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Karim Ainouz
Cearense Karim Ainouz vem se destacando no cinema

Este ano o Nordeste chegou em peso em Cannes. Em um feito inédito, dois filmes brasileiros da região levaram alguns dos maiores prêmios do festival. Além de Bacurau, dos pernambucanos Juliano Dornelles e Kleber Mendonça Filho, que ganhou o Prêmio do Júri na mostra principal, o cearense Karim Ainouz levou o prêmio da mostra Um Certo Olhar pelo seu melodrama tropical A Vida Invisível de Euridice Gusmão.

O filme, que é adaptado de um romance português, conta a história de duas mulheres na década de quarenta: Eurídice e a sua irmã mais velha, Guida. As duas enfrentam o machismo da sua época, mas de maneiras radicalmente diferentes.

Ainouz disse que se inspirou nas primeiras novelas brasileiras, especificamente as de Janete Clair, para criar as tensões do filme. E nós aqui já estamos morrendo de vontade de ver esse filme que conseguiu levar a estética das nossas novelas para um dos pódios mais altos de Cannes.

A mostra Um Certo Olhar foi criada no final dos anos setenta para premiar os filmes mais ousados e autorais de Cannes, e é a primeira vez que um brasileiro leva o prêmio de melhor filme da mostra para a casa. Mas, cai entre nós, parece que o Karim Ainouz nasceu para levar esse prêmio.

Um diretor com preocupações exacerbadamente brasileiras, Karim Ainouz faz um cinema ao mesmo tempo distópico e doce. Muitas vezes denso, mas sempre com muito a dizer. Hoje nós vamos recomendar três filmes desse diretor, que muito antes de ser premiado em Cannes, já havia deixado a sua marca no cinema nacional.

Karim Ainouz começou a sua carreira como corroteirista de alguns dos filmes brasileiros mais importantes do começo dos anos 2000, como Abril Despedaçado, do Walter Salles, e Cidade Baixa, do Sérgio Machado. Mas foi em 2002, com o seu primeiro longa-metragem, Madame Satã que o grande público conheceu pela primeira vez o trabalho de Karim Ainouz como diretor. O filme foi exibido pela primeira vez na mostra Um Certo Olhar, em Cannes. Ou seja, o Karim já é conhecido de longa data do festival francês.

O filme se passa nos anos 30, no Rio de Janeiro, e conta a história de origem de um dos personagens mais famosos da cultura marginal da cidade. O filme segue a epopeia de como o homem João Francisco dos Santos virou a lendária Madame Satã.

Já em seu longa de estreia, nós entendemos que Karim Ainouz é um diretor que preza pela atmosfera. O filme usa todos os elementos do cinema para mostrar a transformação, física e psicológica de João Francisco. Negro, gay, artista, cozinheiro de bordel, e pai adotivo de sete filhos – o filme mostra a engenhosidade de um homem entendendo como ser reconhecido pelos seus talentos enquanto viver à margem da sociedade. É um filme sobre como transformar a subversão em heroísmo.

Madame Satã foi também o primeiro longa metragem estrelado por Lázaro Ramos. O filme seria o começo de uma longa carreira de sucesso - tanto para o seu diretor, quanto para o seu ator principal. Karim continuou a surpreender com o seu segundo longa, O CÉU DE SUELY. O filme conta a história de Hermila, uma menina de 21 anos, que mora na cidade de Iguatu, no interior do Ceará. Ali ela espera pacientemente o retorno de Mateus, o pai de seu filho, o Mateuszinho.

Mas o tempo passa, Mateus não retorna, e Hermila decide tomar conta de seu próprio destino do jeito que ela acha melhor – e pacata Iguatu não faz parte de seus planos. Sem dinheiro para uma viagem para qualquer lugar, Hermila adota o pseudônimo de Suely, e resolve fazer uma rifa polêmica, para dizer o mínimo. O ganhador da rifa terá o que Suely define como Uma Noite No Paraiso.

Enquanto Suely espera sair o resultado da rifa, ela toca a sua vida - lidando com a polêmica que a sua decisão causa em sua família, o alvoroço generalizado pela cidade, e algumas questões pessoais de seu passado. Apesar da temática ser pesada, o filme é leve - talvez o filme mais puramente divertido do diretor. Lindamente fotografado por Walter Carvalho, que também assinou a fotografia de Madame Satã, o filme, em menos de 90 minutos, consegue capturar todo o escopo da história de Suely. Desde o peso dos traumas da sua juventude, até a coragem que ela tem em tomar as próprias rédeas da sua vida.

Muitos dos personagens nos filmes de Karim Ainouz sempre tem uma obsessão em sair de casa. Isso é algo que a gente nota, por exemplo, no terceiro filme da nossa lista: Praia do Futuro. Muitas vezes são filmes sobre o impacto do abandono, e a decisão de finalmente deixar o conforto, ou em muitos casos o inferno, do lar. Praia do Futuro é o filme do diretor que levou essa ideia mais a fundo. Se não conceitualmente, com certeza no aspecto geográfico.

O filme conta a história de Donato, um salva-vidas que tem a sua vida mudada depois de um resgate mal sucedido na Praia do Futuro, em Fortaleza. Quando o Donato vai notificar a morte para o melhor amigo do homem afogado, o motoqueiro alemão Konrad, ele acaba se apaixonando por Konrad. Aí ele se muda com Conrad para Berlim, deixando o seu irmão mais novo, Ayrton, para trás no Ceará.

O filme segue a improvável história de amor entre Donato e Konrad. Assim como as consequências dela, anos depois, quando Ayrton vai para Alemanha em busca de seu irmão, seu maior ídolo da infância.

A Vida Invisível de Eurídice Gusmão tem data de estreia no Brasil prevista para Novembro desse ano. Pelo que a gente já sabe do filme parece que vai se encaixar perfeitamente na filmografia do Karim. Até lá, fiquem com as nossas dicas, pra fazer uma retrospectiva desse grande nome do cinema brasileiro.

Dica do Canal Like

Programa: Maratona de Filmes
Madame Satã / O Céu de Suely / Praia do Futuro

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