O Agente Secreto faz ode ao cinema e ao Recife em um filme de subtextos
Espectador deve esperar longa menos expositivo e catártico que Bacurau, último trabalho de ficção do diretor Kleber Mendonça Filho
Publicado em 06/11/2025 às 05:00,
atualizado em 06/11/2025 às 16:56
O Agente Secreto chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (6) cercado de grandes expectativas – e não são poucas as razões. Após a boa recepção em festivais pelo mundo, foi o escolhido para representar o Brasil no Oscar após a vitória de Ainda Estou Aqui como melhor filme internacional. Marca também a parceria de Wagner Moura com o cultuado diretor Kleber Mendonça Filho.
Ambientado no Recife dos anos 1970, o longa-metragem acompanha o professor Marcelo (Wagner Moura), que se muda para a cidade em pleno Carnaval, com a intenção de recomeçar sua vida, aparentemente fugindo de seu passado. Ele encontra refúgio em uma comunidade que abriga pessoas perseguidas em meio à insegurança do período da ditadura militar.
O elenco também tem Alice Carvalho, Gabriel Leone, Maria Fernanda Cândido, Hermila Guedes, Thomas Aquino, Isabél Zuaa, Udo Kier e Tânia Maria, entre outros nomes.
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Quem acompanha os trabalhos de Kleber Mendonça Filho tende a esperar um filme catártico e expositivo como Bacurau (2019), o último longa de ficção do diretor. A sinopse, o trailer e os materiais de divulgação apontam esse caminho, mas aí vai um aviso: é melhor diminuir o entusiasmo.
O Agente Secreto não é tão inventivo nem explícito em seus discursos. Apesar do suspense constante que mantém o interesse do espectador – mesmo sem um ritmo efusivo, suas 2 horas e 40 minutos parecem passar rapidamente –, o forte está no subtexto, naquilo que não é mostrado, mas sugerido.
Deixar tanto de seu potencial para as entrelinhas é uma opção que flerta com a frustração do grande público. O espectador tende a assistir a um filme com tal premissa à espera de um grande acontecimento, de uma comoção, que, neste caso, nunca vem.
Uma reviravolta nos momentos finais não é mostrada em cena, mas informada ao espectador em um recorte de jornal. Um recurso interessante, que joga com a torcida do público, imprime certa dubiedade e permite percepções diferentes sobre o destino do protagonista.
A sequência final, por outro lado, é batida, pouco criativa. Uma cena de ação não traz grandes sobressaltos, e um novo personagem se apresenta para concluir a história – outro recurso dispensável. A tensão construída até o desfecho se dilui, então, em um anticlímax.
Conta a favor de O Agente Secreto a ode que faz ao cinema, presente nos momentos decisivos do enredo. Há metalinguagem, com referências a filmes de gênero, e um tubarão é elemento recorrente ao longo da história – do animal que ronda as praias do Recife ao terror clássico de 1975.
Do currículo do cineasta, há no novo filme menos de Bacurau e mais do documentário Retratos Fantasmas (2023). A última cena reforça a crítica do diretor à extinção das salas de exibição pelo país.
O filme também é uma bonita homenagem ao Recife, terra do diretor e frequente em sua filmografia. Resgata a cidade nos anos 1970, com uma irretocável reconstituição de época, e faz menções à cultura e ao noticiário local – com a lenda urbana da perna cabeluda e o caso do menino Miguel, de 2020.
Em seu subtexto, O Agente Secreto fala da violência no período da ditadura militar, com reflexos nas relações sociais que perduram na atualidade. É sobre memória, registro, identidade e, sobretudo, sobre o Brasil de ontem e hoje – mas seria mais efetivo se sublinhasse em cena tudo aquilo que tem a dizer.
Assista ao trailer do filme O Agente Secreto:
