Travessia virou um novelão, mas ninguém está preparado para esta conversa
Novela teve uma virada, mudou os rumos e chegou ao nível esperado
Publicado em 06/04/2023 às 04:15,
atualizado em 06/04/2023 às 09:53
A novela Travessia teve uma virada nos últimos 30 capítulos e se transformou em outra produção. Desde que a autora Glória Perez decidiu explorar os núcleos paralelos e investir em crimes praticados pela internet, o folhetim ganhou ares de romance policial, ficou eletrizante e conta com personagens marcantes. Ainda assim, a trama continua cancelada por parte da crítica e das redes sociais, dessa vez sem nenhuma justificativa que faça sentido, senão pura perseguição.
Quando Travessia foi lançada, bem antes da estreia, o público sabia qual era a base: os perigos da internet. O fato de Brisa (Lucy Alves) ser acusada de fake news, assunto que não durou nem 10 capítulos direito, não atraiu os telespectadores e rapidamente ficou para trás na trama. Por conta disso, a novela passou a andar em círculos com um sem número de histórias desinteressantes e todas as críticas eram válidas.
Mas Glória Perez virou o jogo ao explorar crimes diferentes no ambiente virtual. Ao abolir a bobagem de fake news com Brisa, do robô garçom e apostar em pedofilia virtual, com direito a estupro pela internet, no vício em games e até em organização secreta utilizando a web para rastrear e perseguir Helô (Giovanna Antonelli) e Stênio (Alexandre Nero), Travessia ganhou elementos atrativos dentro de um folhetim e um thriller dos melhores.
A promessa feita pela emissora e pela autora está sendo cumprida à risca e, como fez em outras obras, Glória consegue chamar a atenção e chocar o telespectador, como na sequência forte em que o pedófilo se assume para a vítima e deixa a jovem refém de suas atitudes, fazendo tudo o que ele manda com medo da exposição de fotos íntimas. O mesmo acontece com o vício em jogos, que já tem até definição de doença e tratamento.
Mesmo com as sequências eletrizantes chamando a atenção, Travessia continua sendo tratada como "a pior novela de todos os tempos", e isso perdeu o sentido. Se todos esses núcleos, soltos, são alvos de elogios é porque a trama teve a virada necessária e virou um novelão, mas o telespectador não parece preparado para esta conversa.
É bem verdade que o núcleo central não funciona, principalmente dentro do tema principal. Embora a ideia de transformar Ari (Chay Suede) numa espécie de Robin Hood contemporâneo deu um charme novo para a a história, ela não carrega a força necessária para chamar a atenção do público. Mesmo com Chay e Lucy Alves indo muito bem, a trama não é atrativa e os dois protagonistas não são carismáticos.
Porém, uma novela não se sustenta só pelo núcleo central e é possível citar várias obras que se mantiveram com muito elogio e audiência com base em personagens coadjuvantes. Travessia fez seu papel e cresceu em audiência após as mudanças, porém ninguém parece querer assumir, ainda que todo mundo esteja assistindo a entrada da reta final.
Glória Perez já sofreu outros cancelamentos e perseguições, como aconteceu em Salve Jorge (2013) e até no início de América (2005). Ela é experiente e sabe lidar com as críticas públicas, mas em Travessia todas elas eram mais do que justas. Eram. Passado. Agora, virou pura perseguição.