Pantanal: Destaque no original, Filó míngua e vira mera coadjuvante no remake
Cozinheira vivida por Jussara Freire marcou primeira versão da novela; agora, é Maria Bruaca quem rouba cena
Publicado em 09/06/2022 às 06:13,
atualizado em 09/06/2022 às 21:25
Há 32 anos, não teve para ninguém: Jussara Freire fez a limpa nas premiações de TV, levando para a casa os principais prêmios de melhor atriz em 1990. O reconhecimento foi pelo papel de Filó na primeira versão de Pantanal, personagem que retornou ao vídeo no remake da Globo na pele de Dira Paes. Sem a mesma força mostrada no original da Manchete, a cozinheira minguou e virou mera coadjuvante na adaptação.
No Troféu Imprensa de 1991, Jussara Freire desbancou Aracy Balabanian e Regina Duarte, que tiveram – em Rainha da Sucata (1990), como Dona Armênia e Maria do Carmo, respectivamente – duas das personagens mais marcantes da história das novelas. O júri, contudo, ressaltou o brilho que a intérprete de Filó empregou a Pantanal, dividindo o posto de destaque da trama com Juma Marruá (Cristiana Oliveira). O mesmo ocorreu, naquele ano, na APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte).
Havia, então, uma expectativa de que a "nova Filó" repetisse a dose. Não à toa, Dira Paes é o segundo nome na abertura do remake, atrás apenas do protagonista Marcos Palmeira. O que se vê é, na verdade, o caminho oposto, já que a personagem original foi alçada ao posto de protagonista, mas nasceu como uma coadjuvante – o nome de Jussara Freire era o décimo a aparecer na listagem do elenco na abertura da primeira versão.
O êxito da primeira Filó, em grande parte, se deveu ao carisma e à competência de Jussara Freire. O que explica que Filó não alcance a mesma repercussão agora, vivida por Dira Paes? A atriz também já deu reiteradas provas de seu talento, criando tipos marcantes e bastante variados em A Diarista (2004), Caminho das Índias (2009), Salve Jorge (2013), Amores Roubados (2014), dentre tantos outros trabalhos na televisão.
Público de Pantanal elegeu Maria Bruaca como destaque da vez
Há, para começar, uma diferença na composição das atrizes. A Filó de Jussara Freire era solar, mais simpática. A de Dira Paes aparece sempre às voltas com os problemas na casa de José Leôncio (Marcos Palmeira), sem chamar para si a atenção do telespectador. Curioso que a mesma personagem, na primeira fase da trama, quando vivida pela novata Letícia Salles, conseguiu dominar parte da ação, conquistando elogios para a intérprete.
A resposta, então, talvez não esteja na trama – que praticamente replica o texto da primeira versão, com poucas alterações –, tampouco no talento das atrizes. O público pode ser o principal responsável por a personagem não alcançar o destaque de outrora; não é a mesma a forma como enxergamos a pantaneira abnegada em seu amor por um homem que ora parece seu marido, ora seu amante, ora seu patrão.
Uma pista de que pode ser mesmo essa a principal justificativa para o “declínio” de Filó está em outra personagem: Maria Bruaca. Apesar de ter alcançado notoriedade quando vivida por Ângela Leal em 1990, a dona de casa faz muito mais sucesso hoje, defendida por Isabel Teixeira. Seu arco dramático ao descobrir a traição do marido e se rebelar contra a violência psicológica praticada por ele, encanta o público de 2022.
Em três décadas, a audiência parece ter mudado sua visão sobre o lugar da mulher em um relacionamento amoroso. Hoje, há uma comoção maior em torno da personagem que se revolta contra as humilhações do marido, do que de outra que aceita passivamente um lugar de submissão – ainda que não sofra uma violência moral explícita como a primeira.
Se o remake continuar seguindo à risca o texto original, Filó não terá o turning point de Maria Bruaca e deve chegar ao fim da história como está agora: sem dizer a que veio.
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