Publicado em 15/11/2023 às 07:47:00,
atualizado em 15/11/2023 às 10:33:02
Eu poderia começar esse texto falando de todas as Anas, Marias ou Raquéis... Da apresentadora famosa à professora de educação física da teledramaturgia. Da vizinha, colega de trabalho, parceira de academia.
Minha escolha, porém, foi por uma experiência recente, quando ouvi um senhor reclamando das dores da esposa, também idosa, enquanto fazia piada sobre o fardo que é conviver com uma mulher com problemas de saúde.
Pesquisas de 2015 já afirmavam que a maioria dos casos de divórcio é maior quando a mulher adoece. Quando ocorre o inverso, as companheiras tendem a cuidar dos seus esposos até o fim.
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Ainda de acordo com estudos, nem sempre essas mulheres contam com a ajuda dos filhos, mas com a das amigas ou até mesmo de pessoas não tão próximas como, por exemplo, os vizinhos.
Você deve estar se perguntando porque trazer esse assunto quando a pauta em discussão é sobre violência doméstica. Simples! Primeiro porque quando se fala em agressões contra a mulher, nem sempre ela vem na forma física.
Sabe aquela história do grito que vem do nada, do soco na mesa, da cantada inoportuna ao pé do ouvido, do puxão no cabelo na hora do sexo ou da intimidação quando for dar o dinheiro para a compra do supermercado? Então!
Segundo porque toda violência de gênero está relacionada ao que chamamos de machismo estrutural. Quem nunca ouviu a expressão: "Prendam suas cabritas, porque os bodes estão à solta?". Pois é!
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Nos últimos anos, não se pode falar sobre machismo, racismo, homofobia, xenofobia ou quaisquer outros tipos de "ismos" que sempre vai ter um Gremlin saindo de dentro da geladeira, ou por trás de uma moita, para mandá-lo parar de mimimi.
Todo e qualquer assunto que parece banal para essas pessoas ganhou essa classificação, é como uma espécie de fuga para temas essências à discussão e reflexão, presentes na sociedade contemporânea.
E é com esse tipo de "cultura", ou de "política", que somos obrigados a conviver. Infelizmente, ainda há quem acredite que homem pode tudo enquanto que a mulher nada pode.
Felizmente, uma boa notícia. Em agosto deste ano, o Superior Tribunal Federal (TSF) rejeitou o uso de "legítima defesa da honra" em casos de feminicídios, considerada arcaica e que reforça a ideia de submissão e posse.
Em tese, isso é um grande avanço. Resta saber se na prática, os homens que ainda se sentem donos de suas companheiras vão entender que as mulheres é que são donas de suas próprias vidas.
Sororidade! Foi através de um reality show que essa palavra ganhou evidência ao ser reproduzida por uma artista famosa, despertando a curiosidade de uma leva de mulheres que não sabiam que seu verdadeiro significado é ter empatia, se colocar no lugar da outra, porque somente assim é possível sentir a sua dor.
Outro dia, eu me peguei conversando com um motorista de carro de aplicativo sobre como é difícil a vida de uma mulher. O assunto partiu dele, que me disse ter aprendido com sua mãe, quando criança, como ele deveria se comportar.
Ainda segundo o profissional, a senhora o aconselhou a se apoiar na parede do transporte público em caso de lotação, a fim de evitar esbarrar em uma mulher, o que poderia deixá-la constrangida ou acuada.
A conversa ia bem, até esse senhor dizer que deveriam ter fiscais mulheres dentro dos vagões femininos, para autuar os "tarados" em flagrantes. Pensando na nossa realidade, a ideia não parece de toda ruim.
A questão é que em uma sociedade civilizada não era nem para ter discriminações de vagões. E sim, meninos criados para respeitarem as meninas, não apenas seguirem regras por medo de multa e vestirem azul.
No último dia 11, Ana Hickmann registrou queixa contra o marido por violência doméstica. De acordo com o depoimento da apresentadora, logo após a discussão, Alexandre Correa teria pressionado a esposa contra a parede, e ameaçado dar-lhe uma cabeçada.
Ainda segundo o boletim de ocorrência, a ex-modelo tentou pegar o celular, mas foi impedida pelo agressor, com quem está casada há 25 anos, que fechou a porta da cozinha repentinamente, machucando o braço dela.
Ana conseguiu chamar a polícia, saindo escoltada de sua casa. No percurso até a Santa Casa de Itu, onde foi examinada e colocou uma tipoia, a apresentadora teria sido informada sobre medidas protetivas prevista pela lei Maria da Penha.
Sancionada em 7 de agosto de 2006 pelo então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, a lei Maria da Penha surgiu através de projeto elaborado por um grupo interministerial, a partir de um anteprojeto de organizações não-governamentais, sendo enviada pelo governo federal ao Congresso Nacional no dia 25 de novembro de 2004.
Transformado e Projeto de Lei de Conversão 37/2006, a lei prevê o aumento no rigor das punições às agressões contra a mulher quando ocorridas no ambiente doméstico ou familiar. No dia seguinte que entrou em vigor, setembro de 2006, um agressor foi preso no Rio de Janeiro após tentar estrangular a ex-esposa.
A lei possibilita que agressores de mulheres no âmbito doméstico ou familiar sejam presos em flagrante ou tenham prisão preventiva decretada. Ela também proíbe a punição através de penas alternativas como, por exemplo, a distribuição de cestas básicas.
A legislação aumenta o tempo máximo de detenção previsto de um para três anos. A nova lei ainda prevê medidas que vão desde a saída do agressor do domicílio até a proibição de sua aproximação da mulher e dos filhos.
O nome da lei é uma homenagem a Maria da Penha Maia, agredida pelo marido durante seis anos. Em 1993, Marco Antônio Heredia Viveros tentou matar a esposa por duas vezes. A primeira com arma de fogo, enquanto ela estava dormindo, o que acabou deixando-a paraplégica.
Já na segunda vez, ele tentou eletrocutá-la e afogá-la. O julgamento do agressor durou 19 anos e, após sua condenação, ele cumpriu apenas dois anos em regime fechado.
Até hoje, há quem acredite na teoria da conspiração de que a lei foi criada baseada em uma farsa, já que Maria da Penha teria sido baleada por criminosos durante assalto em sua casa, e acusado o marido depois de descobrir que estava sendo traída.
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