Publicado em 10/12/2019 às 17:58:00
26 de abril de 1986 entrou para a história como um dos dias mais trágicos do século XX. Foi quando aconteceu um acidente nuclear na antiga União Soviética. Uma tragédia que afetou a vida de milhares de pessoas, e mudou a história da humanidade.
Quando um dos reatores nucleares da Usina de Chernobyl derreteu, ninguém sabia exatamente o que fazer. E até hoje os impactos da radiação que foi emitida no desastre de Chernobyl são sentidos pela população ucraniana.
Alguns estudos apontam que quatro mil pessoas morreram devido a radiação. Mas há quem diga que o número correto chega mais perto de 200 mil pessoas. Minissérie da HBO, Chernobyl tenta esclarecer o que teria acontecido durante a tragédia.
A produção de cinco episódios reconta o momento em que o reator nuclear explodiu, bem como os dias que seguiram. A minissérie é uma dramatização que foca em alguns dos heróis que protagonizaram a árdua missão de evitar que uma dos maiores catástrofes causadas pela humanidade não se tornasse ainda maior. E, é claro, ela também foca nos obstáculos que esses heróis encararam - a corrupção do estado soviético, a censura aos fatos e as críticas, e arrogância de quem achava que tinha tudo sob controle.
Os episódios são todos dirigidos pelo diretor sueco Johan Renck, e escritos pelo roteirista americano Craig Mazin.
Séries com um só diretor e um só roteirista, tendem a ter muita coesão, e com Chernobyl não é diferente. Com roteiros bem construídos, que pouco a pouco acrescentam novos fatos, e uma direção segura, focada sempre em manter o clima tenso de pesadelo radioativo, Chernobyl é sem dúvida o trabalho da vida desses cineastas.
Mazin é um dos roteiristas mais conhecidos da indústria de Hollywood, em parte porque ele escreveu filmes Se Beber Não Case - Parte II e III e Uma Ladra Sem Limites, e em parte porque ele é um dos caras por trás de Scriptnotes, o podcast definitivo para roteiristas que querem entender um pouco melhor o processo e a indústria.
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Escrever Chernobyl foi um evento que consumiu o autor. Depois de três anos de pesquisa, ele conseguiu convencer a HBO a comprar a sua obsessão também. Além de roteirista, ele é também produtor e criador da série.
E toda essa pesquisa é evidente na tela. Os carros que as pessoas dirigem, os cigarros que elas fumam, até o papel de parede de suas casas, tudo expressa autenticidade. Nas entrevistas que está dando para promover Chernobyl, Mazin faz questão de ressaltar a precisão da reconstrução histórica.
Os personagens no centro da trama são os que estão comandando a força-tarefa das milhares de pessoas encarregadas de fazer a limpeza do desastre. São dois cientistas, interpretados por Emily Watson e Jared Harris, e um burocrata do estado soviético, o vice premiê do conselho de ministros, interpretado pelo Stellan Skaarsgard. Skaarsgard e Watson dispensam apresentações – o ator sueco é o queridinho do Lars Von Trier, e Watson chegou ao concorrer ao Oscar duas vezes. Mas Jared Harris é quem acaba roubando a cena.
Harris é uma figurinha carimbada nos elencos de apoio das séries de televisão mais bombadas dos últimos anos. Chegou até a concorrer a um Emmy pela sua participação em Mad Men, como o neurótico Lane Pryce. Apesar dele ter ficado só três temporadas na série, a sua presença foi marcante. Pode perguntar para qualquer fã de Mad Men que eles vão confirmar: a saida de Lane Pryce da Sterling-Cooper foi um dos momentos mais tensos da série.
Em Chernobyl, Jared Harris assume o seu maior momento de protagonismo. Entre o cinismo desiludido dos burocratas e a ignorância bem intencionada dos soldados, é nas expressões de angústia e desespero do Legasov de Harris que nós entendemos a gravidade da situação de Chernobyl.
Chernobyl entrou no horário que era reservado Game of Thrones e não fez feio. Para se ter uma ideia, as notas de Chernobyl na base de dados IMDb já são maiores que a de Game Of Thrones e de Breaking Bad. E são só cinco capítulos de uma hora - ou seja - você não tem nem desculpa pra não conferir.
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