Especial Silvio Santos
O começo de tudo

Fã de cinema, camelô e locutor: A infância e adolescência de Silvio Santos

Apresentador mostrou desde cedo seu talento pela comunicação


Silvio Santos jovem e atualmente em foto montagem
Silvio Santos nunca escondeu seu talento para a comunicação - Foto: Montagem

No começo de 1930, Rebeca (1907–1989) sentiu os primeiros sintomas da sua gravidez. Ela e Alberto (1897–1976), seu marido, teriam um primogênito e escolheram nomeá-lo como Senor Abravanel, seguindo as tradições gregas e dos judeus. No dia 12 de dezembro daquele ano, no bairro da Lapa, centro do Rio de Janeiro, veio ao mundo aquele que se tornaria o dono do SBT e o maior apresentador da história da televisão brasileira: Silvio Santos.

Alberto e Rebeca teriam outros cinco filhos, mas Senor era especial. Desde pequeno, demonstrava um talento incrível para se comunicar. Estudou na Escola Primária Celestino da Silva e também ingressou na Escola Técnica de Comércio Amaro Cavalcanti, formando-se em Contabilidade. Ali desenvolvia seu talento para mexer com dinheiro, o que seria fundamental para administrar suas empresas no futuro.

Com 90 anos, completados neste sábado (12), Silvio Santos segue trabalhando e descarta se aposentar. Não é surpresa para quem conhece sua trajetória. Logo cedo, começou a vender carteirinhas de plástico para que as pessoas pudessem colocar título de eleitor. Tempos depois, passou a vender canetas nas ruas do Rio de Janeiro. Seu dom para se comunicar o deixou conhecido como camelô da Avenida Rio Branco.

Ligado à família, com o dinheirinho que ganhava com muito suor e dedicação, Senor ajudava nas contas de casa. O que sobrava, o vendedor guardava um pouco e o restante usava para lazer, como ir ao cinema, sua atividade predileta. Inclusive, seu irmão mais novo, Leon, era quem o acompanhava para as salas para ver os bons filmes da época.

Com 10 anos, dava um jeito de assistir às sessões de cinema na Cinelândia, no Rio, sem pagar. Um dia que acordou com febre, sua mãe o proibiu de sair e aquilo o chateou profundamente. Chorou, tentou usar seu poder de convencimento para levar vantagem, mas não deu certo. No dia seguinte, soube que o cinema havia pegado fogo e várias pessoas ficaram feridas.

Silvio Santos, a juventude e o trabalho

Fã de cinema, camelô e locutor: A infância e adolescência de Silvio Santos

Com sapatos de má qualidade, precisou correr diversas vezes pelo Rio por causa da perseguição dos fiscais da Prefeitura. Sempre recomeçando, Senor estava tentando ganhar a vida de maneira honesta. Entretanto, como ocorre até os dias de hoje, viu suas coisas serem recolhidas por um fiscal carioca, só que naquele dia ocorreria algo diferente. Ao invés de ser preso aos 14 anos, o servidor o indicou indicado para participar de um concurso de formação de novos locutores na Rádio Guanabara.

“Quando ele me viu trabalhando, viu que eu tinha muito pouca idade, viu que eu falava regularmente, viu que eu era estudante, modificou seu pensamento a meu respeito. Ao invés de me levar para o Juizado de Menores deu-me um cartão para que eu fosse procurar um amigo dele na Rádio Guanabara, Jorge de Matos, dono do Café Globo. Eu fui à Rádio Guanabara e, por coincidência, lá estava se realizando um concurso de locutores, do qual participavam, naquele tempo, uns 300 candidatos”, disse Silvio na biografia A Fantástica História de Silvio Santos (2000), escrita por Arlindo Silva.

Apesar da pouca idade, sua desenvoltura com o microfone impressionou quem estava fazendo o julgamento. Consagrado como vencedor da competição, ali nascia a carreira de comunicador, frequentando os programas de auditório da rádio. “Fui o primeiro colocado nesse concurso e assim fui admitido como locutor”, relatou o apresentador. Dona Rebeca, orgulhosa do filho, chamava-o de Silvio, porque não gostava do nome dele de batismo, e ele passou a usar o sobrenome Santos. “Todos os santos ajudam”, teria dito o apresentador para amigos e familiares na época.

Em seu Show de Calouros no ano de 1988, Silvio Santos recebeu perguntas de telespectadores e em uma delas, explicou a origem do seu nome, chegando a se emocionar ao contar a história. "Eu sou o dom. O homem que me deu origem consertou as finanças de Portugal, depois foi chamado pelos reis católicos para a Espanha, era o Dom Isaac Abravanel. Consertou as finanças da Espanha, depois quando chegou a Inquisição, os reis disseram: 'você fica e o seu povo judeu vai'. Ele falou: 'não, o povo judeu vai e eu vou junto'. E foi para Salônica, na Grécia, e de lá então o meu pai e meu avô tiveram o título de Senor Dom Abravanel", disse, com a voz embargada.

"Aqui no Brasil não existe Dom, o título que meus antepassados ganharam no ano de 1490 e quantos. O Dom Isaac Abravanel foi um dos que deu dinheiro para que o Colombo viesse descobrir a América. Então disseram para o meu pai: 'Não, que Dom, Dom é frescura, não tem cura'. Então ele colocou Senor, que quer dizer Dom Abravanel", concluiu Silvio.

A influência da juventude

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Mas vamos voltar para o tempo em que ele era jovem. O primeiro período dele na rádio durou apenas um mês, porque o cachê era muito pouco. Oras, a rádio até tinha seu glamour, mas o apresentador nunca escondeu que seu desejo era ajudar seus familiares e ter uma boa condição financeira para realizar seus sonhos e desejos. O fiscal saía para almoçar e ficava longe das ruas durante 45 minutos. Era nesse curto tempo que fazia uma quantidade surpreendente de dinheiro, muito mais do que as cinco horas que ficava na rádio.

Se antes seu programa predileto era ir ao cinema, após trabalhar no rádio, Silvio passou a frequentar os auditórios e assistia aos programas de Heber de Boscoli. O apresentador foi o principal influenciador de Abravanel. “Aquele bate-papo que o Heber deBoscoli tinha com o auditório é praticamente o bate-papo que hoje eu tenho com o auditório”, revelou o dono do SBT.

A infância e adolescência de Silvio se misturam com seu início profissional. A gana pelo trabalho o fez perder momentos com seus amigos, entretanto, ele nunca escondeu que se divertia ao vender seus produtos como camelo e, principalmente, em se comunicar com as pessoas.


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