Atuação da Semana: Bruno Gagliasso mostra para o mundo o talento que tem
Ator constrói personagem recheado de camadas numa série complexa
Publicado em 18/09/2022 às 08:59
Quando Bruno Gagliasso anunciou que não continuaria na Globo muita gente se perguntou o que seria da carreira dele. Pouco depois, ao ser confirmado como contratado exclusivo da Netflix, as dúvidas persistiram, afinal, ninguém o via com o intuito de uma carreira internacional. Agora, com a estreia de Santo, o artista transfere para mundo todo o talento que o brasileiro já havia se acostumado a assistir diariamente.
A produção da Netflix, que se passa parte no Brasil e parte na Espanha não tenta descobrir a pólvora, ao contrário. É mais uma série de investigação policial como se encontra milhares por aí. O ritmo narrativo não chega a ser um deslumbre, mas a boa história chama a atenção porque prende a atenção do espectador do início ao fim. A onda de mistério, o "quem é o vilão" e a sequência de cenas fortes ou mortes chocantes são elementos colocados propositalmente para garantir que quem vê continue no próximo capítulo.
São apenas seis episódios e Santo não faz milagre. É uma boa série, mas nada além disso. A tirar pelo conteúdo, muita gente poderia torcer o nariz e dizer que Gagliasso errou ao trocar a Globo por mais uma produção como existem tantas iguais. Só que o ator soube agarrar a chance internacional. Como o policial federal que investiga o vilão, ele foge do estereótipo de mocinho e compõe um personagem denso, sombrio e obstinado.
É bem verdade que, em alguns momentos, os trejeitos de personagens inesquecíveis da trajetória dele em novelas se fazem presentes. Mais de uma vez o telespectador mais atento enxerga Tarso, de Caminho das Índias (2009). Também é possível notar os trejeitos de Inácio, visto em Celebridade (2003). Em sequências mais exigentes em que Bruno brilha por seu talento de expressão também não dá para ignorar as semelhanças com o vilão Edu, da série Dupla Identidade (2014).
Mas isso não é demérito. Assim como diversos atores e atrizes possuem marcas de interpretação, Bruno não é diferente. Ele é acostumado a entregar performances viscerais, daí as características semelhantes. E dessa vez não é diferente, sempre com a mesma intensidade. Quem o vê em Santo percebe tratar-se de um ator em chamas, em alguns momentos as labaredas chegam a lamber o teto, quase passando do ponto, mas logo ele se controla e toma as rédeas da situação.
Quem busca a série que vai destronar Succession do topo, Santo não é a sugestão. Mas quem quer acompanhar uma produção caprichada, com história de tirar o fôlego, mas que entrega apenas arroz com feijão, a refeição é válida. E para quem está com saudades de Bruno Gagliasso fazendo o que faz de melhor, brilhar, a série vira fundamental.
