Canal Like exibe programa especial em homenagem a Zé do Caixão
Publicado em 22/02/2020 às 11:55
O cineasta José Mojica Marins, popularmente conhecido como Zé do Caixão, faleceu na última quarta-feira (19), aos 83 anos. Ícone do cinema de terror, Mojica dedicou sua vida ao gênero e tornou-se referência no Brasil e no exterior nas décadas de 1960 e 1970. Ao longo da carreira, dirigiu mais de 40 filmes e atuou em mais de 50 produções. Como ator, protagonizou filmes como “À Meia-Noite Levarei Sua Alma” (1964), “Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver” (1967) e “Encarnação do Demônio” (2008), entre outros clássicos do horror nacional.
Para homenagear um dos diretores mais relevantes do cinema nacional, o Canal Like (530 da Net/Claro) vai reexibir no sábado (22), à meia-noite, o programa “Listas”, gravado em 2018, no qual indica longas inesquecíveis do mestre do terror. A atração também poderá ser vista na íntegra no YouTube do Like.
Hugo Bonemer e Maytê Piragibe contam que, aos 12 anos, Mojica ganhou uma câmera, juntou os amigos, e realizou o seu primeiro filme, sobre invasão extraterrestre. Engana-se quem pensa que o cineasta começou a carreira com longas de terror. Seus dois primeiros filmes foram dos gêneros faroeste e religioso. Até a noite em que ele teve um pesadelo e sonhou que um homem de capa preta e cartola o arrastava para o próprio túmulo. Mojica conta que acordou em pânico e perdeu o sono, mas anotou tudo. Logo o personagem ganhou o nome de Josefel Zanatas - o Zé do Caixão.
Em 1964, lançou “À Meia-Noite Levarei Sua Alma”. O longa introduz o universo do coveiro sádico e cruel, de unhas enormes, temido e odiado pelos moradores do vilarejo. Zé do Caixão pretende gerar um filho perfeito para dar continuidade ao seu sangue, mas a esposa não consegue engravidar. Na busca pela mulher ideal, ele é capaz de matar qualquer um que atrapalhar os seus planos. Ele violenta a mulher do amigo e a moça, enfurecida, planeja se suicidar, voltar do mundo dos mortos e levar a alma do Zé do Caixão.
As filmagens duraram três semanas e uma parte foi bancada com a arrecadação dos alunos da escolha de interpretação do Mojica. O cineasta tinha uma escola de atores, de onde ele escolhia o elenco para os filmes que produzia. “À Meia-Noite Levarei Sua Alma” fez um sucesso enorme e a criatura ficou tão famosa que passou a se confundir com o criador. Para todos os efeitos, José Mojica Marins virou definitivamente o Zé do Caixão.
Em 1967, foi lançada a continuação “Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver”. Nessa sequência, Zé do Caixão aprimora as suas maldades e fica ainda mais sádico. A busca da mulher ideal continua. Ele rapta seis jovens, que passam por sessões de tortura. Zé do Caixão acaba assassinando uma moça grávida, a população se revolta e resolve matar o coveiro.
Mojica gostava de chamar suas obras de fitas, e “Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver” é a sua fita campeã de popularidade. Foi filmada em preto e branco, com exceção da sequência colorida do inferno de gelo que causou sensação. Porém, teve problemas com a censura do Regime Militar e precisou mudar o final do roteiro. Em vez de reafirmar o seu ateísmo, Zé do Caixão passou a fazer um discurso temente a Deus.
O próximo filme da lista sofreu vários cortes e até hoje foi exibido apenas nos festivais e em sessões especiais. “O Despertar da Besta” também é conhecido como “Ritual de Sádicos”. A história começa em preto e branco, num programa de televisão onde o Doutor Sérgio apresenta sua tese maluca. Ele acredita que as perversões sexuais são causadas pelo consumo de droga e usa quatro voluntários como cobaia.
Mojica aparece nesse momento como outro psiquiatra convidado do programa, especialista em depravação. Doutor Sérgio é contestado pelos colegas de profissão e resolve fazer um experimento. Os quatro viciados são colocados de frente para o cartaz de “O Estranho Mundo de Zé do Caixão”, uma compilação de três contos do terror que Mojica lançou em 1968. Nesse momento, a película fica colorida e a imagem do Zé do Caixão desperta os delírios e perversões de cada um.
Em “Delírios de um Anormal”, de 1978, Mojica volta a ter um psiquiatria como personagem principal. Doutor Hamílton é aterrorizado por pesadelos em que o Zé do Caixão tenta roubar a sua esposa. Adivinhem para quem ele vai pedir ajuda? Para José Mojica Marins, que tenta fazer Hamílton entender que Zé do Caixão não existe, é pura ficção.
O diretor voltou ao set de filmagem depois de trinta anos afastado, para rodar “Encarnação do Demônio”, de 2008. O longa forma uma trilogia macabra junto com “À Meia-Noite Levarei Sua Alma” e “Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver”.