Opinião

Atuação da Semana: Glória Pires constrói vilã apocalíptica e merece menção na Bíblia

Atriz da vida a Irene e compôs uma personagem rara de se encontrar


Glória Pires em cena de Terra e Paixão
Glória Pires vive a própria serpente do Éden em Terra e Paixão - Foto: Reprodução/Globoplay

Glória Pires é uma das maiores atrizes do Brasil e a afirmação não causa nenhuma polêmica ou controvérsia. Mesmo sem precisar dar provas, ela novamente mostra porque a profissão é tão valorizada artisticamente, já que produz efeitos emotivos que só nomes como ela são capazes de fazer com o telespectador. 

Em Terra e Paixão, Glória dá vida a Irene e, a tirar todos os costumeiros problemas de texto que todas as novelas de Walcyr Carrasco apresentam, é completamente diferente de tudo o que ela já fez. Não pela criação do autor ou pelo desenho da direção, que está nas mãos de Luiz Henrique Rios, porém pelo minucioso trabalho de composição em que a atriz quis fugir de todos os estereótipos.

Não é fácil interpretar uma vilã de novela das nove, para Glória Pires a dificuldade aumenta em alguns graus. Sempre que um personagem complexo é apresentado a ela, automaticamente cai na comparação com a icônica Maria de Fátima, de Vale Tudo (1988). Embora em outra faixa horária, ela também entregou o que, para muita gente é a maior interpretação feminina de todos os tempos em Mulheres de Areia (1993), com as gêmeas Ruth, a boa, e Raquel, a má.

Para construir mais uma vilã, Glória quis fugir de tudo isso, inclusive de Norma, a antagonista de Insensato Coração (2011). Restavam poucas opções: entrar no tom pastelão que o texto de Walcyr permite e que alguns nomes do elenco mergulham tão bem, como Tatá Werneck, irrepreensível até agora, ou fazer a sonsa, personagem mais difícil da TV no mundo e que nunca se viu numa vilã da TV brasileira.

Irene não é apenas dissimulada, ela é sonsa. E não há traço disso no texto, é tudo composição solo de uma atriz em estado de graça. Glória dá o tom perfeito para o texto, falando quase em tom de sussurro, praticamente uma súplica em que envenena todos os ouvintes. Se a intenção do autor era fazer uma personagem má, a vilã de Glória Pires vai muito além porque não é apenas isso: ela é uma perfeita cobra.

A referência a serpente é pelo motivo óbvio. Terra e Paixão tem um quê importante de inspiração na Bíblia. Caio (Cauã Reymond) e Daniel (Johnny Massaro) vivem uma eterna rivalidade entre irmãos, no melhor estilo Caim e Abel e até a morte vai acontecer. Neste contexto, Irene não pode ser Eva, mas ela é o animal peçonhento que não faz nada de errado, mas induz todos ao pecado. Difícil saber se Glória Pires pensou na Bíblia para compor a personagem, embora o resultado seja apocalíptico e mereça até menção na nova versão do livro sagrado. 

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