Com bom texto, direção inteligente e ótimo elenco, Dona de Mim erra e não é uma boa novela
Dona de Mim tem quase todos os ingredientes de uma boa novela, mas falta o principal

Publicado em 18/06/2025 às 20:29,
atualizado em 18/06/2025 às 20:29
Nesta quarta-feira (18), foi exibido o 44º capítulo de Dona de Mim, no horário das sete da Globo. Embora a trama ainda tenha menos de 25% de sua obra apresentada, já é possível perceber que o texto, assinado por Rosane Svartman, é de alta qualidade. A direção inteligente de Allan Fiterman e o elenco em sintonia, com nomes como Tony Ramos, Claudia Abreu e a revelação Clara Moneke, também são pontos fortes da produção. No entanto, o que se vê na tela não configura uma boa novela.
Quem acompanha o formato com olhar mais atento sabe que uma produção de qualidade depende de alguns ingredientes essenciais. Embora o texto, a direção e o elenco estejam presentes, falta o principal elemento: uma estrutura narrativa sólida. Mantendo a analogia culinária, é como se Dona de Mim não tivesse o formato adequado, e, por isso, o "bolo" não cresce.
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O grande equívoco de Svartman na construção da sinopse, e da Globo ao aprová-la, é não perceber que a trama carece de uma história central. Falta uma linha narrativa clara, ou, em termos mais técnicos, a trajetória do herói. Os dramas de Leona (Clara Moneke) são legítimos, intensos e apropriados para um folhetim. Contudo, um drama só faz sentido se apresentar um arco narrativo, o que não ocorre aqui.
Se a autora ou a emissora realizassem uma pesquisa com os telespectadores perguntando: "Qual é o objetivo da protagonista da novela?", as respostas provavelmente seriam as mais diversas, pois não há clareza sobre o rumo da personagem principal — e isso é um problema grave.
Apesar de bem escrita, com cenas inteligentes e boas construções, Dona de Mim não possui uma trajetória definida, o que dificulta qualquer defesa da novela. Uma novela precisa ter começo, meio e fim bem delineados, de modo que cada acontecimento desencadeie uma consequência que, por sua vez, gere novos conflitos.
Mesmo com personagens bem dirigidos e interpretados, eles parecem soltos, sem um sonho ou motivação clara. Tudo é muito subjetivo e subliminar, sem revelar de fato as intenções de quem está em cena. Um exemplo emblemático é Filipa, personagem de Claudia Abreu, que é um retrato do principal problema da novela das sete.
Claudia Abreu brilha na interpretação, dada a complexidade da personagem. No entanto, nem a própria Filipa sabe o que deseja para o futuro, tampouco o público. Não há um objetivo, um segredo ou mistério que a sustente. Tudo soa como uma sofisticação vazia, ocupando espaço por falta de algo mais substancial.
Ainda é cedo, e Dona de Mim pode desenvolver uma história clara para sua protagonista e outros personagens. Mas, até o momento, trata-se de um desperdício do talento da autora, do elenco competente, do diretor criativo e, principalmente, do tempo do público.