Com morte de Madeleine, Pantanal perde chance de promover "virada" da personagem
Na primeira versão da novela, a ideia do autor Benedito Ruy Barbosa era manter a ricaça viva e "transformada" após acidente de avião
Publicado em 08/05/2022 às 08:57
Protagonista da primeira fase de Pantanal, Madeleine (Bruna Linzmeyer/Karine Teles) é uma personagem que perde força no decorrer da história. Foi assim em 1990, quando a trama foi ao ar na Manchete, e tem sido assim no remake da Globo. Mesmo coadjuvante, a intempestiva ricaça segue como uma das figuras mais interessantes do folhetim, servindo de bom contraponto ao núcleo rural. Infelizmente, ao que tudo indica, a dondoca não chega viva até o fim da novela.
O autor Bruno Luperi, que faz a adaptação do texto original escrito por seu avô, Benedito Ruy Barbosa, deve manter a trajetória de Madeleine como foi ao ar em 1990: a carioca parte para o Pantanal em busca do filho e morre em um acidente de avião. Só que essa não era a intenção do novelista para a personagem na sinopse da trama; foi, na verdade, a saída para um impasse com a atriz Ítala Nandi, que deu vida ao papel na primeira versão.
De acordo com o site Teledramaturgia e com o livro Novela, a Obra Aberta e Seus Problemas, do jornalista Fábio Costa, Benedito havia reservado uma transformação no perfil de Madeleine: ela sobreviveria à queda do avião no Pantanal e viveria um bom tempo perdida na região após ser salva pelo Velho do Rio (Cláudio Marzo na primeira novela; Osmar Prado agora), o que faria com que ela revisse as prioridades em sua vida.
Contudo, Madeleine acabou morrendo no acidente porque a intérprete, Ítala Nandi, pediu para sair da novela. Ela tinha intenção de se dedicar a um trabalho no cinema, e a morte da personagem foi a saída encontrada pelo autor para solucionar o impasse. O filme em que a atriz estava envolvida era Índia: O Caminho dos Deuses (1991), sobre lendas e tradições do país asiático. Em abril, Ítala relembrou o episódio em entrevista ao jornal Extra:
“Já fazia dois anos que eu havia mandado um roteiro para a embaixada da Índia no Brasil e aguardava a resposta. Acabou que meu pedido foi aceito e eu tinha que fazer meu documentário naquele ano. Deixei Pantanal para viajar e viver essa experiência que me modificou bastante. Foi a decisão mais difícil da minha vida. Foi duro demais. Estava amando fazer a novela. o Jayme Monjardim foi super compreensivo. Quem não compreendeu foi o autor, mas eu entendo ele também.”
Remake de Pantanal deveria ser a chance de reparar entrechos que não deram certo na primeira versão da novela
Uma das grandes vantagens de um remake é refazer entrechos das produções originais que não deram certo. Mesmo uma novela tão bem-sucedida como foi Pantanal teve seus tropeços, que podem ser “consertados” na adaptação. Ao ignorar a ideia inicial de Benedito para o destino da personagem podendo fazê-lo, Bruno Luperi e equipe parecem optar pelo caminho mais fácil, mas não o mais interessante.
Muito haveria de ser alterado no texto original se Madeleine, que deixa a história na metade, seguisse nela até o fim. Muito também seria o ganho para a trama, já que o arco da personagem, tensionada ao máximo ao ficar perdida no Pantanal, daria bons momentos à novela. Como uma influenciadora digital reagiria após uma situação como essa, de vida ou morte?
Na certa, o plot também faria brilhar intensamente a talentosa Karine Teles, que tem tido pouca sorte para exibir na TV como é boa de serviço. Saindo de cena cedo e sem alcançar nenhum momento de grande destaque na narrativa, não será desta vez que uma novela garantirá à atriz a chance de mostrar, por completo, toda a sua versatilidade, já tantas vezes comprovada no cinema.