Opinião

Jade Picon pode ser a nova Glória Pires, por que não?

Atriz vem sofrendo o massacre que tempos em tempos figuras midiáticas sofrem

Jade Picon é a nova Glória Pires? - Foto: Montagem
Por Daniel César

Publicado em 12/11/2022 às 21:00:00,
atualizado em 12/11/2022 às 22:36:32

De tempos em tempos uma alma é escolhida na inquisição para ser lançada na fogueira santa. De Jesus a Joana D'Arc, de Tiradentes a Adriana Esteves, todos têm em comum: foram massacrados por suas escolhas. A Geni da vez é Jade Picon, por conta de seu desempenho em Travessia. Mas a atriz está tão ruim assim no papel de Chiara a ponto de merecer ser apedrejada em praça pública? Não e sim.

Quem acompanha os capítulos da novela das nove percebe o desconforto que a ex-BBB e tem para compor as cenas da patricinha trilhardária. Falta estofo, falta técnica e falta maturidade. Falta, mas não é nulo. Jade é diferente de vários artistas, alguns inclusive dentro do elenco da mesma trama, que se acomodam na profissão e repetem os mesmos defeitos. Ao contrário, é nítido seu esforço quase desesperado para acertar a cada sequência que precisa dela. Em cenas em que Chiara protagoniza sentimentos e sensações fica constrangedor o quanto a atriz tenta acertar, sem êxito.

Há quem defenda que ela nasceu sem talento, pura bobagem. Não se nasce uma Glória Pires ou uma Fernanda Montenegro. Se transforma em uma. Atuação é técnica, não é dom de Deus. O Criador dos céus e da Terra não deu o poder nas mãos de Silas Malafaia para que ele coloque sob a cabeça das pessoas, numa oração empolgada, o talento para a interpretação. É puro estudo, esforço e repetição. Como quase tudo na vida.

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Jade teve pouco tempo entre o BBB e as gravações de Travessia. Foi um erro crasso dar a uma postulante ao posto de atriz um papel tão importante? Certamente. Mas a opção já foi feita e a culpa não é dela. Quem entende um pouco de arte de analisar trabalhos que, num iniciante não se observa o resultado final do desempenho, mas o potencial ao médio prazo. Com certeza Neymar não fez 8 gols no primeiro teste que passou. Há casos de jogadores que foram dispensados e que em 2022 estarão na Copa do Mundo porque batalharam, se esforçaram e aprenderam.

Chiara é uma personagem que deveria ser profunda porque tem o papel de dar o ponto de desequilíbrio na vida do protagonista Ari (Chay Suede). Mas não é isso que Gloria Perez entrega no texto da trama. A autora, aliás, parece não ter entendido direito a própria história que ela criou e não permite que o folhetim ande por esconder a complexidade das personagens. Por outro lado, Jade teve o azar de trabalhar com um grande diretor, mas que tem pouca preocupação em ajudar seu elenco.

Em quase todos os trabalhos de Mauro Mendonça Filho o diretor tem grande preocupação estética e com a forma com que um capítulo é amarrado. Seu trabalho é para entregar um novelo para o público desamarrar, mas sem grande esforço para compor personagens e colocar o elenco de pé. Basta ver como em O Astro (2011) ou mesmo em Verdades Secretas (2015) não havia homogeneidade nas composições e cada ator ia pelo caminho que queria. O que é um erro que pode ser escondido diante de um sucesso, mas que não passa desapercebido em novelas com problemas.

Um olhar mais atento nota qual o estilo de Jade na interpretação. A atriz está desesperada - seja por vontade própria ou por decisão de seu diretor - em tentar fazer caras e bocas em todas as cenas, mas não é a onda dela. Jade não vai ser a nova Adriana Esteves, que faz composições milimétricas de histrionismo. Ela pode ser, se seguir estudando, Glória Pires, que deleita o Brasil apenas com o olhar e o tom de voz.

Por falar em tom de voz, este é outro erro que precisa ser corrigido com urgência. Ninguém em Travessia utiliza-se da prosódia e sabe-se lá por quê decidiram que Jade Picon tem que falar o carioquês de praia. A menina precisa aprender de uma só vez posicionamento de câmera, expressividade, olhar e uma prosódia desnecessária. Ela não está fazendo um papel em The Crown, cujo inglês precisa ser o britânico.

Jade não é Glória Pires, mas pode vir a ser se seguir estudando. Potencial há ali porque nota-se o esforço para o aprendizado, a repetição, os erros. Ninguém aprende com o acerto, aprende-se com os erros. Um bom exemplo é Reynaldo Gianecchini, tão maltratado em sua estreia, em Laços de Família (2000) e que agora acumula prêmios e indicações pelo seu desempenho em Bom Dias, Verônica. Muito mais graves são as composições equivocadas de atores tarimbados como Humberto Martins e Cássia Kis, que parecem perdidos a cada cena e dão um tom de humorístico da RedeTV! para personagens dramáticos.





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