Opinião

Copa mascara momento delicado da Globo com novelas

Emissora vive mais do que crise de audiência, vive uma crise de identidade


Cena de Travessia, uma das novelas da Globo
Globo enfrenta crise séria nas novelas - Foto: Reprodução/Globoplay
Por Daniel César

Publicado em 09/12/2022 às 04:15,
atualizado em 09/12/2022 às 09:54

A Globo vive um momento único quando o assunto é audiência e repercussão: a Copa do Mundo 2022. Por causa disso ou apesar da competição é que ninguém parece notar que a emissora carioca enfrenta uma grave crise em seu principal formato: as telenovelas. Se as três faixas da programação enfrentam problemas de Ibope, não se trata deste o principal problema, mas é a falta de identidade que preocupa.

Embora Mar do Sertão tenha conseguido segurar a atenção do telespectador e garantiu repercussão por mais tempo que suas coirmãs, Cara e Coragem e Travessia, mesmo ela não é e nunca foi a trama que instiga o telespectador tal qual Pantanal fez em boa parte de 2022. A novela das seis sofre do mesmo mal de toda obra assinada por Mário Teixeira: não tem história suficiente para vários capítulos e perde o fôlego a partir da terceira semana.

Tanto Cara e Coragem, possivelmente a pior novela das sete em muito tempo, quanto Travessia, que mostra um acúmulo de decisões erradas de Glória Perez e de Mauro Mendonça Filho, têm seus problemas individualizados e que seriam dignas de análise. Porém, este texto não é para apontar falhas das novelas, mas contextualizar a falta de identidade das tramas da Globo, o que é muito mais grave.

Nos três horários de produções inéditas, quem acompanha parece ver apenas cenas de mais uma novela comum e que não entrega nada demais. Não há surpresa, não há procura artística ou qualquer traço de tentativa para produzir arte. Depois do que se mostrou um oásis, Pantanal, a emissora voltou ao que acontece nos últimos 10 anos: todas as tramas parecem uma eterna continuação da antecessora e não sai do lugar.

É bem verdade que duas das três produções não foram aprovadas pela atual gestão. Mar do Sertão e Cara e Coragem entraram na fila antes da pandemia, quando o departamento era comandado por Silvio de Abreu. O ex-autor e atual executivo sempre impôs um estilo peculiar: não importa o horário ou se uma novela está no começo, é sempre a mesma coisa sem nenhuma mudança. 

Mas isso não serve de desculpa para José Luiz Villamarim e sua equipe. O novo diretor do setor teve tempo o bastante para adaptar as sinopses a seu estilo e buscar algum resultado. Ele conseguiu impor sua vontade na novela das seis e em Travessia, de mostrar na tela o Brasil para todos os brasileiros. É dele a ordem que todos os autores devem buscar histórias do interior do país.

Ainda assim, se a ideia é fazer produções em vários estados e regiões, Villamarim precisa avisar os novelistas de que é preciso arriscar e colocar na tela a realidade daquela região. Tanto Travessia quanto Mar do Sertão se passam em locais específicos, mas poderiam acontecer num bairro de São Paulo ou do Rio de Janeiro, tamanha a falta de identidade visual e de roteiro.

Com o alto índice de audiência da Copa, a Globo consegue mascarar que vive uma crise de identidade sem precedentes em suas novelas. É verdade que a gestão de Silvio de Abreu tirou praticamente todo e qualquer novelista da emissora, mas já passa da hora da dupla Villamarim e Ricardo Waddington solucionar o problema ou o público pode abandonar de vez o formato.  

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