Opinião

Os Outros foge do estereótipo e se inspira no cinema de violência

Nova série do Globoplay faz o público mergulhar nas incertezas do destino


Cena de Os Outros
Os Outros faz sucesso no Globoplay - Foto: Reprodução/Globoplay
Por Daniel César

Publicado em 08/06/2023 às 07:43,
atualizado em 08/06/2023 às 10:35

Novela é um investimento no folhetim ou no melodrama. Já as séries são formatos em constante evolução e trilham os mais diversos caminhos. Apostar em uma história caótica em que tudo está sempre por um fio e este fio é retirado, promovendo um apocalipse sem um único vilão ou uma única mocinha é uma estratégia recorrente. É exatamente isso que se vê na nova produção original do Globoplay, Os Outros.

Com um elenco de craques, encabeçado por Adriana Esteves, a série criada por Lucas Paraizo com direção artística de Luísa Lima acompanha a vida de duas famílias, vizinhas de condomínio, mas que não se conhecem e que têm a vida virada do avesso após um episódio comum: uma briga de adolescentes. A partir daí, o que se acompanha é uma sucessão de violência e fúria gratuita por todos os lados.

A violência como forma estética não é novidade na arte. Pulp Fiction (1994) e Laranja Mecânica (1971) são dois exemplos de como explorar o ódio humano como fonte da existência sempre funciona quando bem feito. Os Outros bebe da mesma fonte desses dois filmes e de outro, mais recente, que chocou e encantou o mundo: Parasita (2019). O denso e feroz filme coreano, aliás, foi a inspiração para a produção brasileira, segundo já revelou o criador.

O Globoplay ainda engatinha e a produção de séries é quase amadora no Brasil, já que os grandes investimentos sempre foram nas novelas. Os três primeiros episódios, porém, mostram que é possível fazer o formato de modo competente e fugindo dos estereótipos das novelas. Não porque nosso principal modelo artístico seja ruim ou de baixa qualidade, mas porque ele já está consagrado e é preciso investir em novos olhares.

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Ainda é cedo para cravar que Os Outros será uma grande série. Faltam nove episódios para o fim da temporada. Mas já se pode observar que há uma história bem contada e bem dirigida. O elenco também se mostra equilibrado e com grande entrega. O destaque aqui, além da própria Adriana Esteves, é para o ótimo Milhem Cortaz, que mergulha profundamente no personagem e entrega uma interpretação quase chocante.

Após o decepcionante final de Todas as Flores, dias após o mundo se curvar em reverência pelo memorável final de Succession, que entrou para o panteão das grandes séries da história, o Globoplay está devendo para seu assinante. Os Outros pode suprir a baixa qualidade da novela de João Emanuel Carneiro, principalmente porque a plataforma vem em crescente quando a aposta é em séries.

A cada novo ano mais o serviço entrega histórias interessantes. Seja com Aruanas, seja com As Filhas de Eva, ou mesmo com Onde Está Meu Coração. Os Outros, ao menos nesse primeiro momento, é melhor que todas elas e a grande produção do Globoplay em sua curta existência.

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