Entrevista exclusiva

Animador de Irmão do Jorel avalia sucesso da série produzida pelo Cartoon Network

Zé Fernandes detalha as funções do profissional da animação e o mercado no Brasil


Zé Fernandes na mesa de trabalho
Zé Fernandes é animador de Irmão do Jorel - Divulgação

Criado por Juliano Enrico, Irmão do Jorel é a primeira animação original do Cartoon Network feita no Brasil e na América Latina. Estreou em 22 de setembro de 2014, um ano depois do previsto, totalizando 26 episódios. Atualmente, o canal exibe a quarta temporada toda quarta-feira, no horário das 17h45.

Foi desenvolvido originalmente em 2002 no formato de história em quadrinhos, e publicada na revista Quase. Em 2009, seu criador se inscreveu em um concurso do Cartoon Network para a produção de um piloto da série animada.

Em 2012, Irmão do Jorel faturou um prêmio de US$ 20 mil durante o Fórum Brasil de Televisão. O episódio piloto foi desenvolvido em parceria com o Copa Studio, localizado no Rio de Janeiro, atualmente responsável pela produção executiva da atração.

Animador de Irmão do Jorel avalia sucesso da série produzida pelo Cartoon Network

Para sua exibição no Cartoon Network, canal voltado para o público infantil, a série precisou sofrer algumas alterações no visual e design dos personagens, com traços mais adequados e evoluídos.

Vencedora do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro como Melhor Série Brasileira de Animação, em 2019, e indicada ao Prêmio Emmy Kids Internacional, no mesmo ano, Irmão do Jorel atualmente pode ser visto, também, na TV Cultura.

O NaTelinha conversou com exclusividade com Zé Fernandes, animador do Copa Studio. Formado em publicidade e propaganda, o profissional de 38 anos fala sobre o sucesso de Irmão do Jorel e o mercado da animação aqui no Brasil, entre outros assuntos. Confira!

O Copa Studio é responsável pela Co-produção do Irmão do Jorel em parceria com o Cartoon Network e a TV Quase. Como funciona essa parceria? O que vocês fazem?

Zé Fernandes - O Copa cuida de toda a parte visual do projeto. Desde o conceito artístico dos personagens, passando por storyboards, cenários, animação, até a pós-produção. A gente se envolve também com roteiro, músicas e gravação das vozes, mas isso é feito fora do estúdio, com outras empresas parceiras.

Irmão do Jorel conta a história de um menino muito tímido, sem nome, que é conhecido apenas como irmão do Jorel. Você acha que exista muitos "irmãos do Jorel" por aí? O que acha de mais bacana no desenho?

Zé Fernandes - Acho que o irmão do Jorel é tão querido pelo público por que todos nós conseguimos nos identificar com algum ou todos os personagens da série. Quando a gente assiste um desenho americano, eles brincam na neve, tem dia de ação de graças, Helloween. A gente não tem nada disso. Mas no irmão do Jorel, eles vão na festa junina, passam o dia na praia, empinam pipa, festejam carnaval, coisas que todos nós já fizemos. Isso cria uma identificação muito forte. Fora todas as pequenas referências que a gente adora colocar escondidas (ou na cara mesmo) de coisas do nosso cotidiano. Acho que cada um de nós tem um pouco de Irmão do Jorel e, com sorte, um pouco da Lara também.

Você é animador. O que faz exatamente no Copa Studio?

Zé Fernandes - A gente hoje trabalha 100% digital. Então, os programas que usamos para animar ajudam muito e aceleram o trabalho, se você for comparar como era feito há 30 anos atrás. Mas eu sempre digo que, se fosse só apertar um botão, não existiria a profissão de animador. O computador é só uma ferramenta. Eu ainda tenho que colocar o personagem nas poses e garantir que ele faça o movimento da forma correta, no tempo correto, e que fique o mais bonito e engraçado possível. Sempre respeitando o que o roteiro e o diretor pediram. Atualmente, eu estou supervisionando um projeto de animação. Então, acabo não animando tanto quanto antes.

Além de Irmão do Jorel, quais produções mais vocês fazem?

Zé Fernandes -  As séries Tromba Trem, Historietas Assombradas (para crianças malcriadas), As Microaventuras de Tito e Muda, Ico Bit Zip, Giga Blaster e Tuiga. Além de longas metragens de Historietas Assombradas e de Tromba Trem. Fazemos também serviços de animação para outros estúdios, inclusive, internacionais. Um desses, foi uma boa parte do longa metragem My Little Pony. Foi bem desafiador de fazer, mas muito legal de ver nossos nomes nos créditos no cinema.

Estamos tão acostumados com desenhos e filmes de animação estrangeiros que fica difícil visualizar produtos nacionais. Na sua opinião, como está o mercado da animação aqui no Brasil?

Zé Fernandes -  Veio bem aquecido nos últimos tempos com muitas produções nacionais. A Pandemia e diminuição de investimentos em cultura no atual governo impactaram na nossa área. Por outro lado, as empresas estão cada vez mais se adequando ao regime de trabalho remoto, o que tem permitido que animadores brasileiros sejam contratados por estúdios de fora do país, bem como esses estúdios contratem serviços de animação das empresas brasileiras. Não é o ideal, já que temos mais do que capacidade de produzir conteúdo original de muita qualidade, mas para isso é preciso incentivo financeiro.

Quais atribuições tem um animador? Um profissional dessa área pode trabalhar com o quê?

Animador de Irmão do Jorel avalia sucesso da série produzida pelo Cartoon Network

Zé Fernandes - Em um estúdio de animação, o animador é apenas um dos profissionais responsáveis por fazer uma série. A pessoa pode ser Roteirista, Produtor, Storyboarder, Designer de personagem, Cenarista, Rigger, Programador, Editor, Composição e efeitos e, é claro, animador. Esse último, tem que seguir as indicações do storyboard e do Diretor, interpretando as falas e ações dos personagens, usando os princípios de animação, para deixar os movimentos da cena interessantes.

Os filmes da Pixar trouxeram outra visão do cinema de animação. Até então, a gente só tinha como referência os clássicos da Disney. De uns anos pra cá, houve um crescimento das produções live-action. Você acredita que esse leque pode abrir ainda mais? Ou seja, surgir novidades no mercado da animação?

Zé Fernandes -  Eu prefiro as animações mais clássicas (eu sou velho rs), mas não vejo problema em versões live-action. Se você não gostar da nova versão, a antiga ainda vai estar lá para você reassistir. Até alguns anos atrás, estávamos fixados no esquema TV e cinema. Agora, as empresas de streaming cada vez mais lançam produções direto para seus catálogos e podemos assistir em qualquer aparelho, até no celular. Acho que muita coisa ainda pode sair por essa mídia.

Pra finalizar, qual conselho você daria para quem deseja ingressar nessa área? O Copa Studio oferece cursos, né?

Zé Fernandes - Qualquer um que queira trabalhar com arte comercialmente precisa entender que é um trabalho. Além de saber desenhar, o animador deve ser um bom profissional, ser responsável, humilde e saber trabalhar em equipe. O Copa possui uma parceria com o Estúdio Escola de Animação, curso gratuito focado na formação de novos animadores para o mercado de trabalho, com equipe composta por profissionais atuantes. Eu, inclusive, sou um dos professores já pelo terceiro ano. A edição 2020 foi toda online e a de 2021 vai ser também. Os alunos, depois de 5 meses de curso, adquirem todas as capacidades para começarem suas carreiras na área, além de um curta-metragem produzido por cada turma, que é inscrito em vários festivais. As inscrições para edição deste ano já encerraram, mas é só ficar ligado nas redes sociais do projeto e não perder a próxima chance.

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