vão longe e você conhece muita gente bacana.
Destaco aqui as minhas colegas do site "Entre Séries". A Ana, que estava do meu lado, entendia muito do assunto e foi bem legal bater um papo legal com ela. Elas não conseguiram credencial, e estavam lá comprando ingressos.
As colegas iriam fazer uma loucura naquela noite de sábado para domingo, tudo para acompanhar o painel da Warner e da DC Comics na manhã seguinte: virar a noite na SP Expo e conseguir um lugar nele.
Fiquei tentado em fazer a mesma coisa, mas meu limite físico não aguenta tanto. Preferi dormir no dia seguinte até um pouco mais tarde e ver apenas o painel que queria: o de "Power Rangers", série qual sou um grande fã.
Foi aí que vi mesmo como um fã comum na "CCXP" sofre de verdade. Muita gente ali estava na fila de olho para dois painéis, ambos da Netflix: "Stranger Things" e "Bird Box", que teria a presença de Sandra Bullock.
Era o caso de Adriana, que estava com o marido e a filha atrás de mim na fila desde que cheguei nela, às 13h deste domingo. Ela queria ver Sandra Bullock, mas se chocou com o tamanho da fila. Foi até onde pôde, mas desistiu pouco depois das 16h, quando o painel começou.
Também foi o caso de Juliana, uma garota de seus 20 e poucos anos que é muito fã de Sandra Bullock. Ao notar que não entraria no painel e nem veria sua inspiração de perto, ficou bem triste. Preferiu nem mesmo olhar Sandra dando a entrevista oficial do evento.
Eu fiquei quase seis horas na fila: cheguei por volta das 13h05 e só saí dela 18h50, dez minutos antes do marcado para o painel que mais esperava: o de "Power Rangers". Nesse meio tempo, vi duas coisas que me chocaram na domingueira na fila.
Um homem com camisa azul, do staff da "CCXP", afirmou o seguinte para um amigo dele, que estava na longa fila e na minha frente: "Se você estiver sozinho, eu te coloco para dentro".
Posteriormente, fiquei sabendo que gente do staff foi demitida no sábado (8) por privilegiar conhecidos na fila para entrar no auditório principal. Pelo visto, não adiantou muita coisa a atitude enérgica e o privilégio continuou, visto que este homem entrou de fato no auditório sozinho.
Outro ponto foi o fato de um certo "romantismo" que se dá por quem fica horas na fila e consegue estar no auditório depois de tanto tempo. Não vejo algo bom nisso. É desgastante para o evento, e principalmente para quem encarou quase seis horas, como eu.
Um casal de meninas, exaustas e com fome, e que estava bem próximas de entrar, decidiram desistir às 18h de encarar a fila. Precisavam ir embora porque tinham de voltar para a sua cidade, no Rio de Janeiro. Foram chorando e lamentando: "Não conseguimos mais".
De fato, a "CCXP18" foi épica. Mas vi privilégio e muita coisa que ainda estava errada e um certo desdém para produtores de conteúdo e para fãs. E quem fala aqui não é um jornalista, é um fã. Fica a dica para o épico de 2019.