Linguagem de seriado e pessoas desaparecidas: por que o "Cidade Alerta" tem sido líder?
Publicado em 26/11/2018 às 08:30
Nas últimas semanas, muito tem se discutido a liderança do "Cidade Alerta", apresentado por Luiz Bacci nos fins de tarde e início de noite na Record TV. Não que o programa liderar seja novidade - não é. Mas a forma como isso vem acontecendo, acachapante e vencendo "Malhação" e "Espelho da Vida", não é nada comum.
Este mero repórter decidiu assistir ao "Cidade Alerta" nas últimas semanas, e o que se viu foram basicamente respostas muito claras do que está acontecendo.
No final da década passada e início desta, ganhou relativa fama a série "Without a Trace", ou como o SBT chamou em suas exibições, "Desaparecidos". Todo dia, os investigadores da série tinham que desvendar um caso de uma pessoa desaparecida e tentar encontra-lá ao fim do episódio.
O "Cidade Alerta", claro, não é assim, afinal a vida é real e encontrar uma pessoa desaparecida no Brasil é difícil. Mas a linguagem didática e a linha tem sido basicamente essa: tentar ajudar a elucidar casos de pessoas desaparecidas.
O atual caso em evidência é o de Amanda Palha, de 26 anos, que está desaparecida há 11 dias. Seus pais já não têm esperança. Segundo seu pai, ele só quer enterrar dignamente a jovem. Luiz Bacci ajuda com suas equipes a elucidar o caso.
Mais que isso: ele atua como fio-condutor de uma espécie de "novelinha", com os repórteres apresentando os personagens envolvidos. As novidades do caso são apresentadas por Bacci, que didaticamente explica os meandros da investigação para o público de casa.
Luiz Bacci é como um professor, e isso temos que elogiar: explicar termos técnicos de uma investigação da Justiça de forma popular é um feito. Tem que ter entendimento e conhecimento do que está falando.
Um ponto negativo disso é a forma como o apresentador trata algumas vezes os familiares. Na última sexta-feira (23), ele encerrou um link com um familiar de Amanda dizendo que "as revelações que nós temos sobre o desaparecimento são informações preocupantes e nós tememos que o pior tenha acontecido".
Não acho que esse seja o tipo de coisa a se falar para um familiar de uma pessoa desaparecida. Mas dá para entender: é televisão. E não tem como manter a atenção do público sem um pouco de suspense. Criticável, mas pra quem saca de TV, entende Bacci se comportar assim.
Contando isso tudo, também precisamos falar que o "Cidade Alerta" se beneficia das péssimas "Espelho da Vida" e "Malhação - Vidas Brasileiras". A trama da vida real, montada pelo programa policial do fim de tarde da Record TV, é muito mais interessante e instigante que os folhetins ficcionais da Globo. "Espelho" e "Malhação" são insossas, tudo o que o "Cidade Alerta" não tem sido.
O seu tom atual é o mesmo de um seriado policial, como citamos acima, ou parecido com um programa viciante do canal Investigação Discovery, como disse um amigo meu esta semana. De fato, é isso mesmo, com uma diferença: é tudo ao vivo, tudo perto de nós, no Brasil. Inegavelmente, é extremamente atraente.