A turbulenta relação pessoal e profissional do diretor Fosse e da atriz Verdon
Publicado em 07/04/2020 às 12:55
Ele foi o lendário diretor,coreógrafo e dançarino que revolucionou os musicais no teatro, na TV e no cinema. Ela foi uma das maiores estrelas da Broadway de todos os tempos, sem a qual o lendário diretor, coreógrafo e dançarino não teria sido tão lendário assim.
Eles foram Bob Fosse e Gwen Verdon. E suas vidas viraram uma minissérie que conta a turbulenta relação pessoal e profissional entre esses dois gigantes. A dica do Canal Like (530 Net/Claro) desta semana é "Fosse/Verdon", que está em exibição no canal Fox Premium 1.
Sam Rockwell vive Fosse e Michelle Williams, a Verdon. Seu romance conturbado começou nos bastidores do espetáculo Damn Yankees. Eles ficaram casados de 1960 a 1971 e tiveram uma filha. Fosse nunca foi fiel, mas, mesmo separados, os dois continuaram ligados até o fim.
Eles nunca se divorciaram. Aliás, Sweet Charity seria levado às telas, marcando a estreia de Bob Fosse como diretor de cinema. O longa, batizado aqui no Brasil de Charity, Meu Amor se baseou numa peça de Neil Simon inspirada no filme As Noites de Cabíria, de Fellini. Foi um dos momentos altos da carreira de Shirley MacLaine, em que a atriz recriou em Hollywood o papel que foi de Gwen Verdon na Broadway.
Gwen Verdon foi tudo pra Bob Fosse: esposa, amiga, mãe, parceira, terapeuta, modelo, cobaia. E com essa base emocional garantida, Fosse partiu para o seu segundo filme como diretor, Cabaret.
Criado no vaudeville, tendo crescido em boates burlescas, Fosse fez um dos únicos musicais grandiosos dos anos 70. Ele faturou oito Oscars, incluindo o de melhor diretor. Aliás, Bob Fosse foi o único artista a receber num mesmo ano o Oscar, o Emmy e o Tony. E em 1973 ele também ganhou o Emmy, o Oscar da TV, pelo especial Liza com Z, estrelado por Liza Minnelli recém-saída do estouro de Cabaret. Ainda em 1973, Fosse ganhou o Tony, o Oscar do teatro, com o espetáculo musical Pippin.
Fosse/Verdon não deixa escapar nenhum desses detalhes. Baseada na minuciosa biografia de Fosse escrita por Sam Wasson, a minissérie mostra a obcecada busca de Bob pela perfeição. Suas inseguranças, suas dezenas de relacionamentos paralelos. As feridas de infância que nunca cicatrizaram. E o apetite insaciável pela vida, que acabou alimentando seu lado autodestrutivo. Isso sem falar na força poderosa de Gwen Verdon, que conseguiu passar por cima de tudo isso pra que o show pudesse continuar.
Dar conta de vidas tão extraordinárias foi uma façanha. Retratar numa biografia realizações tão icônicas exigiu um trabalho de reconstituição descomunal. Além da obra completa de Fosse servir de fonte estilística pra narrativa, Lenny, um filme não musical dirigido por ele, funcionou como um dos modelos de estrutura dramática.
A cinebiografia do polêmico comediante Lenny Bruce, vivido no clássico de Fosse por Dustin Hoffman, vai e vem no tempo e é entrecortada por entrevistas e números de stand-up que contextualizam vários fatos e momentos marcantes de sua vida. Isso também acontece em Fosse/Verdon. O curioso é que o próprio Bob Fosse chegou a fazer um filme autobiográfico, All That Jazz – O Show Deve Continuar.
Nele, Roy Scheider encarna seu alterego: o fumante inveterado, sedutor irrefreável, hipocondríaco, diretor e coreógrafo Joe Gideon. Inspirado nos problemas cardíacos que quase o levaram à morte na década de 70, Fosse chegou até a transformar o seu possível fim em um fantástico número musical típico da Broadway.
Tudo isso é resgatado em Fosse/Verdon. E quem vive Roy Scheider interpretando o alterego de Fosse é o astro dos musicais Lin-Manuel Miranda, que é um dos produtores executivos da minissérie. Sam Rockwell e Michelle Williams também são produtores executivos de Fosse/Verdon. Assim como Nicole Fosse, filha do casal e responsável por seu legado.
Tá aí mais uma garantia dea utenticidade dessa produção. Tudo em Fosse/Verdon é impecável. A produção venceu quatro Primetime Emmy Awards, incluindo Melhor Performance em Minissérie ou Filme, que foi para Michelle Williams.
Fosse/Verdon pode ser assistido como um conto moral sobre as seduções do show business. E o preço que se paga por uma dedicação tão absoluta que exige sacrifícios, sangue, suor e lágrimas.
São 40 anos de vida no mundo dos espetáculos condensadas em oito episódios dinâmicos, intensos e eletrizantes. Sem dúvida, vale muito o seu Like.