Vai na Fé revoluciona novelas fazendo o óbvio: abrindo espaço para o brasileiro
Trama foi a mais brasileira das novelas nos últimos tempos
Publicado em 11/08/2023 às 05:45,
atualizado em 11/08/2023 às 09:57
Quando Vai na Fé estreou na Globo, a grande expectativa do público e crítica era entender como a autora Rosane Svartman pretendia inserir uma mocinha evangélica em uma produção de dramaturgia. Com o último capítulo indo ao ar nesta sexta-feira (11), a produção conseguiu não apenas cumprir à risca o objetivo como foi além e revolucionou as novelas com uma estratégia óbvia: colocar o Brasil na tela.
Todo grande fenômeno tem algo em comum na história da dramaturgia brasileira: elas representam o Brasil de uma época. Vai na Fé arriscou ao apresentar uma história solar e cheia de otimismo, não importa o tamanho da luta e até necessidade, sempre com uma visão de que tudo daria certo no final.
O plano foi ousado porque o Brasil viveu tempos muito conturbados. Seja na polarização política em que o ódio marcou até famílias, seja na crise econômica ou na pandemia em que milhares morreram e outros milhões sofreram com as sequelas da Covid-19. Como ser otimista com um cenário desses? Rosane apostou que a partir de 2023 o brasileiro passaria a enxergar a vida com outros olhos, com a visão de "sobrevivi e posso comemorar" e deu certo.
Num momento em que todo cidadão quer voltar a curtir a vida sem medo da morte e aproveitar mais com amigos e familiares, Vai na Fé representou este povo. Sol (Sheron Menezzes) é a personificação de cada pessoa que não tem medo de enfrentar o trabalho e as durezas da vida, além de sobrar tempo para sonhar e buscar um objetivo maior.
Foi assim que a autora conseguiu convencer o telespectador de que tudo era possível ao que crê, parafraseando a Bíblia. A mocinha evangélica virou alegoria porque é a religião do momento e, possivelmente a mais otimista entre todas, funcionando como uma luva para esta história.
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Mas Vai na Fé também foi além e mostrou pessoas reais. A mesma Sol, talvez interpretada por Deborah Secco, não teria o mesmo apelo. Sheron é a típica brasileira. Preta, favelada e evangélica. Era impossível não se ver em tela num país tão miscigenado. Um tiro certeiro.
A pergunta que deve ficar a partir de agora é: por que a Globo demorou tanto para colocar a população periférica de verdade nas novelas? Por que os negros demoraram tanto para serem tão bem representados? Quando fizeram, o sucesso chegou a galope. E pode muito mais.