Opinião

Atuação da Semana: Tony Ramos brinda o público com vilão perfeito em Terra e Paixão

Ator da banho de versatilidade e talento ao construir um antagonista humano


Tony Ramos como Antônio La Selva em Terra e Paixão
Tony Ramos brilha como Antônio La Selva - Foto: Reprodução/Globoplay
Por Daniel César

Publicado em 30/07/2023 às 11:55,
atualizado em 30/07/2023 às 12:36

Antônio La Selva faz atrocidades desde que o mundo é mundo. Ao menos é assim que a trama de Terra e Paixão desenha o antagonista. As maldades se acumulam e são tantas que o fazem parecer uma caricatura da maldade, uma espécie de malvado de desenhos infantis. Se um personagem assim tem credibilidade dentro de uma novela, ele se deve ao talento de quem o interpreta e não é diferente na novela das nove da Globo. Tony Ramos acerta em cheio e salva uma história que seria fadado ao distanciamento do público.

Se um personagem é inteiramente mau, e não no sentido de fazer maldades apenas, mas em ser a personificação da ojeriza à bondade, ele não é humanizado. Normalmente personagens assim são vistos em tramas ricas no melodrama, como novelas mexicanas ou em desenhos infantis. O texto de Antônio La Selva lembra o de João Seboso, o vilãozinho do Pica-Pau ou a referência poderia ser o Esqueleto, em He Man.

Walcyr Carrasco é adepto de arquétipos em suas obras e costuma não dosar o tom quando escreve. As tintas carregadas aparecem em cada referência em que o objetivo é desumanizar o vilão e transformar o mocinho quase num ser angelical de perfeição. É um estilo - e também usado em outras obras pelo mundo afora, goste-se ou não.

Normalmente, antagonistas assim causam sentimentos de repulsa do público a ponto de torcerem contra do início ao fim. Mas é uma estratégia porque envolve o telespectador que, fica na espera para ver o dia em que finalmente o vilão irá se ferrar. 

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Tony Ramos em Terra e Paixão

Este é o escopo do patriarca da novela das nove. Mas Tony Ramos mudou completamente a construção narrativa ao dar vida a Antônio. Com sua experiência, o ator sabia que arquétipos não permitem variações de interpretação e acabam ficando tão retos em sua trajetória que, em algum momento, podem perder o sentido ou a força. Por isso mesmo é que um artista desse quilate costuma rejeitar papéis assim.

Tony não precisa rejeitar porque ele sabe como adequar. O texto mostra um Antônio desumano, frio e que só pensa em fazer o mal a outros, porém, a interpretação do ator dá tamanha vida e sagacidade, seja no ponto de respiração, seja no olhar ferino ou até mesmo nos raros momentos de emoção em que se torna impossível enxergar a força do mal apenas ali dentro.

Nas sequências mais recentes da produção, com o personagem indo parar atrás das grades, o ator percebeu um prato cheio para brilhar. Foi sagaz em sequências em que mostra seu poderio e ódio, mas sutil ao mostrar traços de um homem infeliz e humilhado.

Se Antônio parece um homem amargurado pelas próprias escolhas isso não está no texto. Se o La Selva demonstra amores condicionais, mas amores, não é o texto. Tudo no vilão é milimetricamente pensado por um ator que é tão grande que consegue dar a volta até em um novelista tarimbado e fugir do estereótipo para abraçar a complexidade. Tony Ramos arrasa como Antônio La Selva.

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