Opinião

Bella Campos tropeça em Vale Tudo, mas não é o desastre que pintam

A construção de uma carreira sólida, especialmente na dramaturgia, não depende apenas de oportunidade, mas de aprimoramento constante


Bella Campos como Maria de Fátima na novela Vale Tudo
Bella Campos é uma das protagonistas de Vale Tudo - Foto: Reprodução/Globo

Desde que foi anunciada como Maria de Fátima no remake de Vale TudoBella Campos tem sido alvo de uma série de críticas, muitas das quais ultrapassam sua atuação na novela e recaem sobre aspectos de sua vida pessoal.

Comentários que envolvem comportamentos fora da televisão têm sido frequentemente confundidos com sua performance na trama, em um movimento que ignora a separação entre pessoa e personagem. Não se trata aqui de julgar o que é ou não verdade sobre sua vida pessoal, apenas de reconhecer que suposições só podem ser confirmadas por quem convive com ela.

Com menos de cinco anos de carreira, Bella é uma atriz em início de trajetória. É natural, portanto, que cometa equívocos. Ser uma atriz em formação não é sinônimo de incompetência.

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A história da televisão brasileira mostra que nomes como Adriana Esteves, Juliana Paes e Fernanda Vasconcellos também enfrentaram rejeição no início de suas carreiras. Em comum, elas tinham potencial, dedicação e, com o tempo, conquistaram o respeito do público e da crítica.

Hoje, são nomes estabelecidos — não por terem surgido prontas, mas porque estudaram, ganharam experiência e aprimoraram os recursos que sempre estiveram presentes.

No caso de Bella, seu desempenho em Vale Tudo apresenta falhas claras. A dicção irregular e a entonação pouco modulada da voz comprometem parte de sua entrega. Ainda assim, é perceptível que seu principal recurso interpretativo está no olhar e na condução vocal — elementos que, se bem trabalhados, podem se tornar sua marca registrada.

É um estilo diferente do de atrizes como Adriana Esteves ou Lilia Cabral, conhecidas por suas expressões intensas e domínio pleno de cena. Bella está em outro caminho, mais próximo, inclusive, da técnica sutil e silenciosa de Gloria Pires — embora seja desproporcional compará-las. Gloria é uma intérprete raríssima, com talento nato e trajetória consolidada. Bella ainda está em fase de construção.

Por isso, é precipitado taxar sua atuação como um fracasso absoluto. Apesar dos tropeços, ela demonstra presença cênica e uma leitura compreensiva da personagem. Maria de Fátima é uma figura difícil de sustentar em cena: movida por ambição, dissimulada, cínica.

Interpretá-la exige camadas que Bella ainda está aprendendo a desenvolver — e só com o tempo, estudo e novas experiências ela conseguirá alcançar todo o potencial que já demonstra ter.

O que falta à atriz é bagagem. Investir em formações contínuas, participar de peças de teatro, fazer cinema, séries e minisséries pode ajudá-la a explorar registros mais diversos e ganhar a segurança necessária para enfrentar grandes papéis.

A construção de uma carreira sólida, especialmente na dramaturgia, não depende apenas de oportunidade, mas de aprimoramento constante.

A maior crítica deve cair nas costas de quem decidiu colocá-la como Maria de Fátima, sabendo que ela necessitava de mais tempo para sustentar uma vilã icônica da TV brasileira. Mas, sem nenhuma explicação, há figuras que são ignoradas ou até mesmo protegidas. Inclusive, bom pontuar, há atuações muito piores do que de Bella Campos e que pouco se fala por serem nomes consagrados.

Bella erra em Vale Tudo, mas passa longe de ser o desastre que parte da crítica tenta fazer parecer. É uma atriz em desenvolvimento, com falhas, sim, mas também com pontos fortes e muito espaço para crescimento. É preciso reconhecer o direito de errar que todos os artistas iniciantes têm — e permitir que o tempo faça seu trabalho.

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