Especial Silvio Santos
As batalhas

Luto, câncer e sequestro: Os dramas de Silvio Santos

Apresentador enfrentou muitos problemas ao longo dos seus 90 anos


O apresentador Silvio Santos no palco do seu programa no SBT
Silvio Santos falou sério em seu programa no ano de 1988 - Reprodução

Silvio Santos é um dos homens mais poderosos e influentes do Brasil, mas ele é feito de carne e osso e a vida foi capaz de surpreendê-lo de maneira negativa algumas vezes ao longo dos seus 90 anos, completados neste sábado (12). O homem do baú já enfrentou um diagnóstico de câncer na próstata, uma rasteira na política e a dor de perder o seu primeiro grande amor, Maria Aparecida Vieira Abravanel.

Cida, como era chamada carinhosamente pelo empresário, foi a “noiva misteriosa” do Senor Abravanel. Com duas filhas – Cíntia e Silvia –, ela recebeu uma das piores notícias da sua vida. Após realizar uma bateria de exames, descobriu que estava com um câncer. Silvio sentiu o baque, contudo, acreditou que tudo daria certo. Não deu. Com apenas 47 anos, tornou-se viúvo com a responsabilidade de criar as filhas do casal e ainda seguir sua trajetória como apresentador e empresário.

“Quando eu me lembro da minha mulher que morreu, e quando eu me lembro que eu dizia que era solteiro... Quando eu me lembro que eu escondia as minhas filhas para poder ser o galã, para poder ser o herói... Quando eu falo com a minha consciência, eu acho que é uma das coisas imperdoáveis que eu fiz, diante da minha imaturidade”, afirmou o comunicador no Programa Silvio Santos em 1988. “Minha maior tristeza foi a morte da minha esposa chamada Cida, aos 39 anos de idade, com câncer no estômago”, acrescentou.

Silvio deu a volta por cima e construiu um império ao virar o dono do SBT. Seu auge, sem sombra de dúvidas, ocorreu entre os anos de 1980 e 1990. Com seu sorriso e tom de voz alegre, o homem do baú temeu perder aquilo que tem de maior valor: a voz! Em 1988, o apresentador é diagnosticado com problemas nas cordas vocais, ficando praticamente afônico por alguns dias.

Com suspeita de câncer na garganta – fato que nunca confirmou para a imprensa – ganhou apoio da sua família e aceitou tratar o problema nos Estados Unidos. Ele chegou a interromper um de seus programas para transmitir depoimentos emocionados e lembranças da sua carreira e viajou para o exterior para realizar o tratamento. Quanta dor sentiu o comunicador. Com o risco de perder a voz e longe do trabalho, a ideia de ter seu futuro na TV abreviada por causa de uma doença era desesperador.

Silvio sabia que a medicina havia avançado, mas claro que ficou temeroso com a chance de ter um câncer. Cuidou de todos os detalhes, caso não vencesse a batalha. Resgatou Gugu da Globo e deixou claro que o jovem garoto seria o seu sucessor, caso não conseguisse se livrar daquele mal. Porém, após semanas afastados da TV, voltou ao Brasil sorridente e filosofando no seu retorno.

“Eu costumo ter mais vitórias do que derrotas. Quando o ser humano está com a razão, Deus é o seu advogado. Ninguém vence o ser humano quando ele tem razão. Quando o ser humano quando não está com a razão, Deus é o juiz e o demônio é o advogado de quem está sem razão. Quem tem razão, forte ou fraco, vence sempre. O bem sempre vence o mal. O mal vence por alguns minutos, mas o bem sempre vence o mal. E a gente não teria motivo para viver se o mal vencesse o bem”, contou no Programa Silvio Santos de 1988.

Silvio viria a ter um câncer, mas em 2013. Com os ternos alinhados e os cabelos acaju sempre bem escovados e cortados, ele deu entrevista para a Veja São Paulo, publicada em 2014. O apresentador revelou que havia se recuperado da doença. “No dia 4 de julho de 2013, tirei a próstata. Ainda está pingando urina sem eu querer. Estou com raiva. Tenho de usar uma cueca especial que é um espetáculo. Não é fralda, tem um tecido que absorve o líquido”, declarou.

Silvio Santos e o sofrimento na política

Feliz com sua recuperação, Silvio decidiu que iria se dedicar a política. Ganhou um longo depoimento do então governador de São Paulo, Orestes Quércia. Para agradecer o carinho do público, revelou que tentaria ser prefeito de São Paulo, mas precisou abordar a iniciativa no meio do caminho.

No ano seguinte, ocorreu a primeira eleição direta para escolher o presidente da república após a redemocratização do Brasil. Fernando Collor, Lula, Paulo Maluf, Brizola e Mário Covas foram os principais nomes daquela disputa, mas poderiam ter sido apenas coadjuvantes se Silvio Santos não tivesse sido barrado.

Na época, pouco se soube da dor que lhe foi causada por não ter sido autorizado para concorrer ao principal cargo do Poder Executivo Federal. Mas o apresentador chorou ao escrever uma carta para Marcondes Gadelha, publicada no livro Sonho sequestrado: Silvio Santos e a campanha presidencial de 1989.

“Considero que estava qualificado para exercer a Presidência da República e tenho certeza de que a equipe que eu escolheria, no mínimo, melhoraria as condições das pessoas mais necessitadas deste país”, disse o empresário. “Você, com seu talento de escritor e generosidade de amigo, me deixou por diversos momentos com lágrimas de saudade e emoção ao trazer de volta aqueles compromissos”, confidenciou.

As marcas foram tão fortes na alma do apresentador, que ele nunca mais quis ser candidato a presidência. Silvio segue influente na política, apoiando cada presidente, governador e prefeito do país, só que deixou claro que seguiria como apresentador, longe de qualquer traição, golpe ou rasteira na vida pública.

Banco Panamericano

Luto, câncer e sequestro: Os dramas de Silvio Santos

Em 2009, jornais e programas de TV anunciavam que a direção do Banco Panamericano estava envolvida em irregularidades e causou um rombo milionário aos cofres do Grupo Silvio Santos. Na época, houve quem cogitou a falência do homem do baú e foi um período em que o apresentador ficou um pouco mais "sumido" do dia-a-dia do SBT.

Foi neste período que Dani Beyruti ganhou maior independência na emissora e promoveu mudanças, principalmente no horário nobre, apostando em séries, como Sobrenatural, e realities shows como Qual é o Seu Talento? e Esquadrão da Moda. Silvio precisava usar todo o seu talento empresarial para solucionar essa questão.

Com boa relação política, encontrou-se com políticos para solucionar a questão. A situação se alastrou e chegou até o ex-presidente Lula, em 2010. Silvio não tinha o menor apego pelo banco. Muito pelo contrário, deixou claro que não causaria problema em se livrar do empreendimento para salvar o SBT, Jequiti e o Baú da Felicidade.

Em 2011, Silvio foi cercado por jornalista. Se durante dois anos, ele demonstrava um pouco de apreensão, aquele momento era para brilhar. "Vendi o banco", iniciou o apresentador. "Não podia deixar de vender o banco. Porque o meu banco não deu prejuízo pra ninguém. O meu banco teve um bom comportamento. Talvez tivesse sido mal administrado, e essa má administração provocou aquilo que todos vocês conhecem", acrescentou na ocasião.

 “Agora eu estou livre. A televisão (SBT) que vocês queriam comprar, ou que alguém queria comprar, não está mais à venda. A Jequiti não está mais à venda. As Lojas do Baú não estão mais à venda. A única coisa que foi vendida foi o banco”, continuou.

"Não é frustrante. É surpreendendente, é emocionante. Meus negócios, para mim, são mais uma forma de diversão e emoção, mais nada", comentou satisfeito com a operação. O banco foi comprado pelo BTG Pactual pelo valor de R$ 450 milhões, obtendo 34,64% do Panamericano, com 51% das ações ordinárias, e 21,97% das preferenciais.

Sequestro

Dia 30 de agosto de 2001, as redações dos principais jornais do país estão em polvorosa. Chegou a notícia que Silvio Santos e uma das suas filhas tinham sido sequestrados. “A informação é quase inacreditável, mas a polícia de São Paulo acaba de dizer que o sequestrador Fernando Dutra Pinto, aquele que liderou a quadrilha que sequestrou a filha de Silvio Santos,refugiou-se na casa do apresentador”, foi anunciado de manhã no programa da Globo, Mais Você.

Silvio de Abreu, na época, escrevia As Filhas da Mãe (2001) e parou por alguns minutos para ver o que havia acontecido com o homem do baú. Também, pudera, quem iria rir com uma novela podendo perder o maior apresentador do país? Lá dentro, nem o autor seria capaz de criar uma cena tão bizarra. O empresário não ficou tenso e acalmou os ânimos.

Bom de lábia, conversou sobre televisão, família e até novelas. “Será que o meu xará assiste o meu folhetim?”, pode ter imaginado em algum momento Silvio de Abreu. O sequestrador recebeu a proposta de ser defendido pelo advogado pago pelo Senor e até uma vaga de emprego depois que saísse da cadeia.

Foram sete exaustivas horas de negociação. Centenas de policiais mobilizados para resgatar Silvio e sua filha, Patrícia Abravanel. O bandido queria apenas se aposentar e ajudar famílias carentes da comunidade que ele vivia. Os jornalistas trataram aquela situação como uma crônica, só que o apresentador comparou o sequestro como o Show do Milhão. “O Fernando [Dutra Pinto] queria R$ 1 milhão, mas parou na última pergunta e levou só R$ 500 mil”, brincou na ocasião. 


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