Manoel Carlos revolucionou novelas na Globo
Autor criou um estilo próprio e que quase todo fã do formato reconhece
Publicado em 24/02/2023 às 05:00,
atualizado em 24/02/2023 às 09:28
Manoel Carlos, que completa 90 anos em 2023, passou boa parte da vida trabalhando na Globo, embora não tenha iniciado sua trajetória lá e muito menos como autor de novelas. Seu debute como escritor na emissora carioca se deu tardiamente, em 1978 e de lá pra cá foram 45 anos em que ele ditou moda e mudou o conceito de telenovelas, imprimindo um estilo tão próprio que qualquer pessoa consegue reconhecer, mesmo que quase ninguém tenha o talento de copiar.
No fim dos anos 70, Maneco escreveu para a Globo Maria, Maria, sua primeira trama como novelista do canal. No mesmo ano, ele ainda seria o responsável por um grande sucesso, A Sucessora, que volta no Viva, em comemorações ao aniversário do escritor.
Desde sempre o autor imprimiu um jeito diferente de escrever novelas. Enquanto outros autores apostavam no humor ácido, no pastelão ou mesmo no dramalhão, Maneco buscou se tornar mais sofisticado. Com o tempo, o estilo foi ganhando contornos fortes e um mesmo cenário: o Leblon, além de uma protagonista recorrente: as Helenas, que tinham muito em comum.
Se o público terá a chance de rever A Sucessora, quase de onde tudo nasceu, o telespectador mais atento reconhece uma produção do novelista de longe. Isso porque ele foi adquirindo uma espécie de talento natural para recontar histórias semelhantes, mas muito diferentes entre si e com a mesma magnitude de sempre. O encantamento que ele produzia por conta de personagens carismáticos aparece em quase toda a sua obra.
É bem verdade que foram anos de estrada até garantir o merecido reconhecimento. Apenas nos anos 90, Manoel Carlos virou sinônimo de sucesso de medalhão na Globo. Antes disso, ele escreveu História de Amor (1995), que o fez mudar a chave e garantiu que ele se tornasse autor do horário mais cobiçado, o que aconteceria pouco depois com Por Amor (1997).
Esta, aliás, traz a primeira lembrança icônica do público por conta de uma história revolucionária. Que mocinha iria trocar os bebês num hospital e entregar seu próprio filho vivo, substituindo o morto, de sua filha, para protegê-la? Como essa pessoa seria tratada como mocinha? Maneco conseguiu com sua Helena (Regina Duarte).
Não satisfeito, ele foi além e mostrou mais uma poderosa Helena (Vera Fischer), anos depois com Laços de Família (2000). A mulher forte que abre mão de tudo para cuidar da filha, até do grande amor da vida ao engravidar de um ex a fim de tentar salvar a herdeira da morte certa, caiu nas graças do público.
Manoel Carlos ainda encantou o Brasil outras vezes com Mulheres Apaixonadas (2003) e Páginas da Vida (2006), até cair em desgraça com a audiência. O ritmo frenético das séries afastou o público mais jovem de Viver a Vida (2009) e de Em Família (2013), seu último trabalho inédito. Mesmo assim, todo o charme de sua obra estava ali.
Quem assiste uma produção assinada por Maneco sabe que verá alguma cena icônica e que vai ocupar o imaginário popular. Seja com a revelação da troca de bebês ou com uma personagem raspando a cabeça. Pode ser também um acidente de carro ou um assassinato no trânsito ou quem sabe uma mocinha sendo estapeada enquanto está de joelhos. Tudo dá o que falar.
Com 90 anos, Maneco é um dos maiores autores das novelas brasileiras e ninguém conseguiu copiar ou se inspirar em seu estilo, embora muitos tentassem. As crônicas da classe média carioca não morrerão com ele pelo simples fatos de que suas obras são tão atemporais que podem ser reprisadas constantemente que serão sempre sucesso de público e crítica.